Leilão vazio cria alerta para próximos lotes de rodovias

Depois da ausência de interessados em um dos trechos da primeira rodada de leilões de rodovias do governo federal, executivos reforçam o alerta sobre os próximos lotes do pacote. Segundo eles, especialmente a segunda rodada e um lote da terceira correm risco de não atrair investidores.

A entrega de propostas para a primeira rodada de leilões de rodovias ocorreu na sexta-feira, na BM&FBovespa. A BR-262 (que vai de Minas Gerais ao Espírito Santo) não teve nenhum interessado. A BR-050 (em Goiás e Minas Gerais) atraiu oito propostas, de consórcios de EcoRodovias, Invepar com Odebrecht, Triunfo, Arteris, CCR, Queiroz Galvão, Fidens e Consórcio Planalto (com várias empresas). A abertura dos envelopes ocorre na próxima quarta-feira (18), também na bolsa.

A BR-101 (na Bahia) é a próxima do cronograma e já teve até o edital publicado, com leilão marcado para 23 de setembro. O lote apresenta – segundo as empresas – risco de demanda e construção. Além disso, o edital também prevê a presença do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o que é uma preocupação dos grupos especializados.

Na BR-101, conforme o edital, o governo ficará responsável pela duplicação de 221 quilômetros na rodovia. A concessionária terá que duplicar outros 551 quilômetros em cinco anos. O grande receio é que um eventual atraso na duplicação das obras sob responsabilidade estatal diminua a quantidade de usuários na estrada. Essa seria a segunda rodada de leilões.
A terceira rodada, com leilão previsto para 21 de novembro, também causa preocupações. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, os estudos de demanda e investimento feitos pelo governo foram superficiais. A BR-151, entre Tocantins e Goiás, tem demanda real "bem inferior" à projetada.

Os grupos dizem que o governo já foi avisado sobre os problemas dos próximos lotes. Mas sobre a BR-262 e sua surpresa para o governo, alguns relatam que foi gerado um excesso de confiança por parte de grupos de concessão – que se diziam estar fortemente interessados na rodovia, mas acabaram não entregando proposta. "Se outro achou interessante, evito ficar falando que tem algo de errado na modelagem", diz um executivo.

A primeira rodada (BR-050 e BR-262) de fato era considerada a mais atrativa para a iniciativa privada. A BR-262 atraiu em peso o interesse das empresas, que fizeram estudos de todo tipo para sustentar suas propostas econômicas. Nesses levantamentos, estão incluídas estimativas de investimentos e também a contagem de tráfego – que pagaria o capital investido. Segundo fontes das empresas, "a conta não fechou" no caso da BR-262 – e por isso não foi possível entregar propostas concretas.

Segundo os estudos divulgados pelo governo, o volume de tráfego da BR-262 foi considerado pouco para tantos investimentos, dizem os executivos. Outra questão foi levada em conta na BR-262: o risco de construção. A geografia foi considerada especialmente complicada, devido ao relevo e ao solo. Com essas dificuldades, o projeto poderia sair bem mais caro que o previsto.

Contribui para a pressão dessas duas incertezas – investimento e demanda – o fato de os novos leilões de rodovias exigirem a duplicação total da rodovia em no máximo cinco anos de contrato, ficando o concessionário sujeito a penalidades. Para as empresas, eram riscos demais a serem tomados. "A conversa é sempre essa, que nós reclamamos demais. Agora, espero que o recado tenha sido dado", disse outro executivo.

Apesar de haver menos interesse nos próximos leilões, executivos dizem que as críticas não são a todo o pacote. Ainda há rodovias atrativas, além da BR-050. Para Paulo Resende, especialista em logística da Fundação Dom Cabral, o governo deve retomar o diálogo com o setor privado. "Não é hora de decepção, e sim de aprendizado", afirmou.

O banco Credit Suisse, que havia divulgado em julho amplo relatório sobre os leilões, intitulado "A infraestrutura brasileira: agora ou nunca", lembra que já são cinco os projetos "fracassados": trem de alta velocidade, BR-040, BR- 116, BR-262 e a linha 6 do metrô paulista. Agora, o cenário está ficando mais próximo ao "nunca", dizem em relatório divulgado neste fim de semana os analistas Bruno Savaris, Felipe Vinagre e Daniel Magalhães.