Incertezas rondam setor automotivo neste fim de ano

Dúvidas residem nas taxas que serão cobradas a partir de janeiro nos financiamentos do BNDES e na mudança das alíquotas no IPI dos automóveis, também marcada para a virada do ano.

A indústria automobilística chega ao fim deste ano com uma certeza e duas dúvidas. No primeiro caso, ficou claro, até para os mais otimistas, que as vendas de veículos não conseguirão alcançar as metas de crescimento traçadas pelas montadoras diante de um mercado que perdeu força com as restrições no crédito e a menor propensão ao gasto por um consumidor menos confiante e, também, mais endividado.

Já as dúvidas residem, de um lado, nas taxas que serão cobradas a partir de janeiro nos financiamentos a bens de capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, de outro, na mudança das alíquotas no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis, também marcada para a virada do ano.

Para o bem ou para o mal, os dois casos têm implicações tanto para as vendas na reta final deste ano como para o planejamento de 2014. Na indústria de caminhões, incertezas sobre as novas regras do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que contempla crédito mais barato para veículos pesados, têm afetado negativamente as vendas desde o mês passado.

O governo já informou que vai manter os estímulos do programa em 2014, mas ainda não divulgou como ficarão os juros e as condições dos financiamentos. Assim, na dúvida sobre quanto terão de pagar pelo crédito – provavelmente mais caro – de um caminhão que só será faturado em janeiro, as transportadoras preferem esperar mais um pouco antes de entregar suas encomendas às montadoras.

Na avaliação da própria Anfavea, a entidade que representa a indústria nacional de veículos, os números do mês passado já refletiram essa reticência no mercado. As vendas de caminhões, que vinham numa média de 13 mil unidades por mês, caíram para menos de 12 mil veículos em novembro.

"Na prática, estamos vendendo o estoque de pendências. Ou seja, aqueles caminhões que já estavam aguardando a liberação de financiamento do BNDES", afirma Diego Comolatti, presidente da Acav, a associação que reúne os concessionários da MAN, montadora líder de mercado com a marca Volkswagen.
Já a dúvida sobre o IPI dos automóveis, ainda que estimule a antecipação de compras neste mês – ajudando no resultado do ano -, dificulta, por outro lado, o planejamento das marcas para os primeiros meses de 2014. Segundo o executivo de uma montadora que se instalou há poucos anos no país, não tem sido fácil explicar à matriz que, às vésperas do fim do ano, o governo ainda não anunciou como ficará a situação do principal tributo federal incidente em produtos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já informou que os descontos no IPI serão retirados de forma gradual a partir de janeiro. Porém, ainda não se sabe quais serão as novas alíquotas, nem como será feita a recomposição do tributo, o que torna difícil prever qual será o impacto disso nos preços dos automóveis, assim como nas vendas do ano que vem.

A Anfavea preferiu esperar mais um mês para divulgar suas metas para as vendas, produção e exportações em 2014. Essas projeções só serão anunciadas em janeiro, e não em dezembro como aconteceu no ano passado. A entidade adiantou, porém, que para cada ponto percentual de aumento no IPI o impacto no preço do carro popular será equivalente a 1,1 ponto percentual.

O último balanço da associação das montadoras mostrou que as vendas de veículos no país seguiram em queda em novembro, um mês no qual o desempenho do mercado também foi afetado por um calendário comercialmente mais curto, com apenas 20 dias úteis de venda.

No acumulado de janeiro a novembro, as vendas caíram 0,8%, levando o presidente da Anfavea, Luiz Moan, a projetar apenas "empate técnico" nos emplacamentos deste ano, comparativamente ao recorde de 2012 – embora muitos analistas falem em queda.

Ainda assim, não será tarefa fácil igualar os números de 2012, mesmo se levado em conta a possibilidade de corrida às lojas antes da retirada de parte dos descontos do IPI. Para reverter a tendência declinante e fechar 2013, pelo menos, no mesmo nível do ano passado, o setor terá de vender um número próximo a 389 mil veículos neste mês. Seria uma marca inédita para dezembro, já que o melhor resultado para o mês foi registrado em 2010, quando 381,6 mil veículos foram vendidos.

A Anfavea começou o ano projetando crescimento na faixa de 3,5% a 4,5%, mas teve de revisar suas estimativas com a desaceleração do mercado a partir de junho. Em setembro, a projeção da associação passou a ser de uma evolução dos licenciamentos de veículos entre 1% e 2%, meta que foi oficialmente mantida pela entidade, apesar das declarações de seu presidente.