Montadoras seguem com estoque elevado

Por meio de medidas como férias coletivas, licenças remuneradas e lay-off (suspensão temporária de contratos de trabalho), a indústria automobilística brasileira já reduziu em 17,4% a produção de veículos nos primeiros sete meses do ano na comparação com igual período de 2013, para se ajustar à demanda mais fraca no País e também no Exterior. Apesar dessa puxada de freio na atividade fabril, a quantidade de carros estocados nos pátios das montadoras e nas lojas segue elevada. Em julho, houve ligeira redução no volume: agora são 382,6 mil unidades, que levariam 39 dias para comercialização, pelo ritmo atual de licenciamentos. No fim de junho, eram 395,5 mil, o correspondente a 45 dias.

Os dados foram passados ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Para o presidente da entidade, Luiz Moan, o nível de estoques ainda é “inadequado”. Ele cita que cada empresa trabalha com quantidades diferentes, de acordo com a gama de modelos e a rede de concessionárias, mas o número ideal estaria entre 23 e 35 dias, dependendo da companhia.

MELHORA – Em julho, as vendas de carros zero mostraram melhora (alta de 11,8%) em relação a junho, com aumento também da produção mensal (elevação de 17%). Moan cita que a reação se deu na segunda quinzena, após o fim da Copa do Mundo, quando a média diária de licenciamentos passou a 13.785 unidades, ante 11,5 mil na primeira metade do mês. E sua expectativa é de continuidade da retomada ao longo do segundo semestre, porque haverá mais dias úteis e também porque se espera mais disponibilidade de crédito, por parte dos bancos. Para ele, o setor automotivo deve se beneficiar de recente medida do Banco Central de redução da necessidade de recolhimento compulsório – o dinheiro que os bancos são obrigados a deixar depositado no BC, para o controle do volume de recursos em circulação – com impacto estimado em R$ 30 bilhões na economia.

Ainda segundo o presidente da Anfavea, por esse motivo e pela queda nos níveis de inadimplência, é esperada melhora nos financiamentos nos próximos 30 dias. A questão é importante, já que mais de 60% das compras de carros zero são a prazo e hoje um dos principais obstáculos para a efetivação dos negócios são as restrições impostas pelo setor bancário para aprovação das fichas cadastrais.

Moan considera que as medidas como o lay-off (adotadas pela Mercedes-Benz e pela Volkswagen na região), em que os trabalhadores ficam em casa por até cinco meses recebendo parte dos salários pagos pela empresa e a complementação com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), se baseiam na expectativa de que o mercado vai melhorar no segundo semestre.

ARGENTINA – O mercado argentino representa cerca de 75% do que é exportado pelo segmento, segundo a Anfavea, incluindo carros e peças. Segundo o presidente da associação, Luiz Moan, independentemente da situação do país vizinho – que, segundo entidades internacionais de avaliação de crédito, está em calote “técnico” – o segmento trabalha na expansão de acordos de comércio com outras regiões do mundo, que poderiam reduzir essa dependência.

O Grande ABC também tem parcela significativa, de 40% das vendas ao Exterior destinadas a esse mercado. No caso, por exemplo, de São Caetano, esse índice sobe para 78%.

Ainda segundo o dirigente da associação das montadoras, a ideia é buscar maior integração com a América do Sul e, num segundo momento, com países da África.

Moan destaca ainda que há equilíbrio nas relações com a Argentina. De janeiro a julho, o País exportou US$ 3,7 bilhões em veículos para lá e autopeças e importou US$ 3,6 bilhões.