Demanda firme sustenta preço de etanol

Os preços do etanol hidratado, biocombustível usado diretamente no tanque dos veículos, tendem a começar a subir sistematicamente a partir de agora, segundo especialistas. Trata-se de uma antecipação de pelo menos dois meses de um movimento normalmente esperado para a entressafra da cana- de-açúcar no Centro-Sul, que começa em dezembro. O consumo avançou nos postos para patamares que não conseguem ser atendidos pela oferta projetada do biocombustível. Até o fim de março, o potencial de aumento de preços é de pelo menos 10%.

A consultoria FG Agro, localizada em Ribeirão Preto (SP), projeta uma oferta de 14 bilhões de litros de hidratado no mercado interno brasileiro, dos quais 6,1 bilhões de litros já foram comercializados pelas usinas. Segundo o especialista da consultoria, Thiago Campaz, a oferta remanescente comporta um consumo mensal de 1,120 bilhão de litros. Mas há dois meses, o volume vendido pelas usinas supera 1,2 bilhão de litros. "Não haverá etanol até o fim da safra para atender a esse nível de demanda", prevê o especialista.

Nas contas da FG Agro, daqui até o fim da temporada, em 31 de março, os preços do etanol na usina teriam que se valorizar 15%, dos atuais R$ 1,10 por litro, para R$ 1,27 – líquido de impostos, posto em Paulínia (SP), para conter o ímpeto do consumo. Essa tendência, diz ele, ainda não se refletiu nos preços futuros do biocombustível. O contrato de vencimento em fevereiro do hidratado na BM&FBovespa está sendo negociado no patamar de R$ 1,185 mil por metro cúbico.

A mesma visão é compartilhada pelo diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues. Ele acredita que a oferta atual não sustenta um consumo no patamar de 1,2 bilhão de litros por mês. "Obrigatoriamente, o preço vai ter que subir", diz Rodrigues. Ele estima que a partir de agora há espaço para alta na casa dos 11%.

No Estado de São Paulo, que concentra 40% do consumo de etanol do país, a paridade entre o preço do etanol e a gasolina está há mais de dois meses no patamar de 64%. Para que seja vantajoso ao consumidor abastecer com o biocombustível, esse percentual tem que ser menor que 70%. "Se o preço alcançar R$ 1,27 por litro, a paridade deve ficar em 73%, afirma Campaz. Na sexta-feira, o indicador Esalq/BM&F para o hidratado posto em paulínia subiu 0,27%, a R$ 1,1025 mil o m3. Foi a quarta valorização consecutiva do indicador.