Situação das estradas piora em 2012

Pesquisa divulgada ontem (24) pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) indica que cerca de dois terços das rodovias pavimentadas no país estão em condições péssimas, ruins ou regulares. As piores estradas estão concentradas na Região Norte, especialmente em Roraima, no Acre e no Amazonas. As melhores encontram-se em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Paraná. De acordo com o estudo, a qualidade da malha rodoviária caiu em relação a 2011. No ano passado, 57,4% foram classificadas como regulares, ruins ou péssimas, frente a 62,7% este ano.
 
Na opinião do diretor executivo da CNT, Bruno Batista, o pouco investimento nas vias é a principal causa dos problemas. “Existe uma dificuldade do próprio governo em promover a ampliação do investimento. Neste ano, foram autorizados R$ 13,8 bilhões. No entanto, até 15 de outubro, o governo só havia investido 46% do total, o equivalente a R$ 6,4 bilhões. Há um problema gerencial”, diz. Segundo Batista, outro agravante é a precária manutenção das estradas. “Nossas rodovias são muito antigas. A maioria das federais foi construída na década de 1970 e o cenário mudou muito desde então”, analisa. De acordo com o secretário executivo, entre 2009 e 2011, 10 milhões de novos veículos entraram em circulação no país e, nesse período, a infraestrutura das rodovias pouco melhorou.
 
O engenheiro Dickran Berberian também aponta a saturação do tráfego nas rodovias como fator para o desgaste acelerado da pavimentação. “Toda obra é projetada para receber um número determinado de veículos. Quando há mais do que o esperado por um longo período de tempo, o prejuízo vai para a integridade das estruturas e para a segurança do lugar.” Segundo o especialista, a manutenção é precária e tem efetividade baixa. “As operações tapa-buraco, por exemplo, são paliativas, feitas em situações emergenciais”, critica. Berberian acrescenta que, após determinado estágio de degradação, é necessário que se reconstrua boa parte dos trechos, o que, segundo ele, sai muito mais caro. Para reverter a situação, o diretor executivo da CNT diz que é necessária a retomada do processo de construção de rodovias. “Além disso, é importante duplicar trechos e oferecer outros tipos de transporte”, completa Bruno Batista.
 
A pesquisa avaliou 65.273km de rodovias federais e 30.434km de vias estaduais, sendo que, do total, 80.315km estão sob gestão pública e 15.392km são responsabilidade de concessionárias. Entre as estradas federais, 27,8% estão em ótimo ou bom estado, enquanto 86,7% das estruturas concedidas encontram-se bem avaliadas. Na avaliação de Berberian, a gestão dos investimentos é o principal motivo para a malha privatizada estar em melhor condição. “O ideal seria que ninguém tivesse de pagar pedágio. No entanto, é o fluxo do dinheiro recebido ali e convertido na manutenção das vias que garante uma melhor qualidade às rodovias concedidas.”
 
Segundo o presidente da CNT, Clésio Andrade, a expectativa da confederação é que o relatório sirva de subsídio para “a elaboração de políticas públicas de manutenção de rodovias pelos governos federal, estaduais e municipais”. Somente no ano passado, 8,5 mil pessoas morreram nas estradas do país. Ao Correio, o Ministério dos Transportes disse que o titular da pasta, Paulo Sérgio Passos, estava viajando e não poderia comentar a pesquisa ontem.