Muitos desembolsos não conseguem sair do papel

 É difícil precisar com exatidão a quantia necessária de investimento em logística para integrar um país com dimensões continentais como o Brasil, onde os esforços nesse sentido têm décadas de atraso. Diante da demanda crescente para aprimorar o transporte e a mobilidade, surge até mesmo a percepção de que esse imbróglio jamais será solucionado. E há razão para isso. Com a economia brasileira em ritmo lento, as vultosas cifras previstas para serem desembolsadas ficam à espera de definições legais, aquecimento do mercado ou liberação de licenças.

 

Diversos levantamentos apontam que se aproxima de R$ 1 trilhão o montante previsto em investimentos para suprir as necessidades mais urgentes de infraestrutura. Deste valor, calcula-se que entre 20% e 30% sejam destinados à logística. Realizados a partir de dados divulgados pelo governo e pela iniciativa privada, esses cálculos consideram projetos em diferentes fases de realização. Grande parte deles, contudo, ainda não saiu do papel. De acordo com o Itaú BBA, até 2018, as obras anunciadas devem envolver R$ 920 bilhões em investimentos. Segundo estudo da Sobratema, que tem metodologia um pouco diferente, os gastos podem chegar a R$ 1,2 trilhão até 2017, se incluírem também a construção de shoppings, escolas, hospitais, entre outros estabelecimentos de grande porte.

 

O estudo do Itaú mostra que transportes tem a segunda maior demanda por investimentos (R$ 200 bilhões), atrás do setor de óleo e gás. O montante envolve gastos em ferrovias, rodovias, aeroportos, portos e mobilidade urbana (não leva em conta o trem de alta velocidade). O valor inclui investimentos que já foram iniciados, como em quatro aeroportos concedidos recentemente (Guarulhos, Campinas, Brasília e São Gonçalo do Amarante). O levantamento feito pelo banco inclui projetos ainda não licitados – apenas 18% do Programa de Investimentos em Logística (PIL, o pacote de concessões) já foi a leilão.

 

De acordo com o Itaú BBA, somente em concessões são esperados R$ 385,8 bilhões entre este ano e 2017 pelo próprio governo, dos quais logística ficaria com 30%. O levantamento aponta ainda que, para financiar os projetos de logística, o BNDES desembolsou R$ 8,8 bilhões no ano passado e deve liberar R$ 10 bilhões neste ano.

 

A Associação Brasileira de Logística (Abralog) considera que valor semelhante aos R$ 200 bilhões previstos para os gastos nos próximos anos seja equivalente ao déficit de investimentos no setor. E há ainda outro dado que ratifica a retomada de investimentos na área: a relação do custo logístico em relação ao PIB interrompeu sua tendência de queda e voltou a subir, de R$ 391 bilhões (10,6% do PIB) em 2010 para R$ 507 bilhões (11,5% do PIB) em 2012.

 

"Sem dúvida alguma, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) contribuiu para um avanço importante na infraestrutura do país. Tanto que verificamos que, cinco anos antes da adoção do programa, tínhamos um gasto médio anual de R$ 5 bilhões e, passados cinco anos da implantação do PAC, a média anual de investimentos chegou a R$ 11 bilhões", afirma Wagner Cardoso, gerente-executivo de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

 

"O programa organizou investimentos, trouxe melhorias na questão da transparência e definiu a ação do governo a respeito do tema. Mas, como vários indicadores mostram que a demanda também aumentou muito, os efeitos positivos não são percebidos de forma tão positiva". Cardoso cita que o número de passageiros em aeroportos no Brasil tem crescido 11% ao ano, enquanto as ações haviam sido programadas para atender a uma demanda inferior.

 

Com o objetivo de tentar reduzir os degraus que ainda separam as ações de realização de obras de infraestrutura e as expectativas de satisfação da demanda do setor produtivo, a CNI desenvolveu o estudo 'Eixos logísticos: os projetos prioritários da indústria', que foi entregue aos candidatos à Presidência da República, propondo soluções logísticas e prioridades de investimento para quatro diferentes regiões brasileiras.

 

A ideia foi a de escolher os eixos logísticos que, aprimorados, possam contribuir mais para reduzir os custos do setor produtivo. "Por exemplo, propomos como prioridade os investimentos na BR 163 que permitiria o escoamento do milho e da soja por Marajó. Isso pode trazer uma economia de frete de 25% a 30%, com redução de cerca de mil quilômetros de trajeto de caminhão", diz Cardoso.

 

Outro ponto relevante a ser resolvido, aponta o executivo da CNI, é a finalização dos projetos previstos para os terminais portuários. "Uma coisa importante é que, com aprovação da nova Lei dos Portos, os marcos legais da infraestrutura brasileira estão resolvidos. Precisamos agora de execução", conclui.

 

Mario Humberto Marques, vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), acrescenta que, além da definição de prioridades para os gastos com logística, o país também precisa oferecer mais segurança aos investidores que se propõem a apostar no desenvolvimento da infraestrutura.

 

De acordo com a Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC), o Brasil caiu 20 posições no ranking de logística, segundo relatório do Banco Mundial. Atualmente, o país ocupa a 65ª posição, entre 159 países.