Greves elevam em 35% volume de contêineres parados no porto de Santos

SANTOS – A situação piorou drasticamente no porto de Santos (SP) nesta semana por causa da greve dos fiscais agropecuários. O volume de contêineres parados nos quatro terminais marítimos especializados nessa operação aumentou 35% nesta quinta-feira em relação ao dia anterior, chegando a 3.874 Teus (contêiner de 20 pés), segundo o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp).
 
Apesar de iniciada na segunda-feira, a paralisação dos fiscais agropecuários respondia hoje por 61% dos contêineres bloqueados no cais santista. O restante esperava liberação por parte de servidores da Anvisa (8%) e da Receita Federal (31%). Entre as mercadorias estavam produtos siderúrgicos, automotivos, agentes orgânicos, medicamentos, arroz, frutas, eletrônicos e pastas químicas de madeira.
 
A greve dos fiscais ligados ao Ministério da Agricultura afeta um universo maior de cargas. Além de responsáveis pela inspeção de mercadorias de origem vegetal e animal, a categoria vistoria toda a madeira que entra no país para evitar a introdução de pragas – o interior de quase todo contêiner é revestido com paletes de madeira, usados para facilitar o manuseio da carga. Isso eleva as inspeções em portos que movimentam muitos contêineres, como Santos, líder do país na operação.
 
“Estamos chegando num momento que não vamos conseguir operar. Se continuar assim, na semana que vem haverá terminal rejeitando carga”, afirma Querginaldo Camargo, presidente do Sopesp.
 
Sem a liberação das importações os terminais estão ficando abarrotados e com pouco espaço para receber os contêineres de exportação. Segundo Camargo, a taxa de ocupação ideal de um terminal de contêiner gira em torno de 60% a 65%. “É o limite do economicamente viável”. Hoje alguns já passavam dos 80% de lotação.
 
“A situação é caótica", afirma José Candido Senna, coordenador do Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo da Associação Comercial de São Paulo. Segundo ele, os prazos de despacho que já vinham altos desde 19 de março em razão da Maré Vermelha (operação da Receita de combate ao contrabando) estão aumentando. “Em 2010 os tempos eram de 8 a 9 dias, na importação, e de 5 a 6 na exportação. Em 2011 os números subiram em razão do boom comercial. Depois veio a Maré Vermelha. Hoje é difícil termos alguma referência do que seria um tempo normal de despacho”, diz Senna.
 
Além da lentidão em receber a carga, a greve impõe outro ônus ao importador. Quanto mais tempo a carga fica parada maior o custo de armazenagem cobrado do importador, um dos itens de maior receita dos terminais. “Não há nada que possamos fazer, porto é local de passagem”, afirma Camargo, do Sopesp.
 
As principais reivindicações dos fiscais agropecuários são a reestruturação da carreira e o reforço do efetivo por meio de concurso público de pelo menos 1.500 novos profissionais. Hoje 3,2 mil servidores atendem todo o país (entre agrônomos, veterinários, químicos, farmacêuticos e zootecnistas). Em Santos são 34 pessoas. “Teria de pelo menos dobrar esse contingente em Santos”, diz o delegado sindical de São Paulo do Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa), Ullysses Thuller.
 
A categoria opera com 30% do efetivo desde terça-feira. “Estamos conseguindo atender. Obviamente se o movimento durar mais de duas ou três semanas haverá acúmulo de cargas. Mas esperamos que o governo apresente logo uma proposta”.