Gargalo logístico volta aos acessos do Porto de Santos

A falta de capacidade das estradas de acesso ao porto de Santos, pátios reguladores operando perto do limite e o desrespeito a agendamentos na chegada de cargas apontam para mais uma safra de soja com problemas e congestionamentos no maior complexo portuário da América Latina.


O terminal portuário T-Grão, no porto de Santos, foi multado ontem após a constatação de que 106 caminhões aguardavam para descarregar cargas de grãos sem o agendamento obrigatório, medida estabelecida este ano para evitar congestionamentos na região portuária. Foi a primeira multa dentro da nova norma, segundo a Secretaria dos Portos. O valor total, que varia de R$ 1 mil a R$ 2 mil por veículo, ainda será definido.
 

Filas de caminhões nos acessos e dentro da cidade de Santos já haviam sido registradas semana passada e voltaram a ocorrer nos últimos dois dias, gerando reclamações de caminhoneiros, moradores e comerciantes de grãos. Praticamente todas as cargas exportadas que chegam de caminhão precisam descer a Serra do Mar, pelas rodovias Anchieta e Imigrantes. E agora, numa tentativa de organizar um caótico fluxo, todos os veículos são obrigados a fazer uma parada agendada em pátios reguladores em Cubatão, a poucos quilômetros dos terminais portuários.

 

"Cubatão não está comportando . É muita perda de tempo e sofrimento para nós", disse à Reuters o caminhoneiro Wilson Luiz de Almeida Jr., esperando na fila para descarregar em um terminal de Santos. Como muitos outros, Almeida enfrentou uma verdadeira odisseia para percorrer os últimos 40 quilômetros de viagem, na terça-feira: quatro horas para descer a serra e entrar no pátio; e mais quatro horas para sair do pátio e chegar ao portão do terminal. A Associação Nacional de Exportadores de Cereais estimou prejuízo de US$ 2,5 bilhões para o setor em 2013, devido a fatores que incluíram a elevação não esperada no custo do frete, em parte decorrente dos congestionamentos.

 

"Os pátios não dão conta de absorver porque os caminhões chegam fora da programação", disse um empresário do setor de logística em Cubatão, que pediu para não ser identificado. Ele avalia que os congestionamentos na região se devem à mistura do fluxo elevado de caminhões de grãos com veículos que atendem ao polo industrial de Cubatão, sem falar que Santos é fundamental para a entrada e saída de bens manufaturados do Brasil. "Aumenta-se a demanda de capacidade de exportação, mas as rodovias continuam as mesmas", disse.

 

O problema dos últimos dias não é novo. No primeiro semestre de 2013, a partir do início do escoamento da nova safra de soja, ruas e avenidas de Santos e Guarujá, no acesso aos terminais, enfrentaram congestionamentos frequentes. Neste ano, o volume da oleaginosa a ser embarcado pelo país só tende a crescer, acompanhando uma nova safra recorde, que permitirá ao Brasil liderar novamente as exportações globais de soja, num momento de forte demanda da China pela matéria-prima.

 

Os embarques brasileiros devem subir 4%, para 44,5 milhões de toneladas, disse nesta quarta-feira a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Santos é o principal porto para as exportações de grãos e açúcar no país.

 

Na terça-feira, dia de grandes congestionamentos, o Eco-pátio operava perto da capacidade máxima, com lotação de 85% da recepção de 3,5 mil caminhões por dia. E isso num momento em que nem um terço da safra de soja, de cerca de 90 milhões de toneladas, está colhida. Reuters