Rodovias precárias ampliam efeitos da crise

Além da crise econômica, que impôs aos transportadores de cargas do Estado uma redução média da ordem de 25% a 30% no volume transportado neste ano frente a 2015, a condição precária das estradas que cortam o território mineiro ajuda a situação a ficar ainda pior, encarecendo em até 40% o custo do transporte. Hoje, já são de 12 mil a 15 mil caminhões parados em Minas Gerais e sem perspectiva de revenda devido ao momento de fraca demanda no mercado.
 
O presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa, lembrou que os possíveis cortes no orçamento da União em obras de infraestrutura e a suspensão de contratos de supervisão de obras pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), incluindo as da duplicação BR-381, acenderam ainda mais o alerta para o setor.
 
Segundo ele, “isso seria mais uma atitude equivocada do governo federal”. “As duplicações da estrada são fundamentais e foram objeto de muitos debates. Nem tudo que é construído no Brasil é feito com alto grau de corrupção. É claro que tem que punir aqueles que estão envolvidos nos escândalos de corrupção, mas irão surgir outras empresas interessadas e competentes. Talvez não tenhamos mais três ou quatro empreiteiras gigantes, mas um número maior de empresas de médio porte capazes de tocar as obras”, acrescentou.
 
Dados divulgados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) no início do ano já apontavam uma redução de 11,8% nos valores destinados pelo Governo Federal a investimentos para infraestrutura de transporte, conforme o Projeto de Lei Orçamentária de 2016. A redução é decorrente dos cortes orçamentários definidos para promover o ajuste fiscal.
 
Ainda de acordo com a CNT, apenas 11% das estradas brasileiras são pavimentadas, fator que reduz a eficiência do transporte, compromete a segurança dos usuários e encarece em até 40% o custo do transporte. “O investimento em infraestrutura é a melhor maneira para dar um alento à economia e ajudar o País a voltar a crescer”, lamentou Costa.
 
Os empresários do setor, continua o presidente da Fetcemg, chegaram a investir em equipamentos pensando nas obras de duplicação e em investimentos em infraestrutura, mas agora estão no prejuízo. Atualmente entre 12 mil e 15 mil caminhões estão parados em Minas Gerais e, conforme Costa, “os bancos já não estão mais aceitando os veículos como retorno dos financiamentos porque não tem mercado para revender”.
 
Além disso, a projeção da Fetcemg é de que o número de demissões no setor aumentou cerca de 35% desde o começo deste ano até o momento e a receita dos transportadores de Minas caiu, em média, de 25% a 30% na comparação com o mesmo período do ano passado. “A queda de faturamento depende do segmento. Na agricultura é menor, mas que atende o setor automotivo perdeu até 50% da receita porque o segmento está penando”, disse.
 
BR-381 – No caso da BR-381, o diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Ulisses Martins Cruz, avaliou que a sobrecarga da rodovia produz lentidão, buracos e risco de acidentes, gerando prejuízo para os transportadores. “Com as obras paradas, bloqueios na pista, mas sem avanço nas obras, nos restou mais tempo de viagem, mais consumo de combustível, mais consumo de pneus e de componentes de suspensão”, afirmou.
 
Cruz lembrou que Minas tem a maior malha rodoviária do Brasil, mas que a condição das estradas no Estado encarece o custo da operação de transporte aqui em 18% comparado a São Paulo, por exemplo.