Porto de Santos quer expandir e modernizar controle de chegada de cargas

Diretor de Planejamento do complexo portuário fala sobre logística e mobilidade nos terminais e na cidade de Santos.


A implantação do sistema de agendamento para a chegada de caminhões ao Porto de Santos, adotada em 2014, zerou as filas de caminhões que costumavam se formar na época do escoamento da safra.

A medida, segundo os responsáveis pelo projeto, envolveu um estudo para otimizar o uso da infraestrutura portuária e reduzir os danos causados pelas atividades do Porto à mobilidade na cidade de Santos e região.

Agora, novos desafios estão postos: o aumento da capacidade do Porto de Santos, a automação do controle da chegada de caminhões à cidade e o agendamento da chegada de trens.

Quem falou sobre o assunto à Agência CNT de Notícias foi o diretor de Planejamento Estratégico e Controle do Porto de Santos, Luis Claudio Montenegro.

Ao iniciar o desenvolvimento do projeto, quais problemas decorrentes das atividades portuárias vocês identificaram, em termos de mobilidade, na cidade de Santos?

O que ocorria era que a organização da chegada dos veículos ao Porto de Santos era feita individualmente por cada terminal. Alguns mais avançados tinham sistema de agendamento próprio, outros não tinham. Ficava caótico, porque cada caminhão chegava num horário, às vezes chegavam todos juntos em algum momento, gerando picos de movimentação. Quando isso ocorria, afetava a cidade, porque é muito próxima à área portuária. Então, quando você tem uma paralisação, uma fila de caminhões na porta do Porto, atrapalha toda a mobilidade da cidade.

Na verdade, esse convívio é constante. Se você perguntar para quem opera o terminal, o entendimento será de que a mobilidade da cidade traz impactos na operação portuária. Já quem está na cidade diz que a operação portuária traz impactos na vida da cidade, na ida ao trabalho, na movimentação em alguns períodos do dia.

Então, o que a gente fez foi organizar esse processo. Os veículos que chegam ao terminal estão na sua capacidade de chegada e descarga, então não ficam na fila. O motorista fica num estacionamento rotativo e já é atendido. Se não há mais filas, não há mais impactos na movimentação urbana. O nível de exigência da cidade está ficando maior, não se admite mais nenhuma formação de tumulto além do que já é comum ao dia a dia da cidade.

Vocês chegaram a identificar falhas no uso da capacidade do Porto. Chegaram a resolver isso?

O problema da capacidade num cenário de crescimento econômico é constante. O ideal é que os investimentos se deem e que você ganhe capacidade para muitos anos.

O planejamento portuário é sempre de longo prazo, porque você tem que investir hoje o que vai movimentar daqui a 10, 15, 20 anos. No caso do Brasil, chegamos próximo desse limite de capacidade.

Então, a discussão é constante, seja em investimentos que ampliem a capacidade, seja em técnicas de gestão para que você consiga usar melhor a capacidade existente e a infraestrutura que já tem.

Hoje a gente ainda tem problemas sérios de capacidade. O debate está em torno dos arrendamentos portuários, de criar novos portos. Em Santos, por exemplo, são nove terminais que estão para ser arrendados. Isso amplia em 30% a 40% nossa capacidade de imediato. Além de investimentos que todos os terminais estão fazendo. Nossa luta para ampliar a capacidade é diária.

Como foi a receptividade do transportador e dos moradores da cidade à iniciativa?

Hoje, que temos os resultados positivos, conseguimos ter uma facilidade na discussão desse tipo de coisa.

No início, o transportador reagiu porque entendia assim: “você não pode colocar em mim a responsabilidade sobre a fila. Eu sou transportador, sou caminhoneiro e estou tentando fazer meu trabalho”. E a gente dizia: “olha, você também tem responsabilidade, porque você também tem que cumprir o horário que está programado”. Mas ele não estava acostumado a isso.

Já a cidade era meio cética com o projeto. O entendimento era que, se não se fizessem novas rodovias, mais linhas ferroviárias, isso não mudaria.

Hoje o pessoal tem participado muito, temos feito muitos fóruns de debate e os elogios são importantes. Como o projeto teve sucesso, temos de acompanhar sempre de perto. A gente tem novos pleitos o tempo inteiro e vamos trabalhando com isso.

Quais os próximos desafios?

O desafio mais prático é o de automatizar esse acompanhamento, gerar informação em tempo real. Então, vamos dotar – com recursos do PAC – todo o corredor e a área portuária de equipamentos que podem identificar os caminhões para saber se a programação da viagem está sendo cumprida.

Essa automação é essencial. Começa por Santos, mas o projeto abrange, ao todo, 12 portos. Essa automação é o desafio operacional mais urgente. Depois vamos ter de enfrentar a movimentação de contêineres vazios que é feita por caminhoneiros e que estacionam irregularmente na cidade, criando problemas em regiões que são muito adensadas. Mas eu acho que esses desafios serão superados.

Nesse momento, estamos fazendo a mesma coisa para ferrovias. Os técnicos estão discutindo como criar regras de chegada para os trens, como fizemos para caminhões. A proposta é de já firmar um acordo com os concessionários de ferrovias para organizar as chegadas a partir do ano que vem.