Correios vão investir em logística porta a porta

De olho em um mercado que pode movimentar R$ 150 bilhões por ano, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) deu o pontapé inicial para implementar um ambicioso plano de logística integrada, prevendo aumentar em até 20 vezes suas receitas com esse tipo de negócio. O conselho de administração da estatal autorizou a criação de uma nova vice-presidência para cuidar especificamente do assunto.
 
De acordo com o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, serão criados até 15 polos logísticos em áreas de grande concentração de mercadorias e em um raio inferior a 200 quilômetros de aeroportos, rodovias e ferrovias estratégicas. Isso significa, explica o executivo, reforçar as estruturas com mais equipamentos para a triagem de encomendas e espaço de armazenamento.
 
O objetivo da ECT, que hoje fatura entre R$ 450 milhões e R$ 500 milhões com serviços de logística, é alcançar receitas de até R$ 10 bilhões. A receita total da ECT prevista para este ano é de R$ 15 bilhões. Não há um ano-meta definido para atingir essa cifra, mas o Planejamento Estratégico Correios 2020 é mencionado como referência pelo presidente. "Não é um objetivo extremamente arrojado. O potencial do mercado brasileiro é de R$ 150 bilhões, mas muito pulverizado. No médio prazo, podemos almejar 10% disso", diz Pinheiro.
 
A logística integrada, conforme esclarece o executivo, significa oferecer um "serviço de porta a porta" para recolher, processar e distribuir mercadorias. Um dos principais potenciais de crescimento está no segmento de comércio eletrônico. A diferença é que, em vez de esperar em suas bases de armazenamento as entregas de aparelhos eletrônicos ou de livrarias, por exemplo, para depois encaminhar aos clientes finais, a ECT passaria a fazer todo o caminho de uma ponta a outra.
 
Há um conjunto de acordos e convênios para esse tipo de serviço, como a remessa das provas do Enem para o Ministério da Educação, a entrega de 160 milhões de livros escolares para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a distribuição de medicamentos para pacientes cadastrados em programas de governos estaduais. Mas isso ainda é muito pouco, avalia Pinheiro, diante do potencial existente: a DHL, por exemplo, tem mais de 50% de seu faturamento proveniente da logística integrada.
 
Pinheiro já definiu que, dentro do planejamento, é fundamental ampliar as estruturas de terminais de cargas nos aeroportos recentemente concedidos à iniciativa privada. Em Guarulhos e em Brasília, onde a ECT já possui instalações, existem conversas para expandir a capacidade. Em Viracopos (Campinas), onde a estatal ainda não tem presença, há negociações "mais adiantadas" para instalar um terminal de cargas de uso próprio. A única indefinição, segundo o executivo, é se os Correios arcarão 100% com o empreendimento ou se formarão uma sociedade de propósito específico (SPE), com a própria Aeroportos Brasil – concessionária de Viracopos – ou com outros investidores, para erguer o terminal.
 
Outro ponto é a futura participação dos Correios no trem de alta velocidade (TAV) entre Rio, São Paulo e Campinas. Na primeira tentativa de licitar o projeto, no ano passado, a ECT havia se comprometido a entrar com R$ 300 milhões na composição societária da concessionária. "É preciso reavaliar todo esse processo, mas o nosso interesse continua de pé", avisa Pinheiro. Agora, o leilão do trem-bala foi dividido em duas etapas: a concorrência para a operadora e detentora da tecnologia; e outra, para a construção da infraestrutura.
 
Segundo Bittencourt, ainda não está definida a nova forma de participação da estatal no projeto, mas ele pode ser incluído como "sócio estratégico" do vencedor do primeiro leilão, previsto para julho de 2013. "Temos todo o interesse em conversar sobre uma pequena parcela de participação no empreendimento. Vamos precisar desse meio de transporte. O eixo Rio-São Paulo já representa o maior trânsito de encomendas que temos nos Correios", afirma.
 
Para cuidar do plano, a ECT criou uma nova vice-presidente de logística, que está sendo ocupada por José Furian Filho. Outras duas vice-presidências – a de rede e relacionamento com clientes e a de operações – serão fundidas, sob comando de Glória Guimarães, para permitir a abertura do novo cargo de Furian.
 
Os Correios também vão assinar um termo de cooperação com a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), estatal recém-criada, com o objetivo de desenvolver atuações conjuntas. Uma das ações, por exemplo, é a parceria para viabilizar pesquisas que ofereçam um conhecimento mais aprofundado sobre as demandas logísticas do país – inclusive no modal ferroviário, bem como para identificar localidades onde podem ser instaladas novas plataformas logísticas.
 
Pinheiro diz que os municípios de São Paulo, do Rio de Janeiro, Manaus e o interior paulista são alguns candidatos naturais a receber ou expandir os futuros polos logísticos da empresa postal.