Logística reversa depende de acordos para deslanchar

Enquanto não saem os acordos setoriais previstos na Política Nacional de Resíduos Sólidos para a implantação de sistemas de logística reversa, as empresas que fazem tratamento e gestão desse material estão em compasso de espera. A Estre que possui 23 aterros sanitários no Brasil e outros países da América Latina, e opera a Oxil, que recupera mil toneladas por mês de eletroeletrônicos, materiais de informática e celulares, adota uma postura cautelosa esse ano. "Estamos com um olho no peixe e outro no gato", brinca Alexandre Alvim, diretor de relações institucionais da empresa. "O volume do que é coletado hoje é muito pequeno frente ao potencial. A política não está evoluindo como se previa e os prazos estão aquém do que gostaríamos em alguns setores. Não queremos antecipar os investimentos antes da hora, mas também não pretendemos correr atrás do prejuízo."
 
Para Alvim, não há clareza sobre a demanda de logística reversa que será gerada com a assinatura dos acordos setoriais. Pela lei, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes assumem a responsabilidade compartilhada pelo recolhimento e destinação final dos resíduos de seus produtos, mas os detalhamentos estão para ser definidos. "Por ser um setor a ser regulado, que depende de políticas públicas e de uma série de fatores sobre os quais não temos controle, precisamos ter um planejamento cauteloso para não correr riscos desnecessários." A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina cinco cadeias de produtos que terão acordos setoriais: descarte de medicamentos; embalagens em geral; embalagens de óleos lubrificantes e seus resíduos; lâmpadas e eletroeletrônicos. Desses, apenas o setor de óleos lubrificantes assinou um acordo com o Ministério do Meio Ambiente.
 
Alvim acredita que a falta de clareza, no entanto, não prejudica o investimento em aterros sanitários. "Esse é um mercado mais previsível porque o volume do lixo comum cresce e a demanda por novos empreendimentos também aumenta." O prazo de 2014 sancionado em lei para que todos os municípios tenham aterros sanitários no lugar de lixões dificilmente será cumprido, e provavelmente será postergado, mas a tendência é buscar uma solução adequada para a imensa quantidade de lixo acumulado precariamente nos lixões. "Estamos trabalhando com prefeituras e empresas nas principais capitais do Nordeste que são as áreas mais carentes", afirma.
 
Paralelamente, a Estre planeja a expansão dos aterros já existentes, como em Paulínia, onde o grupo tem seu maior Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR) e onde são processados mais de seis mil toneladas de lixo por dia de 33 municípios. Além de expandir a área ocupada com o aterro, a unidade investe na obtenção de combustível derivado do lixo que pode substituir carvão e cavacos de madeira no processo produtivo de cimenteiras e outras empresas. A expectativa é migrar de operação piloto para comercial este ano e implantar o mesmo sistema em outros aterros. Além disso, a Estre deve inaugurar em 2013 o sistema de geração de energia elétrica resultante da queima do gás metano produzida pela decomposição do lixo depositado no aterro sanitário de Guatapará, na região de Ribeirão Preto. A energia produzida na usina será suficiente para abastecer cerca de 55 mil moradores no início de sua produção. A Estre deverá expandir esse sistema para outras unidades no interior de São Paulo onde possui aterros.
 
Conhecida como intermediária no recolhimento e destinação de produtos como celulares, notebooks e refrigeradores para encaminhamento a empresas de manufatura reversa, a Descarte Certo, do grupo Ambipar, aposta tanto no potencial da logística reversa que resolveu entrar também nesse nicho. Em junho, inaugurou sua primeira unidade em Americana (SP), onde totalizou o processamento de 126 toneladas de resíduos eletroeletrônicos no semestre. "O ano passado foi complicado por causa da não regulamentação, mas os próximos serão de crescimento de dígitos grandes", diz Lúcio Di Domenico, presidente e criador da Descarte Certo. "Todo mundo vai ter de correr para atender a demanda gerada pela lei, inclusive nós, razão pela qual estamos acelerando o processo agora."
 
A empresa ganhou o apoio da Oi que fechou parceria para financiar a construção de mais cinco fábricas de reciclagem no país, em contrapartida à prestação de serviços de coleta, manufatura reversa e destinação final de resíduos da própria empresa, além da gestão de todo o processo. O total de financiamento será de R$ 10 milhões ao longo de seis anos, além de mais R$ 6 milhões do próprio grupo Ambipar. Em março, começa a operar a unidade de Novo Hamburgo (RS), e em abril, a de Manaus. Até 2014, a empresa pretende inaugurar as unidades do Rio, Luisiânia (GO) e Nordeste. Em 2014, a empresa pretende operar uma unidade móvel de reciclagem para diminuir uma parte do custo do transporte, um dos entraves das empresas para dar uma destinação adequada a seus resíduos.