Combustível deve subir em parcelas

O sinal verde do governo para a Petrobras reajustar os combustíveis está próximo. Com os preços agrícolas em queda, o que levou os índices gerais de preços (IGPs) à deflação, a equipe econômica começa a ver espaço para a Petrobras corrigir os valores da gasolina e do diesel até o fim de dezembro, como forma de reforçar o seu caixa. Sem esse aumento, a estatal não conseguirá ampliar a produção e o risco de desabastecimento será cada vez maior, já que nem as importações têm sido suficientes para garantir o consumo. O Palácio do Planalto quer encerrar essa fatura neste ano, pois a inflação, de 5,5% em 12 meses, não irá muito além disso, uma vez que tudo aponta para o recuo dos alimentos nas próximas semanas.
 
Segundo especialistas, as diferenças entre os valores artificialmente baixos praticados pela Petrobras em relação à média dos cobrados no exterior são de 27,5% para gasolina e de 33% para o diesel. Essa distorção já acarretou perdas à Petrobras de R$ 22 bilhões desde 2011. "Estamos muito atentos à situação do caixa da Petrobras. Hoje, as chances de um reajuste dos combustíveis são muito maiores do que há um mês, quando a inflação estava bastante pressionada", disse um integrante da equipe econômica.
 
Ele lembrou que a primeira prévia de novembro do IGP-M, índice calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registrou queda de 0,19%, após cravar alta de 0,31% em igual período de outubro. As apostas do mercado são de que tanto esse indicador quanto o IGP-DI fecharão este mês em baixa. "Estamos vendo uma redução generalizada nos preços da soja, do milho, dos minérios e de produtos industriais", acrescentou o técnico. "Os ventos estão soprando a nosso favor", acrescentou.
 
Na avaliação de Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), mesmo que o reajuste dos combustíveis se confirme, a inflação deste ano continuará distante do teto da meta, de 6,5% e não há perigo de os índices de 2013 saírem do controle. "O quadro da inflação, sobretudo para o ano que vem, está mais tranquilo do que a maioria dos analistas supõe", assegurou. Embora considere exagerada a estimativa de defasagem para os valores da gasolina e do diesel, ele vê uma alta já de 10% para os combustíveis como razoável.
 
Exemplo de militares
Para Carmo, o melhor, agora, seria o governo adotar o modelo do período militar de anunciar o reajuste dos combustíveis em meados de dezembro, por volta do dia 15, "para dividir o efeito inflacionário entre este e o próximo ano". Assim, um primeiro aumento de 5% poderia se repetir até o fim do primeiro trimestre de 2013, "quando ficaria mais clara a evolução do preços". Pelos seus cálculos, cada 10% de alta da gasolina corresponde a 0,5 ponto percentual a mais no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
 
A favor do reajuste está o fato de as pressões sobre a demanda de combustíveis continuarem desafiando a capacidade limitada de refino da Petrobras, que já alcançou o ritmo de 98% do total e se reflete sobre o balanço patrimonial da empresa. O valor de mercado da companhia despencou R$ 135 bilhões em menos de dois anos. Não à toa, o Ministério de Minas e Energia e a estatal vêm sinalizando a acionistas que haverá, em breve, aumentos nas tabelas de derivados de petróleo, apesar de o Ministério da Fazenda insistir que não há perspectiva de reajuste.
 
Ontem, o diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, rebateu os crescentes rumores de que haverá desabastecimento no Brasil. Segundo ele, o período crítico de consumo de combustíveis, outubro e meados de novembro, ficou para trás. "Já passou e não faltou produto nem faltará", disse.