Parceira também na hora de identificar os gargalos

Estudos da CNI visam colaborar com o planejamento público para atender às demandas de cada região do país
 
A busca por competitividade entrou de vez na agenda da economia brasileira. Temas como inovação, logística, educação e treinamento de pessoal estão entre os desafios apontados em qualquer roda de empresários e executivos de empresas dos mais diversos portes e setores. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tomou a iniciativa de apontar soluções. Na área de transportes, contratou a consultoria Macrologística para elaborar, para cada região do país, um diagnóstico da demanda e um conjunto de soluções que podem servir como um guia para o planejamento público. O projeto Sul Competitivo detectou 177 obras necessárias, mas optou por resumir a proposta em 51 projetos prioritários, que exigirão investimentos de R$ 15,2 bilhões, capazes de proporcionar uma economia anual de R$ 3,4 bilhões em 2020. A CNI, diz seu presidente, Robson Braga de Andrade, busca agora mobilizar governos e a iniciativa privada para tirar o projeto do papel.
 
Como a precariedade logística impacta a competitividade da indústria brasileira?
A infraestrutura é crucial para a competitividade da indústria, especialmente numa conjuntura como a atual, de estreitamento dos mercados pela queda da demanda, provocada pela crise econômica internacional. As dificuldades de logística causadas por uma infraestrutura deficiente, como é a nossa, elevam custos e freiam os investimentos. Estudo recente da Fundação Dom Cabral mostra que as empresas brasileiras comprometem 13% de suas receitas com custo logístico, que alcança 12% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos Estados Unidos, essa participação é de 8% do PIB. Se o Brasil tivesse custos idênticos aos americanos, economizaríamos R$ 83,2 bilhões por ano. São recursos que as empresas poderiam investir, gerando mais produção e, em consequência, mais renda e emprego.
 
Como a qualidade logística impacta os investimentos?
Os gargalos da infraestrutura, que encarecem o produto final, fazem o empresário pensar duas vezes antes de investir, seja na ampliação de uma planta, seja na instalação de uma nova ou na criação de um produto. Isso é ruim para o país como um todo.
 
O PAC não tem sido suficiente para reduzir os gargalos?
O PAC é muito importante para o país. E o programa continua avançando, mas é preciso ressaltar que a velocidade dele não é suficiente para resolver todos os problemas logísticos. A burocracia e a gestão pública deficiente travam os avanços do programa. O Brasil investe só 2% do PIB em infraestrutura, um terço do que é aplicado na China e no Chile e metade do investido na índia. A malha de transporte deixa a desejar e provoca a elevação do custo do frete, além de impedir a competitividade da indústria. O estudo Competitividade Brasil 2010,    feito pela CNI, aponta que o Brasil ocupa a pior posição em relação à qualidade do transporte em um grupo de 14 países, entre os quais estão Chile, Argentina, Colômbia e México. Mas o governo vem anunciando medidas para amenizar este problema. O Programa de Investimentos em Logística se propõe a solucionar a situação das estradas federais e prevê a participação da iniciativa privada. Caminhamos para uma melhoria na infraestrutura de transporte que vai beneficiar o setor produtivo e a economia brasileiros.
 
Quais motivos levaram a CNI a investir em projetos de planejamento logístico como o desenvolvido pela Macrologística?
A CNI quer ser parceira do governo na hora de fazer os investimentos e também para identificar os gargalos de infraestrutura. Os projetos são um esforço do setor produtivo para mostrar os caminhos que devem ser priorizados em cada região. Lançamos os estudos das regiões Norte, Sul e Nordeste. No momento, estamos levantando os gargalos e os investimentos necessários para o Centro-Oeste. O objetivo é complementar o projeto do governo federal de ampliar o número de concessões.
 
Quais são os resultados do Norte Competitivo, lançado em 2011?
O Norte precisa de obras urgentes e algumas já começaram a ser feitas, como os terminais hidroviários de Miritituba, que estão em processo de licenciamento ambiental, e a BR-163, que está sendo pavimentada. O estudo levantou que é preciso investir R$ 13,8 bilhões em 73 projetos da região até 2020 para permitir o escoamento da produção. Este investimento se pagaria em menos de quatro anos em função da economia com custo logístico. A estimativa é de que anualmente os Estados da região gastem em torno de R$ 17 bilhões com logística, o que representa 7,5% do PIB local. No Norte, é grande a necessidade de investimentos nas hidrovias e nos portos. Do total, 59% devem ir para este fim.
Quais experiências do Norte Competitivo podem ser replicadas no Sul Competitivo?
Assim como no Norte, é importante integrar física e economicamente a malha de transporte dos três Estados do Sul aos Estados limítrofes e com os países que fazem fronteira. O Sul Competitivo buscou identificar e selecionar os sistemas logísticos de menor custo, voltados tanto para o mercado interno quanto para o comércio exterior. Na região Sul, identificamos a necessidade de investir R$ 15,2 bilhões até 2020 para recuperar oito eixos logísticos. Este investimento levaria pouco mais de quatro anos para dar retorno.
 
Como transformar as propostas em realidade?
Entreguei o projeto Sul Competitivo à presidente Dilma Rousseff para ajudar o governo no processo de identificação dos problemas da região, assim como fizemos com o estudo da região Norte. Vamos fazer o mesmo com o Nordeste Competitivo. Precisamos criar uma força-tarefa para alavancar a infra- estrutura brasileira. Para resolver os gargalos da infraestrutura, o país precisa investir, em vez dos 2% do PIB, no mínimo 5% todos os anos.
 
Qual é o papel da iniciativa privada nos investimentos necessários?
Queremos ser parceiros do governo na hora de fazer os investimentos e na gestão dos serviços. O Estado não tem condições de investir sozinho o quanto o país precisa, em tomo de 5% do PIB. Novas outorgas ao setor privado na área de infraestrutura, como prevê o Programa de Investimentos em Logística, são um caminho eficaz para que a economia brasileira dê um salto de qualidade. Com mais investimentos em infraestrutura e redução da tarifa de energia, podemos dar o salto necessário para não ficarmos lá atrás na competição com a concorrência.
 
Quais são os desdobramentos esperados para essas iniciativas?
Queremos criar uma força-tarefa formada por um grupo multidisciplinar, que vai elaborar e implementar um plano de ação conjunto, em estreita sintonia com os programas lançados e projetados pelo governo para ferrovias, rodovias, portos e aeroportos. A questão da infraestrutura se consolidou na agenda prioritária do governo e da iniciativa privada em 2012 e esperamos que continue até que as nossas deficiências sejam sanadas.
 
A CNI projeta investir em planos estratégicos em outras áreas?
A agenda da indústria confunde-se com a agenda do país ao defender e propor um ambiente melhor para os negócios. A melhoria da infraestrutura é um dos pilares da competitividade. Defendemos maior segurança jurídica, redução do peso da tributação nos investimentos, melhoria das condições de financiamento, flexibilização das relações de trabalho, aumento dos investimentos em educação, mais incentivos à inovação, redução da burocracia, fortalecimento das micro e pequenas empresas.