Pagamento eletrônico de pedágio atrai investidores

Depois da quebra do monopólio no pagamento eletrônico de pedágio no Estado de São Paulo – responsável por metade desse mercado no país – as negociações de aquisição envolvendo esse segmento se multiplicaram. Três operações foram iniciadas nos últimos meses e mais podem ocorrer em breve, com o surgimento de um novo concorrente.

A Move Mais, que está prestes a ser aprovada pela agência reguladora do Estado de São Paulo (Artesp), já está sendo procurada por possíveis acionistas – principalmente fundos de investimento, segundo Ailton Queiroga, presidente da empresa. "Já recebemos manifestações de interesse. Mas o que estamos focando nesse momento é em desenhar parcerias [operacionais]", diz ele, que espera entrar em operação em breve. Segundo a Artesp, não há prazo para o início de operação da Move Mais.

Além das conversas relacionadas à Move Mais, há outras operações acontecendo neste ano. A Raízen (joint venture entre Cosan e Shell) já comprou 10% da Serviços e Tecnologia de Pagamentos (STP), proprietária das marcas Sem Parar e Via Fácil, por R$ 250 milhões. A EcoRodovias ainda está negociando sua fatia remanescente de 11,4% na STP, segundo a Bloomberg, mas a empresa prefere não comentar.

Além disso, a FleetCor – operadora americana de vales combustível com receita líquida de US$ 707 milhões – deve anunciar nesta semana a conclusão da compra da fluminense DBTrans, proprietária do Auto Expresso. Os seus investimentos no segmento podem somar US$ 300 milhões, segundo a FleetCor. Ainda está sendo definida a porcentagem da compra, que pode atingir 100% da DBTrans.

Só a recém-criada ConectCar, de Odebrecht e Ultra, não prevê novos sócios. "A empresa está capitalizada. Não temos nenhuma previsão para isso", diz João Curmelato, presidente da ConectCar. Segundo ele, a prioridade no momento é expandir a rede para aproveitar o forte potencial de mercado, focando em um serviço de baixo custo. "Dos 42 milhões de veículos no país, só 10% do mercado tem 'tag' hoje", diz.

Curmelato ainda afirma que os novos concorrentes não assustam, pois cada um teria um nicho a explorar. "É um mercado caro, tem de ter investimento para atender milhões de usuários. A tendência é de consolidação", diz. A empresa vai investir R$ 150 milhões para instalar sua infraestrutura nas praças de pedágio, mas não revela os números já alcançados.

A movimentação de investidores surgiu depois que a STP, que atuava há 12 anos sozinha em São Paulo, começou a dividir o mercado com novas empresas. Isso ocorreu após a Artesp perceber a falta de regulamentação e abrir espaço para a entrada de novos concorrentes. Em outros Estados, a negociação é feita entre empresas e concessionárias – algumas acionistas da líder STP.

Sem a regulamentação, CCR, EcoRodovias e OHL Brasil (hoje Arteris) se juntaram na criação da operadora de pagamento eletrônico e cresceram no segmento. Oferecendo seus serviços ao usuário mediante cobrança de mensalidade e venda do "tag" (equipamento inserido no veículo), a STP alcançou resultados positivos. Em 2012, sua receita líquida foi de R$ 457 milhões e o lucro, de R$ 140 milhões. Isso gera uma margem líquida de 30,6%, superior ao do grupo CCR – maior acionista da STP -, que teve margem de 22,6% no mesmo período. Também é mais alta que a dos acionistas EcoRodovias (17,5%) e Arteris (12,9%). Além disso, a rentabilidade da STP (medida por lucro líquido sobre patrimônio líquido) é de 87,3%, a maior no setor de Transporte e Logística no ranking do Valor 1000. As margens na operação de pedágio eletrônico são um dos principais fatores que atraem investidores.

Além disso, há interesse no potencial de expansão do setor. Um projeto do governo federal tem como objetivo que todo veículo saia já de fábrica com o equipamento usado na leitura do pedágio eletrônico. O governo também está abrindo espaço para concorrência nas estradas federais, que hoje atuam somente com o STP. E há a expectativa de nos próximos anos implementar em algumas estradas o sistema ponto a ponto, em substituição às praças de pedágio. O novo sistema é visto como mais justo aos usuários, por cobrar do veículo só a distância percorrida.

Avaliada em R$ 2,5 bilhões – tendo como base os valores divulgados com a entrada da Raízen na sociedade -, a STP já tentava atrair investidores ao menos desde meados de 2011. Na época, divulgou uma nota sobre o assunto: "A STP reitera que existem propostas em avaliação de empresas que agregam valor com experiência em crédito, entre elas, as empresas administradoras de cartões".

Conforme o Valor havia apurado na época, a Cielo analisou a empresa e a Redecard chegou a apresentar uma proposta aos acionistas. Entretanto, as metas da empresa para virar uma operadora de crédito agora viraram uma incógnita. "Neste momento, a STP não está envolvida nas decisões a respeito desse assunto junto a seus acionistas", diz texto enviado por meio da assessoria de imprensa. No mercado, ainda não é clara a decisão que será tomada sobre esse assunto.