Cabotagem resiste à crise e amplia serviços e rotas

A crise econômica reduziu o ritmo de crescimento da navegação de cabotagem, mas o segmento continua em expansão, capturando cargas que eram distribuídas anteriormente pelo modal rodoviário, que tem sofrido forte pressão de custos nesse ano, pela adoção da Lei dos Caminhoneiros e alta do diesel.
 
Há 20 anos, o transporte de produtos da Zona Franca de Manaus era praticamente nulo, hoje mais de 50% das cargas já são deslocadas pela navegação de cabotagem. Com os negócios em alta, além de renovar a frota de embarcações, as empresas estão investindo em novos serviços e rotas.
 
 
"Os volumes estão fortes, as empresas estão buscando reduzir custos com mais intensidade desde o fim do ano passado", diz o presidente da Log-In, Vital Jorge Lopes. No primeiro trimestre, novas cargas têm sido capturadas, com destaque para o setor de alimentos e bebidas.
 
 
Cerveja, refrigerante e água de coco têm sido deslocados pelo modal, enquanto o volume de transporte de arroz do Rio Grande do Sul e Santa Catarina para outras regiões do país tem crescido. "Esse é um setor mais resistente às crises", afirma.
 
 
A empresa inaugurou em maio do ano passado uma nova operação de serviço para atendimento às cargas produzidas no polo industrial de Manaus, que permitirá que os navios atendam aos mercados de São Paulo e região no mesmo tempo de viagem do transporte rodoviário, cerca de dez dias. Antes, o transporte entre Manaus e Santos levava 14 dias. "Temos espaço para escoar algumas cargas pela cabotagem, com um frete que pode ser 25% a 30% mais barato", diz. No momento, a rota tem tido redução de participação na distribuição de carga, pela queda do ritmo de atividade da indústria eletroetrônica e de duas rodas, em razão da recessão.
 
 
Pesquisa do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) indica que, para cada contêiner transportado pela cabotagem, existem 6,5 contêineres com potencial para migrar das rodovias para a navegação costeira. A Log-In tem ampliado o volume de deslocamento de cargas produzidas no polo petroquímico de Pernambuco, que ganhou vigor no fim do ano passado com a abertura pela Petrobras da Refinaria Abreu e Lima e a inauguração, na região, de uma montadora de veículos.
 
 
Entre 2013 e o ano passado, cerca de 80% da frota da Aliança Navegação e Logística foi renovada, com navios entre 3800 a 4800 TEUs (contêineres de 20 pés), com maior capacidade do que os anteriores, com 1800 TEUs. O investimento coincidiu com o aumento da demanda: a carteira de clientes subiu 30% entre 2013 e este ano. A expansão se deu entre pequenas e médias empresas, que transportam de um a 500 contêineres. Entre as que embarcam de 1 a 50 contêineres, o número pulou de 680 para 900. "A próxima fronteira é atrair mais essas pequenas e médias empresas", diz o diretor-superintendente da Aliança Navegação e Logística, Julian Thomas.
 
 
A empresa tem investido em terra, ampliando a oferta de serviços. Com terminais retroportuários, a estratégia da empresa é dar ênfase maior no negócio terrestre, oferecendo serviços como recebimento, movimentação, armazenamento e reparo de contêineres vazios, armazenagem de carga geral e contêineres cheios.
 
 
No porto de Itapoá (SC) foram aplicados R$ 40 milhões em um terminal retroportuário localizado a quatro quilômetros do porto. A ATM (Aliança Transporte Multimodal), empresa da Aliança Navegação e Logística, anunciou, recentemente, a abertura de uma filial em Manaus, que oferecerá serviços de carga fracionada via cabotagem, ampliando assim a operação na região Norte do Brasil. Com a unidade, a empresa aumentará o foco na logística terrestre.
 
 
A expectativa é de que o serviço de carga fracionada movimente em torno de três mil toneladas até o final do ano, aumentando em 30% o faturamento da ATM Transporte Multimodal. A Aliança está de olho em outras áreas em Santos e no Nordeste.
 
 
O crescimento dos negócios se dá com o aumento de custos do modal rodoviário. A Lei dos Caminhoneiros aumentou as exigências trabalhistas, reduziu as jornadas de trabalho, enquanto a alta do diesel elevou os custos do transporte sobre rodas.