PF campineira fecha o cerco contra ladrões de caminhões

Grupo de combate aos ‘piratas do asfalto’ já prendeu 141 bandidos em cinco operações este ano Uma briga generalizada deixou um homem morto e seis

Localizado em um dos maiores entroncamentos rodoviários do Brasil, o município de Campinas emerge naturalmente como um polo econômico de destaque. No entanto, essa característica peculiar também exerce atração sobre atividades ilícitas, sendo que a região se tornou o epicentro em roubos de carga no país, culminando na atuação da Polícia Federal que designou um grupo especializado para enfrentar esse grave delito. “Esse grupo opera de forma ininterrupta, sete dias por semana, dedicando-se exclusivamente à questão dos roubos de carga”, ressaltou o chefe da delegacia da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza. Até o momento, este grupo conseguiu capturar 141 infratores e recuperar R$ 7,5 milhões em veículos.

Somente neste ano, já foram desencadeadas cinco operações, sendo que na terça-feira (8) a PF desarticulou mais uma quadrilha especializada em roubo de caminhões e cargas na área. O foco deste grupo era o roubo de caminhões para posterior desmonte. Um total de sete indivíduos, incluindo uma mulher com papel de liderança, foram detidos temporariamente por um período de 30 dias. Adicionalmente, dois dos homens foram pegos em flagrante portando armas e munições. Esta constitui a sexta investida desde que a PF implantou, em dezembro de 2021, uma unidade especializada para reprimir tal modalidade criminosa em Campinas.

O grupo especializado opera em estreita colaboração com outras forças de segurança pública, com o objetivo de desmantelar essa modalidade criminosa nas vias rodoviárias do Brasil. A Polícia Federal em Campinas recebe consistentemente o suporte do Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar (Baep) e promove uma troca de informações com a Polícia Civil, em cooperação com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), além de manter uma relação ativa com o Poder Judiciário. “Essa avaliação não é apenas estatística, mas também fundamentada empiricamente: temos observado uma significativa redução nesse tipo de delito. Tratase de um esforço contínuo, com investimentos substanciais por parte da Polícia Federal. Acreditamos que os resultados obtidos desde 2021 até o presente momento sejam positivos”, ressaltou. 

Os indivíduos detidos na terça-feira são fruto de uma investigação que teve início em 25 de maio deste ano, quando se constatou a existência de uma célula criminosa atuando na região, perpetrando roubos de caminhões a qualquer hora do dia e em qualquer local, seja nas estradas ou nas áreas urbanas. Os criminosos não possuíam funções estritamente definidas dentro do grupo, concentrando-se apenas em caminhões de uma determinada marca. A carga, conforme o delegado Edson Geraldo de Souza da PF, era um “bônus” secundário, aproveitado somente quando presente no veículo. “O objetivo principal sempre foi o caminhão, e percebemos que essa preferência sugere um conhecimento técnico profundo sobre esses veículos”, explicou o delegado. 

De acordo com Souza, o modus operandi do grupo envolvia abordar suas vítimas em pontos de repouso frequentados por caminhoneiros. Além dos condutores, os criminosos também levavam consigo qualquer pessoa presente no veículo. As vítimas eram cobertas com capuzes, escondidas sob cobertores e conduzidas para cativeiros em áreas isoladas, como matagais, onde eram ameaçadas com armas de fogo até que o resgate fosse pago e o caminhão fosse direcionado para um destino específico. “Esses caminhões (cavalo mecânico) eram destinados, todos, sem exceção, ao desmanche. O que nós sabemos é que alguns caminhões eram destinados ao mercado de peças e caminhões em Minas Gerais”, explicou o delegado da PF.

Ao longo das diligências, os agentes federais conseguiram vincular o grupo a seis assaltos. Um deles ocorreu em 31 de maio, na Rua Antônio de Mendonça, na Vila Renascença, Campinas. No mês seguinte, foram detectadas duas investidas: uma em 9 de junho, em Sumaré, e outra em 27 de junho, na Avenida Lix da Cunha, na área do Jardim Eulina, Campinas. Nesse último caso, o crime se deu às 16h15, e o perpetrador, durante a fuga, colidiu o caminhão contra a barreira metálica da Rodovia Dom Pedro I, sendo capturado em flagrante pela Polícia Militar Rodoviária (PMR). Mesmo encontrando-se sob detenção, ele teve sua prisão temporária decretada na terça-feira por associação criminosa.

Durante o mês de julho, a PF conseguiu identificar três ocorrências atribuídas ao grupo, duas delas em dias distintos em Campo dos Amarais e outra no bairro Saltinho, ambas em Campinas. Segundo Souza, há suspeitas de que o grupo esteja envolvido em outros assaltos na área. No total, sete suspeitos foram identificados ao longo da investigação. Notavelmente, um deles foi detido em flagrante apenas dois dias após o início das apurações, mas, por não estar ainda relacionado com os roubos e por ser réu primário, foi liberado para responder ao processo em liberdade.

Os detidos foram identificados como A.S.S, de 33 anos, A.N.S, cuja idade não foi informada, J.L.O.B, de 37 anos, M.A.L.S, com 37 anos, T.B.J, de 23 anos, todos sem registros anteriores, e D.R.M, com 36 anos, e G.S.L, de 38 anos, que têm histórico criminal. De acordo com as investigações, M.A.L.S é apontada como a mentora das atividades criminosas, coordenando os cúmplices em relação aos locais e rotas a serem adotadas, e por vezes, realizando o resgate dos demais após as ações delituosas. O delegado Souza destacou que ela participou ativamente de pelo menos quatro investidas, ocorridas nos dias 09/06, 27/06, 06/07 e 11/07/2023.

Para efetuar a prisão do grupo, a PF obteve junto à 1ª Vara Criminal da Comarca de Campinas nove mandados de busca e apreensão, além de sete mandados de prisão temporária, com duração inicial de 30 dias, podendo ser prorrogados por mais 30, para residências e estabelecimentos comerciais nas localidades de Campinas, Jardim Santa Mônica, Vila Esperança, Jardim São Marcos e Campos dos Amarais, assim como nos bairros Denadai e Morumbi, em Sumaré. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido em uma oficina mecânica e um bar situados no bairro São Marcos.

Mais de 80 policiais, incluindo agentes federais e militares, participaram da operação, denominada “Volvere”, em alusão à ideia de “mudança de trajetória ou direção”. Esse termo remete à situação de roubo, onde o percurso de uma viagem e do motorista é deliberadamente alterado por terceiros. As equipes também apreenderam um revólver calibre 38 e diversas munições na residência de um dos investigados em Sumaré, além de munições com um suspeito em Campinas. Adicionalmente, um dispositivo jammer foi apreendido na residência de um dos envolvidos.

Fonte: Correio Popular / Foto: Alenita Ramirez