Venda de caminhões novos volta ao patamar de 1999

As vendas de caminhões neste ano voltaram ao patamar de 1999. De janeiro a outubro de 2015, foram comercializadas 61 mil unidades de caminhões, 45% menos que o volume vendido no mesmo período de 2014, segundo dados divulgados ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). É o pior resultado dos últimos 16 anos, quando o segmento somou 50,7 mil emplacamentos nos primeiros dez meses do ano. Em termos de produção, o setor está agora no nível de 2009, com a fabricação de 66,3 mil unidades de janeiro a outubro.
 
A situação está difícil e a tendência é piorar. Faltando apenas dois meses para o fim do ano, executivos do setor já afirmam que dificilmente será possível alcançar a meta prevista pela Anfavea de fechar 2015 com 74 mil unidades vendidas dessa categoria de veículos de transporte de carga – o que já significaria queda de 46% ante os números de 2014.
 
Um dos vice-presidentes da associação das montadoras Luiz Carlos Moraes, que é diretor da Mercedes-Benz, afirma que a situação do segmento, que já era ruim, por causa da retração da economia e da falta de confiança dos investidores, ficará ainda pior, depois que o governo suspendeu o programa PSI Finame, do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) no dia 30 de outubro.
 
Essa linha de crédito oferecia juros reduzidos para a aquisição desses veículos – taxa de 10% ao ano para grandes empresas, 9,5% para pequenas e médias e 9% para autônomos. Em torno de 70% a 80% das vendas do segmento eram feitas por meio desse tipo de financiamento.
 
“Vemos com preocupação esse posicionamento. Haverá dificuldade adicional ao setor”, assinala o presidente da Anfavea, Luiz Moan. A entidade está tentando negociar com o governo federal a reabertura dessa linha, para então reativar as vendas. “O mercado parou”, avalia outro vice-presidente da associação, Marco Antonio Saltini, que é diretor da MAN Caminhões. A suspensão se deve ao ajuste fiscal, já que o governo quer cortar gastos para reduzir o deficit fiscal. No entanto, a avaliação do setor é de que isso causará impacto nas vendas e no emprego.
 
EMPREGO – Nos últimos 12 meses, quase 11 mil (10.992) postos de trabalho foram fechados nas montadoras de veículos instaladas no País, que empregam atualmente 116.882 pessoas. Desses, cerca de 800 foram eliminados só no mês passado.
 
No entanto, o nível de emprego pode cair ainda mais com a retirada da linha do BNDES, na avaliação da entidade. “O equilíbrio do ajuste de produção adotado com o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) pode ser rompido com o fim do PSI Finame”, teme Moan.
 
Com as vendas fracas ao longo deste ano, 35,6 mil trabalhadores do setor em todo o Brasil foram incluídos nesse programa – que prevê a redução de até 30% na jornada de trabalho e nos salários, com a complementação de metade da diminuição do rendimento com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Desse contingente, 24,4 mil são de fábricas de montadoras no Grande ABC (Mercedes, Volkswagen e Ford) na região.
 
 
Demanda cai, mas produção e estoques crescem em outubro
 
Mesmo com vendas 4% menores em outubro frente a setembro, a produção total de veículos (automóveis, picapes, caminhões e ônibus) cresceu 30%. Com isso, o volume de carros parados nos pátios ou nas concessionários aumentou. Agora, o total dos estoques (340,6 mil no fim de outubro) chega a representar 53 dias para comercialização, ante 51 dias em setembro. O aumento da fabricação ocorreu por causa de paradas de empresas (por férias coletivas e licenças remuneradas) em setembro, segundo o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Moan.
 
No entanto, nos primeiros dez meses de 2015, a quantidade de carros que saíram da linha de montagem das fábricas (2,11 milhões) é 21% menor que em 2014. Isso se deve ao esforço das empresas para se ajustar ao ritmo das vendas no período, que caíram 24% frente a janeiro a outubro de 2014.
 
Moan acrescentou que os últimos três meses deste ano devem ser afetados pelo efeito estatístico. No fim de 2014, houve antecipação de compras pela expectativa – que se concretizou – do fim da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos carros a partir de janeiro de 2015.
 
EXPORTAÇÕES – A única área que registra resultados positivo, no setor, é o comércio exterior. As vendas de carros a outros países cresceram 17% neste ano até outubro ante igual período de 2014. Foram 333 mil unidades vendidas. Parte desse desempenho se deve à Argentina, que esboça reação nas compras de veículos brasileiros: alta de 5% no acumulado do ano, com 227 mil unidades importadas do Brasil. Outros destinos também mostram melhora, entre os quais o México (crescimento de 73%, para 51,7 mil veículos) e o Chile (64% a mais, com 9.100 unidades adquiridas). A Anfavea segue tentando ampliar acordos comerciais com outros países. No mês passado, a entidade participou de missão ao Irã e, neste mês, há a expectativa de que avancem conversas com a Comunidade Europeia.