Descarbonização: Brasil possui leque de alternativas energéticas
Nesse mês de agosto aconteceu a 30ª edição do SIMEA – Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, com o macrotema “O Brasil e o futuro sustentável da mobilidade”.
Para o presidente da AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Marcus Vinicius Aguiar, o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e todas as possibilidades para exportar tecnologias de produtos e de sistemas.
O presidente de honra do SIMEA 2023, Gastón Diaz Perez, foi enfático ao dizer que no âmbito do debate sobre soluções rumo à descarbonização, “o nosso país tem um baralho completo, enquanto alguns países têm apenas uma carta. Não tem lugar melhor para falar em mobilidade sustentável do que no Brasil”, comentou, citando tecnologias variadas, dentre as quais o flex com etanol, o biodiesel, o biogás, o hidrogênio. “Temos tudo para nos tornarmos um dos maiores produtores de hidrogênio do mundo”.
O presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, comentou sobre as condições geográficas do País, que favorecem o uso de biocombustíveis renováveis. Na sua avaliação, o Brasil terá protagonismo global no contexto da mobilidade sustentável.
Assim como o presidente da AEA, também o da Anfavea, Márcio de Lima Leite, fez questão de ressaltar a importância da engenharia brasileira, hoje reconhecida mundialmente. Segundo ele, o setor automotivo é responsável por 38% de todos os investimentos em P&D no país.
“Os elétricos são importantes, mas temos que defender todos os caminhos”, disse Lima Leite, lembrando que em outubro a Anfavea realizará evento conjunto com a OICA, Organização Internacional de Fabricantes de Automóveis, para discutir a descarbonização das Américas.
João Henrique Garbin de Oliveira, presidente da Abeifa – Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, lembrou que a entidade teve e tem papel importante na conexão do Brasil com o mundo global. “O híbrido, por exemplo, começou como veículo importado e agora temos montadoras produzindo localmente”.
Marlon Arraes, diretor do Departamento de Biocombustíveis, do Ministério das Minas e Energia, mostrou a ampla gama de soluções alternativas existentes no Brasil, informando que a partir do uso do etanol houve uma economia de 2 bilhões de barris de petróleo no País.
“Na transição energética, temos condições de nos tornarmos exportador de soluções, visto que vai demorar muito para ter frota totalmente eletrificada no mundo. Podemos contribuir para uma descarbonização mais barata, sem onerar o consumidor com custos mais elevados de tecnologias novas”, argumentou.
“Por que não criarmos competências brasileiras que possam ser exportadas?”, questionou Lima Leite, da Anfavea. Ele voltou a defender a adoção de medidas de conscientização para incentivar o uso do etanol no Brasil. “Se todos os veículos flex rodassem com etanol, nosso País teria o equivalente a 8 milhões de veículos elétricos em circulação atualmente”.
Cláudio Sahad, do Sindipeças, defendeu a necessidade de o Brasil definir políticas públicas que apontem para os rumos da sustentabilidade veicular e estimule investimentos em produção de veículos eletrificados.
“Em paralelo às novas tecnologias, o Brasil pode se tornar um centro produtivo de motores e veículos a combustão e um grande exportador de tecnologia. Estamos falando com o governo sobre esse tema”, informou Sahad.
Os veículos flex representam hoje 83% da frota circulante no País, só que a maioria dos motoristas (cerca de 70%) opta pela gasolina na hora de abastecer. Por isso, o setor automotivo e o governo estudam medidas de incentivos ao uso do etanol.
Entre as ideias em debate, uma é ter uma bonificação para descontos em abastecimentos futuros no caso dos usuários que só utilizam etanol e taxas menores de impostos para os veículos que rodem apenas com o biocombustível.
O diretor do Departamento de Biocombustíveis, do Ministério das Minas e Energia, mostrou o atual estágio dos programas do governo, dentre os quais o RenovaBio e o Combustível do Futuro.
Com relação à proposta relativa ao E30, que seria o aumento da proporção do etanol na gasolina de 27% para 30%, o representante do MME disse que vai ter um grupo de trabalho para constatar a viabilidade técnica da medida antes de sua implementação.
Coube à representante da Petrobras fazer uma analogia da questão energética, similar à do baralho apresentada por Gáston Perez, com o tradicional jogo Lego. Izabel Ramos, da Petrobras, comentou que cada país ou região recebe um caixa com peças que têm a ver com suas realidades e em quantidades diferentes.
“A missão pode ser a mesma, a de montar uma casa. Mas ao final serão casas diferentes”, exemplificou, lembrando que o Brasil é privilegiado e, por isso, tem mais peças para enfrentar o jogo da descarbonização.
Na avalição de Marcelo Mendonça, diretor de estratégia e mercado da Abegas – Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado, é indiscutível a participação do gás natural e o biometano na transição energética brasileira. No primeiro caso, o uso já é expressivo nos veículos leves e agora deve ser expandido para os pesados.
Gussi, presidente e CEO da Única – União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, também deixou claro que não há sentido de o Brasil escolher uma rota única: “É fundamental que todos os setores trabalhem em conjunto”.
A posição é a mesma manifestada por Pedro Mello Lombardi, gerente de distribuição da Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica, que disse ser imprescindível a união de todos os envolvidos para que haja o adequado desenvolvimento das novas tecnologias.
Com relação ao possível crescimento da frota de veículos elétricos, ele disse que o setor está programado para efetuar investimentos em expansão e com certeza conseguirá oferecer a energia necessária a ser demandada pelo setor automotivo.
A sessão de encerramento do simpósio foi conduzida por Marcus Vinicius Aguiar, presidente da AEA, e por Gastón Diaz Perez, presidente de honra do Simea 2023.
Ambos comemoraram o sucesso do Simpósio, que contou com 60 trabalhos técnicos que certamente trarão novos avanços tecnológicos ao setor automotivo.
Fonte: Blog do Caminhoneiro / Foto: Divulgação