A gestão das estradas paulistas
O governo do Estado de São Paulo decidiu fazer mudanças significativas na gestão das rodovias para modernizar o sistema de pedágios, de um lado, e, de outro lado, para instituir novas regras do uso do solo nas margens das principais estradas. As duas iniciativas eram esperadas há tempos. Primeiro, por causa das críticas ao alto custo dos pedágios, que por sua vez encarece o transporte; segundo, porque, no Estado mais rico da Federação, as cidades se expandem rapidamente, as estradas se transformam em verdadeiras avenidas e suas margens são ocupadas por condomínios, shoppings centers, edifícios de escritórios e outros empreendimentos comerciais. Esses locais geram grande volume de tráfego de curto percurso – milhares de pessoas que vão e vêm entre escritórios, lojas, a passeio e de volta para casa, congestionando o trânsito de importantes vias internas das cidades e levando esse problema para as estradas.
Diariamente, quem vem de longe por rodovias como a Castelo Branco, Raposo Tavares, Bandeirantes e Anhanguera, Imigrantes e Anchieta perde muito tempo nas proximidades das regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista porque há sempre um denso congestionamento a ser vencido, provocado pelo tráfego de curta distância.
A Rodovia Raposo Tavares teve aumento de 70% no tráfego nos últimos cinco anos. Parte dela é, na verdade, uma avenida, que cruza uma área de conurbação entre o Butantã, na zona oeste da capital, e a região de Cotia – um corredor que vive um boom imobiliário para o qual a malha viária não estava preparada (nem planejada).
Na última década, a população de Cotia cresceu quase 14% e hoje chega a 201.023 habitantes. Desse total, mais de 50 mil se concentram nos condomínios da Granja Viana, que tem sido a menina dos olhos da especulação imobiliária. Estão em construção pelo menos 800 escritórios distribuídos por quase uma dezena de novos centros comerciais na região, além de condomínios residenciais imensos, a maioria às margens da Raposo. Quase 200 mil veículos percorrem o trecho entre a capital e Cotia diariamente. É um bloqueio que paralisa a estrada, num rush que se inicia logo após as 5 horas e só se desfaz por volta das 22 horas.
Diante de situações como essa, o governo estadual cogita de regulamentar a construção de polos geradores de trânsito, impondo restrições a esses empreendimentos e exigindo que financiem a melhoria da malha viária. Os empreendedores teriam assim que fazer investimentos na construção e manutenção de vias marginais para que estas absorvam o chamado tráfego local ou de curta distância, de veículos que não pagam pedágio, mas congestionam o trânsito e desgastam as estradas. Para as concessionárias atuais das rodovias são investimentos que não foram estimados nos contratos, pois elas estão obrigadas a manter e ampliar ou melhorar apenas o leito principal da via concedida, em conformidade com os indicadores de qualidade do serviço estipulados também nos contratos.
A divisão de responsabilidade com os empreendedores imobiliários será parte do projeto do governo para reduzir o custo dos pedágios. A partir de 2013, o sistema de cobrança será modernizado e o motorista pagará apenas pelo trecho percorrido, num modelo idêntico ao utilizado em países da Europa e nos Estados Unidos. O Sem Parar será substituído pelo Ponto a Ponto, que funciona a partir de instalação de antenas em praças de pedágio virtuais, sem barreiras ou cabines de cobrança.
As tags coladas nos para-brisas dos carros terão de ser trocadas e o custo será bem mais baixo. Hoje, o usuário do Sem Parar paga R$ 66,72 pela taxa de adesão e mensalidades de R$ 11,90; recebe a fatura online ou via Correio e o valor é debitado em conta corrente ou cartão de crédito. A nova tag custará apenas R$ 3,00 e o motorista pagará apenas pelo trecho de estrada que usar.
O fato é que a administração de estradas no entorno de grandes concentrações urbanas é hoje assunto complexo que exige urgente modernização.
20/3/2012