Roubo de carga cresce 39% após veto a caminhões na Marginal Tietê
O registro de roubos de carga na cidade de São Paulo aumentou 39% em março de 2012 em relação a março de 2011, segundo as estatísticas criminais divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública do estado na quarta-feira (25).
Em 5 de março deste ano começou a fiscalização da restrição a caminhões na Marginal Tietê e outras vias da região. Caminhões passaram a ficar parados nas proximidades das transportadoras e na chegada das principais rodovias à capital paulista para aguardar o fim da proibição – o que é apontado pelo setor como principal motivo para o aumento dos roubos.
A Polícia Militar (PM) nega relação da restrição com o aumento do índice. Entretanto, policiais civis responsáveis por investigar os crimes apontam possíveis ligações e dizem ter participado de reunião com a PM sobre o tema.
Em março do ano passado, todos os distritos policiais e delegacias especializadas da cidade de São Paulo registraram 314 casos de roubo de carga. Em março deste ano, primeiro mês de restrição, foram 437 casos. Se considerados apenas os dados deste ano, o aumento entre fevereiro e janeiro foi menor: 9%. Já se avaliados os dados de março e fevereiro, o crescimento das ocorrências foi de 18%.
A delegacia com mais registros é a do Parque Novo Mundo – foram 32 casos no último mês. Como comparação, apenas sete roubos de carga foram registrados no distrito em março de 2011 – um aumento de 357%.
A delegacia fica nas proximidades da Rodovia Presidente Dutra, onde pouco antes das 22h (horário em que a restrição na Marginal Tietê termina) filas com mais de 50 caminhões se formam no acostamento e em ruas próximas. Os veículos de carga não podem circular na Marginal Tietê das 5h às 9h e das 17h às 22h de segunda a sexta-feira e das 10h às 14h aos sábados.
Ainda na capital paulista, seis distritos policiais concentram 150 casos, mais de um terço das ocorrências. Em março do ano passado, os mesmos distritos tiveram 62 roubos de carga. Em Guarulhos, na Grande São Paulo, por onde passa a Rodovia Presidente Dutra, o número de casos aumentou de 18 em março de 2011 para 31 em março de 2012.
Delegacias com mais casos de roubos de carga | março/2011 | março/2012 |
90º – Parque Novo Mundo | 7 | 32 |
46º – Perus | 17 | 31 |
74º – Parada de Taipas | 10 | 30 |
12º – Pari | 12 | 22 |
69º – Teotônio Vilela | 4 | 17 |
Os distritos do Parque Novo Mundo, Perus e Parada de Taipas ficam nas proximidades de rodovias usadas pelos caminhões e de transportadoras. Pari fica na região central, área de grande carga e descarga. E Teotônio Vilela, na Zona Leste, fica próximo a vias usadas pelos motoristas como alternativas, segundo o setor.
O maior aumento bruto no número de registros de roubos de carga também foi registrado no 90º Distrito Policial – um incremento de 25 casos na comparação entre os meses de março nos dois anos. Outras delegacias tiveram um aumento proporcional maior, entretanto.
Delegacias com maior aumento proporcional | março/2011 | março/2012 |
38º – Vila Nova Cachoeirinha | 1 | 9 |
1º – Sé | 1 | 8 |
16º – Vila Clementino | 0 | 7 |
40º – Limão | 1 | 7 |
55º – Parque São Rafael | 2 | 10 |
11º – Santo Amaro | 1 | 5 |
13º – Casa Verde | 1 | 5 |
13º – Casa Verde | 1 | 5 |
81º – Belém | 1 | 5 |
87º – Vila Pereira Barreto | 1 | 5 |
O delegado Edvaldo Faria, titular da delegacia, afirma que o aumento do número de casos pode estar relacionado com a restrição na Marginal Tietê. “Dá para dizer que é um reflexo. Nós tivemos um bom aumento de roubo de carga, nós pegamos aqui a Dutra, a Ayrton Senna e a Fernão Dias, tem o terminal de cargas e várias empresas de transporte. A carga está realmente concentrada aqui”, disse ele ao G1 nesta quinta-feira (26).
O delegado contou ter participado na semana passada de uma reunião com a Polícia Militar a respeito do aumento do número de roubos de carga, para “criar dispositivos para inibir essa ação”. “Geralmente é mais na margem da rodovia que acontece”, afirmou o delegado. Segundo ele, o aumento do número de caminhões parados na beira da estrada pode ter chamado a atenção dos criminosos. “Tudo leva a crer que isso tenha acontecido.”
Polícia Militar
Procurada, a PM nega que o aumento do registro de ocorrências tenha ligação direta com a restrição de caminhões nas marginais. Segundo a corporação, os distritos citados “possuem uma vasta extensão territorial, justificando um índice criminal mais elevado em relação a outras regiões, de menor população e, sobretudo, menor extensão geográfica”.
Em nota, a PM acrescenta que realiza “patrulhamento ostensivo e preventivo nas regiões das marginais e rodovias adjacentes” e que a Polícia Militar Rodoviária elaborou e divulgou ao seu efetivo um procedimento operacional sobre a abordagem a veículos de carga. “O treinamento preconiza técnicas policiais que permitem a identificação de veículos suspeitos e na segurança na realização da abordagem com fulcro na preservação da vida de todos os envolvidos na ação.”
Sindicato
O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam-SP), Norival de Almeida Silva, diz que os dados apenas corroboram o que foi dito pelo sindicato desde o início da restrição. “Infelizmente aconteceu o que já prevíamos. Nos deram a oportunidade de ficar à mercê das fatalidades. Estamos pagando duas contas: por não poder rodar e pelo risco de sermos roubados”, afirmou.
“E o número é maior que esse. Isso são apenas os que foram registrados, muitos casos não estão sendo registrados, os pequenos roubos. Tem muitas coisas que o caminhoneiro nem vê, o cara tira uma caixa, uma peça, e o motorista nem percebe. Quando ele consegue fazer o boletim de ocorrência, tudo bem. Quando ele não vê e chega com algo a menos, ele se torna a pessoa colocada em dúvida.”
Segundo o sindicato, o maior número de casos no distrito próximo à Via Dutra também confirma que os motoristas que a utilizam são os mais afetados. “Se isso nada mudar nós vamos ter que colocar o distrito na Dutra e um batalhão da PM, para nos amparar”, diz o presidente do sindicato.
Roubos no Centro
Os aumentos no número de casos nos distritos da Sé e do Pari, na região centrais de São Paulo, são creditados pelo sindicato pelo grande movimento de carga e descarga na região. Com a restrição de horários, muitos veículos ficam parados na região esperando para poder seguir viagem, ou passaram a fazer entregas depois das 22h e antes das 5h. “Às 13h tem um milhão de pessoas passando na rua, é mais difícil de ser roubado. Já 1h da manhã não tem ninguém, é simplesmente o caminhoneiro e a empresa aberta recebendo a mercadoria, à disposição do roubo.”
Desde junho de 2008, os caminhões já enfrentavam restrições à circulação na chamada Zona Máxima Zona de Máxima Restrição de Circulação (ZMRC), entre 5h e 21h de segunda a sexta-feira e das 10h às 14h aos sábados.
A Secretaria Municipal de Transportes e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo foram procuradas para comentar os dados, mas não responderam até a publicação desta reportagem.
27/4/2012