Transportadoras pedem ação enérgica do governo

Responsáveis por cerca de 60% do volume de mercadorias movimentadas no Brasil, as empresas de transporte rodoviário de carga cobram do poder público ações mais enérgicas de combate ao roubo de carga, que vem crescendo nos últimos anos. Ao mesmo tempo, elas recorrem cada vez mais ao chamado plano de gerenciamento de risco (PGR), de caráter preventivo, que ajuda a garantir a segurança das suas operações.
 

Além da aplicação de penas mais severas, é consenso no setor que o foco da repressão deve ser a figura do receptador, que alimenta um tipo de crime praticado muitas vezes por quadrilhas bem organizadas e fortemente armadas. "Hoje, o receptador apanhado é indiciado, paga fiança e aguarda em liberdade o julgamento do processo", diz Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da NTC (Associação Nacional dos Transportadores de Carga e Logística). A NTC estima em 15,2 mil o número de ocorrências no ano passado, com prejuízo de R$ 1 bilhão – dados ainda não consolidados. Em 2012, foram registrados 14,4 mil casos, que resultaram em perdas de R$ 960 milhões às empresas do setor.

 

A maioria dos roubos (70%) é realizada nos centros urbanos, com maior incidência no Sudeste, principalmente nos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Os 30% restantes ocorrem nas rodovias, têm abrangência nacional e envolvem cargas de grande volume e alto valor agregado, como produtos eletroeletrônicos, medicamentos, autopeças, tecidos e produtos metalúrgicos.

 

Na área legislativa, uma das demandas é a regulamentação da Lei Complementar 121, aprovada em 2007, que cria um sistema nacional de combate e repressão a furtos e roubos de veículos e carga. O setor conta com a aprovação do Projeto de Lei 1.778/11, que permite a cassação do CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) de estabelecimentos envolvidas na receptação de mercadorias roubadas.

 

No Estado de São Paulo, que concentra 52% dos roubos de carga, entrou em vigor no início do ano a Lei 15.315, que prevê a aplicação de penalidades às empresas que adquirem, transportam, estocam ou comercializam produtos de origem ilícita: elas perderão a inscrição no cadastro de contribuintes do ICMS e ficarão impedidas de emitir nota fiscal.

 

Já na esfera policial, a Polícia Civil paulista ganhou 69 núcleos especializados no combate desse tipo de crime, no âmbito do Procarga (Programa de Prevenção e Redução de Furtos, Roubos, Apropriação Indébita e Receptação de Carga). "Outras medidas estão sendo adotadas, como a criação de um banco de dados específico", diz o delegado Renato Marcos Porto, da Divecar (Divisão de Investigações sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas), do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado).

 

Enquanto aguardam o poder público, as empresas se apoiam em rigorosos PGRs. Em geral, esses planos contemplam a adoção de sistemas de rastreamento dos veículos, de sensores e travas de segurança e o uso de software de roteirização. Além do aparato tecnológico, é comum a escolta armada quando se trata de carga mais visada pelas quadrilhas.

 

A Elog optou pela elaboração interna de seu PGR em vez de contratar uma gerenciadora de risco no mercado – uma exigência das seguradoras para a emissão da apólice de seguros. "A gestão de risco é crucial aos nossos clientes e é o core de nosso negócio. Então, concluímos que a inteligência deveria ser nossa", justifica Nelson Ricardo Fernandes da Silva, gerente geral de risco da empresa. Como resultado, diz ele, as ocorrências caíram de 14 registradas em 2012 para apenas três no ano passado.

 

Além de todas as medidas previstas no PGR, a ID Logistics evita entregas noturnas e costuma fazer um filtro do quadro de colaboradores, já que as quadrilhas, muitas vezes, estão infiltradas e começam a agir dentro do centro de distribuição das empresas. "Essas ações são preventivas e permitem ter reações mais rápidas quando há roubo de carga", diz Nicolas Deroin, diretor geral da empresa, que registrou apenas dois casos de roubo no segundo semestre de 2013 e nenhuma ocorrência nos três primeiros meses deste ano. Com atuação em mais de 1.500 cidades, a DHL Express utiliza caminhões descaracterizados e motoristas sem uniformes em entregas em endereços considerados de risco.

30/4/2014
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