Ações de infraestrutura têm potencial de alta

A despeito da instabilidade dos primeiros dias do governo interino de Michel Temer, há quase um consenso entre os analistas de que os investimentos em infraestrutura devem se tornar prioritários neste governo. Depois de anos de investimento pífio no setor, a retomada pode começar agora e ganhar força no médio prazo, entre 12 e 24 meses. Com isso, as ações de companhias dos segmentos de construção civil, imobiliário e logística podem ser beneficiadas e ter valorização nos próximos meses.
 
A percepção dos investidores foi reforçada pela criação da Secretaria de Programas de Parcerias e Investimento, chefiada por Moreira Franco, que deve atuar com intensidade nos projetos de concessão. É uma medida importante já que entre os países emergentes, o investimento em infraestrutura do Brasil só é menor do que o da Argentina. Em 2013, o investimento em infraestrutura do Brasil só é menor do que o da Argentina. Em 2013, o investimento como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 5,8%, recuando em 2014 e 2015. A previsão é que os recursos destinados ao setor mantenham dinâmica semelhante em 2016, voltando a ganhar terreno no ano que vem.
 
A corretora Guide preparou um estudo sobre as ações com maior potencial de alta. São elas: CCR ON, Rumo Logística ON, Eztec ON, Gerdau PN e Mills ON. Na análise, a casa considerou a relação entre o preço atual do papel e o lucro estimado no curto prazo e comparou com dados históricos das empresas. A corretora não fez projeções de preço-alvo para ações.
 
A Magliano Corretora também tem uma perspectiva positiva para o setor de infraestrutura nos próximos meses, mas considera que análises mais profundas sobre potencial de valorização das ações só podem ser feitas após o fim da interinidade do governo Temer. "É provável que investidores estrangeiros só ingressem no país para participar dos leilões de concessão após a saída definitiva da presidente afastada Dilma Rousseff do governo. Os investidores esperam por previsibilidade econômica", disse Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Corretora.
 
De acordo com o economista Ignácio Crespo, da Guide, a CCR tem fundamentos sólidos, é bem administrada e conta com forte geração de caixa no médio e longo prazo. A empresa foi vencedora em três projetos no ano passado: o aeroporto de Confins, a BR-163 em Mato Grosso do Sul e o metrô de Salvador. "Mesmo assim, continua com espaço no balanço para entrar em novos projetos", disse. Neste ano, as ações já subiram 24,44%.
 
O analista da Coinvalores Corretora, Felipe Silveira, também considera que a CCR é a melhor ação do setor. Entretanto, devido à volatilidade recente do mercado de ações, a corretora está realivando o preço-alvo do papel. Na sexta-feira, as ações da CCR eram negociadas a R$ 15,32.
 
As ações da Rumo Logística, que já caíram 28,21% neste ano, são recomendadas por Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide. "O papel é atrativo porque com o aquecimento da economia deve haver aumento das safras de milho, açúcar e soja, aumentando a receita para empresa. A Rumo é prestadora de serviços ferroviários e, recentemente, passou por uma fusão com a ALL Logística. A companhia anunciou uma captação de recursos no valor de R$ 2,6 bilhões.
 
No setor imobiliário, a possível queda da taxa básica de juros da economia, que está em 14,25% ao ano, a partir do segundo semestre deve favorecer o segmento de compra de imóveis novos. "A melhor empresa é a Eztec, que tem uma estrutura bastante eficiente", disse Raphael Ohmachi, analista da Guide. Os papéis da construtora Eztec já subiram 36,53% neste ano.
 
A companhia é a sensação do setor. "A Eztec não tem endividamento, usa caixa próprio e tem margens superiores aos seus pares", disse Adeodato Volpi Netto, diretor da Eleven Research. No ano passado, por exemplo, a empresa teve retorno sobre patrimônio de 18%, acima dos seus concorrentes.
 
A opinião é compartilhada por Silveira, da Coinvalores. "Acreditamos que o papel vai começar a ter um desempenho positivo a partir de 2018 com a recuperação da renda e também do setor de construção", disse.
 
Outro destaque com potencial de valorização são os papéis da Gerdau, cujas ações já subiram 22,37% desde janeiro. A empresa é a única produtora de aços longos no país, usados na construção civil. "A construção civil vai se fortalecer mais rápido que os demais setores devido à recuperação da confiança", disse Adeodato, diretor da Eleven Research. A Gerdau, entretanto, é investigada pela Política Federal na Operação Zelotes. A companhia é acusada de sonegar R$ 1,5 bilhão. A empresa nega as acusações.
 
Outro papel com chance de valorização é o da Mills, companhia de produtos e serviços de engenharia, que já acumula alta de 68,42% no ano. "O potencial de retorno é alto, mas o risco também é elevado porque praticamente todos os clientes da companhia estão envolvidos na Lava-Jato", disse Pereira.
 
A favor dos investimentos em infraestrutura também está uma possível retomada do PIL (Programa de Investimento em Logística), lançado em 2015, com valor de R$ 198 bilhões, equivalente a 0,8% do PIB. O programa tinha como objetivo incentivar o desenvolvimento da infraestrutura no país e, segundo analistas, poderia ser recuperado pelo governo interino de Temer.