Caminhoneiros relatam prejuízos com incêndio e improvisam dormitórios

O incêndio que atinge parte da área industrial do bairro Alemoa, em Santos, no litoral de São Paulo, vem causando diversos impactos para a economia do País, principalmente para os caminhoneiros que tentam acessar a Margem Direita do Porto de Santos. O G1 conversou com alguns profissionais que tiveram prejuízos por conta das chamas que atingem tanques de combustíveis da empresa Ultracargo há oito dias.
 
 Emerson José da Silva, de 34 anos, chegou a Santos às 2h de segunda-feira (6) e aguarda o fim do incêndio para liberar sua carga de ferro. "Em comparação com outros colegas, eu estou bem. Consigo dormir no caminhão, além de me alimentar e tomar banho em um restaurante próximo", afirma.
 
De acordo com o caminhoneiro, os prejuízos se acumulam com o passar dos dias. "Estou vindo da cidade de Sete Lagoas, Minais Gerais. Foram cerca de oito horas de viagem. Infelizmente, o caminhão parado gera prejuízo. Calculei que já tenha gasto cerca de R$ 2 mil", diz Silva.
 
Geraldo Humberto Frezarin, de 55 anos, está praticamente desde as primeiras horas do incêndio esperando para descarregar 50 toneladas de plumas de algodão, que vieram do Mato Grosso. A quantidade foi trazida por ele e mais dois caminhoneiros.
 
O profissional chegou às 16h de quinta-feira (2) em Santos com a carga. "Estou vindo de Campo Verde, Mato Grosso. Geralmente, uma viagem dessas leva entre sete e oito dias. Porém, levei três dias para chegar a Santos e já estou há uma semana esperando. Temos que esperar o incêndio acabar para podermos descarregar, o que deve levar um ou dois dias. Depois, ainda tenho uma viagem para Paulínia, no interior de São Paulo. Ou seja, vamos atrasar mais de uma semana, dez dias para chegar em casa", diz.
 
No entanto, o caminhoneiro destaca que esse é apenas um dos problemas enfrentados por ele e seus companheiros nesses dias. "É difícil, não temos estrutura. Não temos um banheiro decente para tomar banho. A água para o banho é fria. Já a comida estamos fazendo por aqui mesmo. Está ruim. Além disso, estamos expostos também, no que diz respeito à segurança. Ainda estamos em um lugar que tem movimento, mas escureceu nós vamos para dentro do caminhão e não saímos mais. Eu trabalho para uma empresa, o nosso salário não é alterado por conta disso. Só que a verba destinada para a viagem está acabando. Nós fizemos uma programação, mas saiu tudo diferente. Fora isso, também tem a saudade da família. Nesse momento, o caminhão é a casa da gente", conta.

Outro profissional que está na fila para descarregar é Ênio Fiorini, de 58 anos, de Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul, que traz 31 toneladas de algodão vindas de Sebastião Leal, no Piauí. Ele demorou quatro dias para percorrer os 2.600 km e chegou na madrugada de sábado (4) no litoral paulista.

Preocupado com os gastos, Ênio, que é autônomo, relata que ele e outros caminhoneiros tentam negociar com as empresas que os contrataram para serem ressarcidos, de alguma forma, pelos dias de fila. "A preocupoação é com as contas, pois há o custo alto de vários processos: imposto, prestação do caminhão, manutenção e pneus. Isso altera bastante. Estamos discutindo com a empresa que nos contratou para acertar a diária. Meus custos hoje ultrapassam R$ 10 mil por mês. Somos transportadores autônomos e, nessa hora, ninguém quer assumir a responsabilidade. Dizem que não são culpados por estar tudo parado. Está complicado. Nós passamos a Páscoa aqui e, até agora, não temos uma definição sobre quando poderemos descarregar", analisa.

O G1 flagrou caminhões trafegando pelo perímetro urbano de Santos e São Vicente, durante períodos atípicos. Segundo a Prefeitura de Santos, o bloqueio dos caminhões é feito para evitar transtornos no trânsito na entrada da cidade e garantir o direito de mobilidade da população, além da segurança dos caminhoneiros. Motoristas e empresas calculam um prejuízo de R$ 5 milhões.

Trânsito de caminhões
 A entrada de caminhões na Margem Direita do Porto de Santos foi permitida das 22h às 4h para veículos com agendamento nos terminais autorizado pela Codesp. A liberação, válida desde esta quarta-feira, será feita mediante a apresentação de documento comprobatório e com o limite de até 800 veículos de carga. A medida foi acertada em reunião entre representantes da prefeitura e do setor portuário e de transportes.

A triagem dos veículos e a liberação no Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) e nos pátios de estacionamento serão realizadas pela Polícia Rodoviária e Ecovias, seguindo a orientação da Secretaria Municipal de Assuntos Portuários.
Na área urbana, a Companhia de Engenharia de tráfego (CET) fará o controle dos comboios de caminhões. No ingresso, os veículos de carga terão como trajeto a Avenida Martins Fontes, ruas Visconde do Embaré e Cristiano Ottoni (que ficará com mão única) até o Porto Valongo. A partir dali, o controle fica a cargo da Guarda Portuária.

Já a saída dos caminhões do Porto ocorrerá em comboios, das 9h às 17h e das 21h às 5h, com ponto de partida no início da Rua João Pessoa. A restrição da entrada de caminhões na Margem Direita foi decidida no domingo (5) pelo Gabinete de Integração. O objetivo foi evitar que a entrada de Santos ficasse bloqueada, pois a alça de acesso do viaduto da Alemoa está fechada devido ao incêndio.

Ajuda Federal
 Em reunião na manhã desta quarta-feira, realizada pelo Gabinete de Crise, criado pelo Governo do Estado, a novidade foi a presença do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, que visitou Santos a pedido da presidente Dilma Rousseff. Segundo Occhi, o Governo Federal está preocupado com o incêndio e vem monitorando tudo de perto.

"Estou em Santos para reforçar o apoio federal neste momento de crise. Vim com a demanda de reforçar o estoque de produtos químicos e de caminhões para o combate ao incêndio. O Governo Federal continua acompanhando os desdobramentos de todos os problemas que estão ocorrendo. Na cidade temos representantes do Ministério da Defesa, da Integração Nacional, do Meio Ambiente e da Pesca", afirma.

Em entrevista coletiva na Prefeitura de Santos, o coronel José Roberto Rodrigues de Oliveira, coordenador estadual da Defesa Civil no Estado de São Paulo, confirmou que fez alguns novos pedidos ao Governo Federal. A ideia, de acordo com ele, é deixar os bombeiros com recursos de sobra para que o fogo possa ser extinguido de vez.

De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros na operação, Marcos Palumbo, a quantidade de água utilizada para resfriar os tanques é impressionante. Ele explica que, nesta quarta-feira, 83 mil litros eram despejados por minuto. Segundo ele, o incêndio que atingiu uma favela na Avenida Roberto Marinho, em São Paulo, no ano passado, foi combatido com 240 mil litros de água.
 
Incêndio continua

 O incêndio na empresa Ultracargo começou por volta das 10h de quinta-feira (2). Seis tanques de combustível foram atingidos. No início do incêndio, a temperatura chegou a 800°C mas, segundo os bombeiros, já foi reduzida para cerca de 400°C. As causas do incêndio ainda são desconhecidas.

O combate ao incêndio completou mais de 150 horas nesta quarta-feira. Até agora, cerca de oito bilhões de litros de água do mar foram usados para combater as chamas. Como parte da água é poluída e devolvida para o mar, estudos já apontaram que o incêndio é responsável por uma alta taxa de mortalidade de peixes na região afetada. De acordo com o Corpo de Bombeiros, ainda não há previsão para o término dos trabalhos.