Rodovias têm poucas opções para descanso de caminhoneiros

O Conselho Nacional de Trânsito decidiu dar mais tempo para os caminhoneiros de todo o Brasil se adaptarem à nova lei que determina como deve ser o descanso no intervalo das viagens. Até 11 de setembro, a fiscalização vai apenas orientar os motoristas, sem multa. Os repórteres José Roberto Burnier e Marcelo Benincassa mostram qual é a situação numa das principais rodovias federais do Brasil, a que liga São Paulo ao sul do país.
 
Três meses em vigor e a lei já gerou polêmica. Rodovias bloqueadas pelo Brasil afora prejudicando muita gente que nada tinha a ver com o assunto. A regulamentação estabelece uma pausa de 30 minutos a cada quatro horas de viagem e 11 horas de descanso por dia.
 
Caminhoneiros que ganham por entrega não concordam.
 
“Aumenta óleo diesel, aumenta pedágio e diminui carga horária. Você vai rodar menos, você vai faturar menos. Mas você tem suas contas pra pagar, prestação do caminhão, seguro, pneu, manutenção”, avalia o caminhoneiro Alexandre Demarchi.
 
“Eu ganho por viagem, comissão. Se eu andar, eu ganho; se eu não andar, eu não ganho”, afirma o caminhoneiro Denilson Oliveira,
 
De passagem pelo Brasil, caminhoneiros chilenos nos contaram que lá a lei está em vigor há dois anos.
 
“A lei é boa. Trabalhamos cinco horas, paramos duas e trabalhamos mais cinco. Aí descansamos por oito horas”, conta um deles. “Nós nos adaptamos. Com a lei ficou melhor porque a gente pode descansar”.
 
Um posto de gasolina na beira da Régis Bittencourt, rodovia federal que liga São Paulo a Curitiba, tem um pátio de 30 mil metros quadrados que comporta até 200 caminhões. Também tem restaurante, banheiro com chuveiro e até um pequeno hotel. E uma das reclamações dos caminhoneiros é que nas estradas pelo Brasil afora há poucos locais como esse, com uma infraestrutura suficiente e segura para que o caminhoneiro possa descansar.
 
Mesmo quando há postos, é preciso achar vaga e ainda virar cliente.
 
“Se ele quiser pagar para dormir aqui no pátio ele não pode. Nós não recebemos, não cobramos por dormida, ele tem que consumir no posto”, explica o Daniel de Almeida, gerente do posto.
 
“Do Piauí até aqui não tem onde parar, não tem. Pode ir até o Rio Grande do Sul, não tem onde parar”, diz o caminhoneiro Gilmar Strenske.
 
A equipe de reportagem pegou carona com um caminhoneiro em um trecho do percurso para conferir as condições para os caminhoneiros pararem.
 
Na próxima quarta-feira, um grupo criado pelo Ministério do Trabalho vai se reunir com representantes dos caminhoneiros para analisar todos os pontos da lei que regulamenta a jornada de trabalho. O grupo tem 30 dias para apresentar uma nova proposta.