Produção volta a subir e Anfavea revê meta

Depois de perder força entre junho e julho, a produção da indústria automobilística voltou a subir e ficar acima de 340 mil veículos no mês passado, refletindo o melhor agosto da história para as exportações e a forte atividade nas fábricas de caminhões.

No total, 340,5 mil veículos – entre carros, utilitários leves, caminhões e ônibus – saíram das linhas de montagem em agosto, um volume que se aproximou dos resultados de abril e maio, os dois meses de produção mais forte deste ano, com 347,1 mil e 348,1 mil unidades, respectivamente.

Na comparação com julho, houve crescimento 9%. Em relação ao já forte volume de igual período do ano passado, quando 332,8 mil veículos foram produzidos, o crescimento foi de 2,3%. Contribuiu decisivamente para essa evolução na comparação anual a retomada da indústria de caminhões, cuja produção subiu 50,1% e alcançou 18,8 mil unidades no mês passado. Na mesma base de comparação, a produção de veículos leves – carros de passeio e comerciais pequenos – subiu apenas 0,5%.

No embalo de juros subsidiados a taxas abaixo da inflação nos financiamentos a bens de capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de compras feitas pelo governo, as montadoras de caminhões vão saindo do buraco que entraram no ano passado, período no qual a produção do setor caiu cerca de 40% com a introdução das linhas menos poluentes, porém, até 15% mais caras.

Além disso, as exportações – de 64,1 mil veículos, o melhor resultado para meses de agosto – compensaram a queda do consumo doméstico no mês passado. Os embarques, puxados pela demanda em mercados como Argentina e México, subiram quase 50% na comparação anual e 22,1% comparativamente a julho.

Os números foram divulgados ontem pela Anfavea, a entidade das montadoras instaladas no país, que também revisou suas previsões para este ano, melhorando os números para a produção, mas reduzindo a expectativa de vendas. Após o crescimento de 13,7% acumulado até agosto, a associação subiu de 4,5% para 11,9% a alta estimada na produção deste ano, o que, se confirmada, significará um volume recorde de 3,79 milhões de veículos.

Além da recuperação das exportações – onde a Anfavea prevê crescimento de 20% – e de um novo recorde no mercado doméstico, essa meta leva em conta a substituição de carros importados por nacionais. Diante de restrições impostas pelo governo, como cotas a veículos do México e sobretaxas a carros vindos de fora do Mercosul, as vendas de importados recuam 15,2% neste ano, enquanto as dos veículos produzidos no Brasil sobem 2,6%.

Na soma dos importados e dos nacionais, os emplacamentos de veículos novos no país inverteram a trajetória de crescimento e chegaram ao fim de agosto com uma queda de 1,2%, em valores acumulados desde janeiro. Ao anunciar o resultado, a Anfavea reduziu para a faixa de 1% a 2% a expectativa de crescimento em 2013, o que, ainda assim, significaria o décimo ano seguido de recorde nesse mercado. A previsão anterior era de um aumento de 3,5% a 4,5% nas vendas.

Apesar de analistas trabalharem com números mais conservadores – apontando, inclusive, a possibilidade de queda dos licenciamentos -, Moan citou a tendência de aquecimento das vendas até dezembro e indicadores como a queda na inadimplência, liberando a oferta de crédito, ao justificar a expectativa de novo crescimento do mercado. "São fatores e indicadores que nos levam a fazer essas projeções, que o mercado acha otimista. Mas nós achamos que é o mercado que está pessimista", disse.

Entidade critica proposta de maior proteção a autopeças – A Anfavea, que representa as montadoras instaladas no país, disse ontem que estranhou e discordou das críticas feitas pelo Sindipeças, a entidade dos fabricantes de componentes automotivos, aos estímulos preparados pelo governo à indústria de autopeças.

Luiz Moan, presidente da Anfavea, ainda criticou o pleito do Sindipeças por aumento nas alíquotas de importação de peças, ao dizer que a política de proteção aos fornecedores já foi feita quando o governo passou a sobretaxar carros importados, forçando a nacionalização dos veículos e, como consequência, a demanda por peças locais. "Não vejo nenhuma necessidade de subir o imposto de importação das autopeças", afirmou Moan durante entrevista coletiva à imprensa.

Ele acrescentou que a proteção aos fornecedores ainda será ampliada quando o governo começar a rastrear as peças utilizadas na produção dos veículos. Essa será a forma de medir o consumo de conteúdo local que vai gerar os descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) previstos no novo regime automotivo.

Na segunda-feira, o presidente do Sindipeças, Paulo Butori, afirmou que as propostas de incentivos apresentadas até o momento, como linhas de crédito especiais à modernização da indústria e apoio a inovação e desenvolvimento de redes de fornecedores, são "mais do mesmo". Ou seja, em sua opinião, não são novas e tampouco representam uma solução às dificuldades dessa indústria.
Butori ainda cobrou uma ampliação do programa de incentivos ao setor, batizado de Inovar-Autopeças, incluindo medidas como o refinanciamento da dívida tributária e a desoneração das exportações, além do aumento no imposto de importação de autopeças, de 16% para 30%.

A Anfavea, por outro lado, vê o Inovar-Autopeças como um dos pilares de uma política industrial que levará a indústria automobilística a um novo patamar de produção e competitividade. Moan disse que o erro do Sindipeças foi analisar o programa fora do contexto de um conjunto de medidas – já lançadas ou em discussão – de apoio à indústria, como políticas que privilegiam a produção local ou estimulam as exportações.

"Esse pacote [do Inovar-Autopeças] não pode ser analisado isoladamente", afirmou Moan, que disse ainda ter estranhado o posicionamento de Butori, ao lembrar que, desde o início, as medidas vêm sendo discutidas em conjunto entre governo, Anfavea e o próprio Sindipeças.