Caminhos alternativos são inviáveis

Há 20 anos, o processo da Estrada do Montanhão, que divide Santo André e São Bernardo, se arrasta na Justiça. Em um dos recursos, o juiz relator do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo afirma que, ao contrário das inúmeras alegações, as cerca de 200 famílias do Baraldi, bairro localizado no território bernardense, não ficariam isoladas com o fechamento da via. E coloca duas alternativas: uma pela andreense Estrada do Pedroso; outra pela tortuosa Estrada da Pedra Branca, que desemboca na Via Anchieta.
A equipe do Diário percorreu nesta semana, de carro, as duas rotas alternativas apontadas pelo relator da ação civil pública que tramita na Câmara de Meio Ambiente.
O trajeto pela Estrada da Pedra Branca teve início pelo bairro Areião, região periférica de São Bernardo e paralela à Via Anchieta, até a bifurcação com a Estrada do Montanhão, exatamente onde estão localizadas as famílias do Baraldi. Ao todo, foram percorridos cinco quilômetros.
A via tem toda a extensão de pedregulho e areia. O caminho é estreito, que circunda a beira da Represa Billings e mata nativa fechada. Muitos trechos têm o limite em precipício. Apesar da beleza natural do local, a estrada da Pedra Branca sequer permite a passagem de um veículo de porte pequeno. O que dirá a circulação do transporte coletivo ou de ambulâncias.
A maioria das cerca de 200 famílias do Baraldi é de baixa renda, o que implica na não aquisição de automóvel. Neste caso, o ônibus acaba sendo a única alternativa para o acesso aos equipamentos públicos de São Bernardo, como escolas e unidades de Saúde.
O que foi confirmado pela família da dona de casa Márcia de Matos da Silva, 38 anos, mãe de três mulheres – uma delas, Maria Clara, 2 anos, que possui microcefalia (doença neurológica em que o tamanho do crânio é abaixo do normal). "Meu Deus, se a Estrada do Montanhão fechar de vez, o que faço? A Pedra Branca, além de perigosa, não passa nem um carro direito por ela", afirmou.
Para o pedreiro Antonio Nunes da Silba, 58, há 20 anos morador no Baraldi, a Pedra Branca é acesso perigoso. "Nem ônibus passa. De carro, em cinco minutos estamos no Selecta pela Estrada do Montanhão", afirmou.
Os promotores Jairo Edward De Luca e Maximiliano Roberto Ernesto Fühler, do Ministério Público de São Bernardo, que defendem a abertura do Montanhão, percorreram a Pedra Branca. "Essa estrada alternativa está fora de cogitação, além de ser praticamente intransitável e com pontos que beiram o abismo", apontou.
Parque Riacho Grande virou área de compensação ambiental
Centrado em área de 220 hectares às margens da Represa Billings, a Estrada da Pedra Branca está localizada dentro do Parque Riacho Grande, que está sendo implementado pelo Desenvolvimento Rodoviário, responsável pelas obras do Trecho Sul do Rodoanel.
A área verde faz parte do convênio de R$ 93 milhões firmado entre a empresa e a Prefeitura de São Bernardo como forma de compensação ambiental pela construção da rodovia.
O parque, segundo nota enviada pelo Dersa, será entregue ao município, que ficará responsável por sua gestão. Indagada a respeito, a Prefeitura não explicou como funcionará o parque nem se a Estrada da Pedra Branca terá acesso restrito.
No Parque Riacho Grande, que foi cercado e está com o cadastro concluído, foram desapropriadas 65% das áreas – muitos imóveis, inclusive de alto padrão,, hoje em ruínas, conforme registrado pela equipe do Diário.
Três guaritas, portarias e portais foram construídos. Mas o Dersa afirmou que, a partir de fevereiro, terão início as obras adicionais ao parque – a duração é de cerca de oito meses. Entre elas, dois imóveis existentes serão reformados e aproveitados como sede adminstrativa. Funcionários de empresa terceirizada faziam a roçada de área à beira da Billings. Ali, serão plantadas árvores como compensação ambiental ao Rodoanel.
Estrada do Pedroso aumenta trajeto
A outra rota alternativa apontada pelo desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo é pela Estrada do Pedroso, situada em território de Santo André. Da bifurcação das estradas do Montanhão e da Pedra Branca, no bairro Baraldi, até chegar ao asfalto, são três quilômetros. Ou seja, o trajeto fica bem mais longo, conforme a equipe do Diário registrou.
Opção descartada pela maioria dos entrevistados. "Em 15 minutos, de carro, estou aqui pela Estrada do Montanhão. Isso porque tenho carro, mas a maior parte dos moradores não tem. Sem falar as famílias com crianças e adultos especiais", afirmou o consultor de vendas Rômel Andreotti, que vinha, do Centro de São Bernardo, para almoçar em sua casa. "Pelas estrada do Pedroso ou da Pedra Branca, sem chances", reforçou.
Pelo caminho de Santo André, o morador do Baraldi fará um verdadeiro tour. A equipe do Diário partiu do Parque Natural do Pedroso, passou pela Estrada do Pedroso, localizada no Parque Miami, para chegar ao início da Estrada do Montanhão, sentido Santo André a São Bernardo. Ali, foram cerca de 3,5 quilômetros.
A partir da Estrada do Montanhão, que também é de areia e cheia de buracos ao longo do caminho, o motorista passa embaixo do Rodoanel. Em determinado momento, segue em paralelo à estrada, o que pode confundir o motorista menos avisado. No trajeto, curvas e muito sacolejo.
"De ônibus, temos ainda de fazer uma baldeação em Santo André, o que aumenta o trajeto em quase três horas", afirmou o motorista Nilo Rezende, 51 anos, morador há 22 no Baraldi. A mulher, Elaine Neves, disse que os moradores estão abalados com "a novela do abre e fecha do Montanhão".
Liminar é o que garante via aberta há 39 dias
Uma liminar no Tribunal de Justiça de São Paulo é o que garante aberta, há 39 dias, a Estrada do Montanhão. O que beneficia, especialmente. a locomoção das cerca de 200 famílias do bairro Baraldi.
A via, que liga Santo André e São Bernardo, corta por cerca de 1,8 quilômetro o Parque Natural do Pedroso, localizado a cerca de 30 minutos do Centro andreense e administrado pelo Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André.
O parque, que recebe cerca de 3.000 pessoas nos fins de semana, segundo o Semasa, é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral. Ou seja, abriga mananciais e trechos da Mata Atlântica. E foi exatamente por conta da preservação da área verde que o promotor de Meio Ambiente de Santo André, José Luiz Saikali, entrou com ação civil pública contra a Prefeitura de Santo André. "A finalidade é unicamente a preservação do parque", afirmou o representante do Ministério Público.
Dia 15 de dezembro, a estrada foi fechada por determinação judicial. Mas reaberta por meio de liminar.
29/1/2012