Montadoras apostam em efeito da Copa

Com o aumento dos juros, a acomodação da demanda nos últimos meses e o risco da retirada de estímulos a partir de janeiro, a indústria automobilística tem motivos para se preocupar com o cenário para as vendas de veículos no ano que vem. Mas, desde já, um ponto em comum anima tanto os fabricantes como as concessionárias: o efeito da Copa do Mundo no consumo de carros.

Para o setor, a renovação e a ampliação das frotas de táxis ou de locadoras – estas últimas responsáveis por quase 9% dos emplacamentos de automóveis – estarão entre os vetores de crescimento em 2014, junto com a expansão do consumo no interior do país, a substituição de carros nacionais por importados e a continuidade na recuperação das exportações.

O otimismo tem sido manifestado em declarações recentes de representantes da Anfavea, a entidade das montadoras, e da Fenabrave, associação que representa o setor de distribuição de veículos. À exemplo do que tradicionalmente acontece na indústria de televisores em anos de Copa, aguarda-se que o evento esportivo também incentive a aquisição de veículos em setores ligados à mobilidade de turistas.

"Teremos uma maior concentração de investimentos no transporte público e em frotas de táxi ou de empresas de locação de carros", aposta Luiz Moan, presidente da Anfavea.

Alguns analistas, contudo, estão menos entusiasmados e lembram que, mesmo considerando um aquecimento nas vendas para frotas, tal efeito tende a ser minimizado no varejo pela redução no fluxo de consumidores em concessionárias nos dias de jogos – sobretudo durante as partidas da seleção brasileira, quando muitas lojas provavelmente fecharão as portas.

"Só quem odeia futebol vai querer comprar carro quando o Brasil estiver jogando. Perdem-se alguns dias úteis. Então, o efeito da Copa nos resultados da indústria no ano que vem deve ser bem marginal", avalia Milad Kalume Neto, analista da consultoria Jato Dynamics, ao abordar o possível impacto negativo sobre a atividade comercial no país por conta da mobilização em torno do evento.

Há programas especiais para a renovação de taxis em algumas das cidades que vão abrigar os jogos da Copa. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, dois dos maiores mercados automotivos do país, taxistas contam com isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na aquisição de carros. Já no Paraná, uma linha especial de crédito, com juros a partir de 0,55% ao mês, foi criada no mês passado para atender aos taxistas no aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba.

Fora isso, as montadoras começam a receber encomendas vindas com a renovação de frotas do transporte público em cidades- sede, como Brasília, que fez recentemente uma licitação 2,6 mil ônibus. É claro que nem todo esse volume se deve apenas à realização do evento, mas nas contas da Mercedes-Benz – que ficou com quase 2,1 mil dos novos coletivos de Brasília -, só a Copa do Mundo vai gerar uma demanda adicional de aproximadamente 2 mil ônibus no país entre este e o próximo ano.

A indústria de caminhões foi a primeira a se beneficiar da realização do evento, fornecendo veículos de carga para as obras de estádios desde a fase de terraplenagem. Ainda assim, isso foi insuficiente para impedir a derrocada do mercado de veículos pesados no ano passado, quando as vendas caíram quase 20% num reflexo da transição na tecnologia de propulsão dos caminhões, que encareceu os veículos em até 15%.

Com a proximidade da abertura da Copa – marcada para o dia 12 de junho -, o setor começou a receber encomendas de caminhões adaptados para atividades de monitoramento nas proximidades dos estádios – alguns deles já utilizados durante a Copa das Confederações em junho. Só a Truckvan, uma fabricante de implementos instalados em caminhões – dona de duas fábricas na capital paulista -, vai entregar 22 plataformas de observação para operações ligadas à segurança dos torcedores. Alcides Braga, sócio-diretor da empresa, diz que seis unidades foram produzidas já para a Copa das Confederações e outras 16 serão entregues até dezembro. Para dar conta dos novos pedidos, a Truckvan concluiu recentemente uma ampliação de 60% da capacidade de uma de suas fábricas e agora tem capacidade de produzir cerca de 30 implementos a cada mês.

"Nossa perspectiva é de crescimento de 50% neste ano e alcançar um faturamento próximo a R$ 120 milhões", diz Braga, que também preside a Anfir, entidade que representa a indústria brasileira de implementos rodoviários.

Para a Mercedes-Benz, a Copa do Mundo, junto com outros fatores, ajudará o mercado de caminhões a crescer cerca de 10% em 2013 e outros 5% em 2014. De janeiro a setembro deste ano, as vendas desse veículo cresceram quase 14%, somando pouco mais de 115 mil unidades licenciadas.