Vendas de carros zero-quilômetro devem ficar 10% menores neste ano

As vendas de automóveis e comerciais leves zero-quilômetros no País, neste ano, devem ficar 10,5% menores em relação ao comercializado em 2014, projeta a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Se confirmada a estimativa, 2015 terá ritmo pior do que no ano passado, quando houve retração de 7,1% nos licenciamentos dessas categorias de veículos.
 
A previsão – revisada, já que em janeiro a entidade estimava queda de apenas 0,5% –, leva em conta o cenário da economia até agora, com inflação elevada, juros altos, pessimismo crescente do consumidor e restrições dos bancos para liberação de crédito. Esses fatores, segundo o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, contribuíram para que, em fevereiro, a comercialização de carros (178,8 mil) caísse 26,7% em relação a janeiro e 27,3% ante fevereiro de 2013. No primeiro bimestre, o total emplacado (422,7 mil) foi 22,5% menor do que em igual período do ano passado. Esse volume foi o pior dos últimos cinco anos. Ele afirma que, de cada dez fichas de solicitação de financiamento, os bancos estão aprovando só três. “Os bancos estão seletivos e falta ânimo para a população brasileira ir às compras”, diz o presidente do Sincodiv-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo), Octavio Vallejo. E os resultados fracos fizeram os estoques de carros atingir 55 dias (somando pátios de fábrica e de lojas). “É três vezes mais que o ideal”, diz o presidente da Fenabrave.
 
A recente lei da Retomada do Bem, que facilitou para os bancos a recuperação do veículo em caso de não pagamento (em novos contratos) não surtiu efeito ainda. “Para dar resultado, é preciso vender”, cita o consultor automotivo Julian Semple, da Carcon Automotive. Além disso, para o presidente da Fenabrave, a nova norma precisa de tempo de maturação e os efeitos só devem ser sentidos em 2016. “É preciso um histórico, para os bancos ampliarem o volume disponibilizado de crédito”, diz Assumpção Júnior.
 
A menor disposição dos consumidores em entrar em financiamentos refletiu não só nas vendas menores, mas também no menor fluxo de público às lojas. “A procura tem sido pequena”, diz Christian Buttner, gerente de concessionária Chevrolet em Santo André. Os revendedores esperam agora que, passado o Carnaval, o ano comece. Para isso, há montadoras que preparam campanhas promocionais para tentar tirar as vendas do patamar atual.
 
Setor de caminhões tem queda de 50% em fevereiro
Se as vendas de automóveis e comerciais leves novos no primeiro bimestre foram ruins, para o setor de caminhões o resultado foi péssimo. Em fevereiro, o segmento comercializou apenas 5.171 unidades, 32,6% menos que em janeiro e 50% menos que no segundo mês de 2014. Esse é o resultado mensal mais fraco dos últimos 20 anos. E no primeiro bimestre, foram emplacadas 12.848 unidades desses veículos, 39% menos que em igual período do ano passado – pior volume vendido desde 2005.
 
Para o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, se a economia não cresce, isso impacta diretamente na atividade.
 
Há ainda apreensão em relação à disponibilidade de recursos por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a linha PSI-Finame, voltada para o financiamento de caminhões, ônibus e máquinas com juros reduzidos para este ano. Essa é a principal forma de financiamento utilizada pelos compradores de veículos pesados. No ano passado, o banco desembolsou R$ 190 bilhões, e, neste ano, pode não ultrapassar R$ 130 bilhões. E, para piorar, os juros passaram de 6% para 9,5% ao ano.