Próximo leilão de rodovias deve ter concorrência acirrada

O governo pode ficar tranquilo em relação ao primeiro leilão de rodovias federais deste ano. De todos os nove lotes do pacote, os dois que vão a licitação em setembro são os que mais atraem a iniciativa privada e, por isso, têm potencial de disputa entre os concorrentes.

O "filé-mignon" do pacote é o trecho da BR-262 que começa em Minas Gerais e chega próximo ao litoral do Espírito Santo. São apenas 375,6 km de rodovia, a menor extensão de todo o programa federal. Além disso, o montante a ser investido pelo vencedor do leilão também é o mais baixo dentre os lotes com números já divulgados.

A EcoRodovias é vista como a principal concorrente dessa estrada. Isso porque a companhia conquistou, no último leilão, o trecho da BR-101 que cruza o Espírito Santo de Norte a Sul. Conquistar outro projeto na região criará a chamada "sinergia" – nesse caso, entendida como a economia nos custos de operação (por exemplo, usando um mesmo centro de controle de tráfego para duas estradas). A BR-262 é prioridade para a companhia, que vai disputar "dois ou três" trechos de todo o pacote – segundo o presidente da empresa, Marcelino Rafart de Seras.

Quem pode estragar os planos da EcoRodovias é a Arteris (ex- OHL Brasil), que também tem a seu favor a "sinergia". A empresa tem hoje a concessão da rodovia Fernão Dias (BR- 381), que liga Contagem (MG), próxima à capital mineira, a Guarulhos (SP), na Região Metropolitana de São Paulo. A concessão é ligada ao pacote que irá a leilão.

Até o início do ano, a Arteris informava que a prioridade era direcionar investimentos às rodovias atuais. Mas isso mudou. Francisco Reynés, diretor-presidente da Abertis – nova controladora dos ativos -, disse ao Valor recentemente que a companhia se interessa por novas concessões no Brasil e que as atenções estariam voltadas às oportunidades que exigissem baixo investimento – como é o caso da BR-262. A antiga OHL Brasil era agressiva em leilões. Levou cinco de sete rodovias leiloadas em 2007 e chegou ao terceiro lugar na disputa pelo aeroporto de Brasília, em 2011. Pela falta de histórico no país, é difícil saber qual será o apetite da nova controladora.

O outro lote a ser disputado é um trecho da BR-050, com extensão de 436,6 km, que começa em Goiás e cruza as cidades de Uberlândia e Uberaba, em Minas Gerais – região conhecida como triângulo mineiro e cujas rodovias estão próximas ao limite da capacidade devido ao forte volume de tráfego.

Em termos de "sinergia", a BRVias, das famílias Beldi e Constantino – esta, dona da Gol Linhas Aéreas -, leva vantagem. A empresa, por meio da subsidiária Transbrasiliana, opera o trecho de 321,6 km que se estende da divisa entre São Paulo e Minas à divisa de São Paulo com o Paraná. A concessão foi vencida em 2007, no leilão que ficou marcado por ofertas agressivas.
Outra empresa que pode ter apetite é a AB Concessões, joint venture entre o grupo italiano Atlantia e o Bertin. Melhor vista do que o grupo brasileiro sozinho, a companhia tem conseguido captar recursos no mercado com mais facilidade. Neste ano foram R$ 2,7 bilhões em debêntures.

Além dessas empresas, estudam todo o pacote companhias especializadas em rodovias como CCR, Invepar e Odebrecht Transport. Mas as empresas têm queixas sobre outros lotes do programa de concessões. O volume de tráfego em algumas rodovias está sendo até 28% superestimado pelo governo, dizem executivos. E a exigência de celeridade de investimentos, em parte dos casos, é considerada exagerada pelas empresas. O governo cedeu em alguns pontos, mas a iniciativa privada continua criticando principalmente as rodovias licitadas em Mato Grosso do Sul.