Tecnologia deve reduzir gargalos em rodovias do MT

Criada no ano passado pelo governo federal para contribuir com o planejamento do setor de transportes, nos mesmos moldes da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) se deparou com um problema quando saiu do papel: a inexistência de dados sobre o setor.

Se um interessado hoje questionar qual o tamanho da frota de caminhões no Brasil e qual a sua idade, dependendo do órgão consultado, terá uma resposta diferente. Sem uma base de dados atualizada e eficiente, a tarefa de planejar a matriz de transporte ao longo das próximas décadas se torna complicada e improdutiva. Para resolver esse gargalo, deu-se partida em um projeto chamado de Observatório Nacional de Transporte e Logística, que com uma série de ações busca consolidar ao longo dos próximos anos um amplo banco de dados sobre o setor de transportes com informações em tempo real.

Uma das iniciativas envolve um projeto piloto com tecnologia inovadora a ser implementado nos próximos meses no corredor de exportação entre as fazendas de Mato Grosso e o porto de Santos, no litoral paulista. Atualmente, grande parte dos grãos é escoada por meio de caminhões que, ao longo dos mais de mil quilômetros de percurso, têm de passar por várias barreiras de fiscalização da Receita Federal.

Alguns produtores de Mato Grosso estimam que, em alguns trechos, a fila de caminhões para se submeter ao procedimento chega a se estender por 18 quilômetros. Exportadores de carne estimam que economizariam 58 horas por mês em viagens com processos mais desburocratizados nesses pontos de coleta de informações fiscais.

Ciente desses problemas, a EPL está conduzindo um projeto piloto – em parceria com a Receita Federal e o Confaz, órgão nacional que reúne os 27 secretários estaduais de Fazenda – que irá instalar identificadores digitais em alguns caminhões que fazem o percurso entre Mato Grosso e o porto de Santos. Nesses documentos eletrônicos, do tamanho de um cartão de crédito, serão incorporadas informações sobre a carga transportada, a empresa que está escoando o produto, as notas fiscais da mercadoria e outros documentos que são dados nesses pontos de coleta.

"Além disso, haverá o lacre, a placa e a documentação do veículo, isso permitirá que a empresa tenha o rastreamento da carga e que os pontos de coleta possam ter mais agilidade, porque não precisarão parar o veículo a cada momento do percurso", afirma o gerente do projeto Observatório Nacional de Transportes e Logística da EPL, Manuel Poppe.

As primeiras antenas desse projeto piloto já começaram a ser instaladas ao longo do percurso e a expectativa é de que ele possa ser iniciado no próximo ano. A intenção é de que esse conjunto de informações possa contribuir para reduzir gargalos ao longo do caminho.

"Na primeira antena, já será transmitida informação sobre a carga transportada, o porto de destino e sobre qual o prazo de chegada, o que ajudará a Secretaria de Portos, por exemplo, que poderá se programar melhor e analisar quantos caminhões chegarão em um dia e se é melhor que ele retarde um pouco a chegada para não coincidir com um dia de mais movimentado", explica o gerente da EPL.

Ao se tornar bem sucedido e se expandir para outras regiões do país, o programa também criará um banco de dados em tempo real, que permitirá um mapeamento completo das cargas movimentadas no Brasil com informações atualizadas. "Isso permitirá que tenhamos um planejamento muito mais preciso, com uma pesquisa de origem e destino em tempo real", afirma.

Em paralelo, enquanto esse projeto está ainda dando os primeiros passos, a EPL contratou recentemente um estudo de origem e destino de cargas, que irá avaliar a entrega e recebimento de mercadorias em 300 pontos em território nacional em três períodos do dia. Seu resultado deverá ser anunciado no segundo semestre de 2014.

Outro ponto que o governo federal está trabalhando para melhorar a competitividade é o horário de funcionamento dos portos brasileiros. A maioria deles não trabalha durante 24 horas, sendo essa uma das principais queixas dos empresários. Dentro da estrutura portuária, convivem 23 poderes anuentes que participam do trâmite de uma mercadoria, como Autoridade Portuária, Receita Federal, Ministério da Agricultura, Marinha, Anvisa.

"O problema de operar durante as 24 horas não é das Companhias Docas, mas depende de acordo com cada um dos órgãos anuentes existentes na estrutura portuária. Estamos em processo de negociação com cada um deles para que possamos ter funcionários de cada um desses poderes presentes 24 horas em cada um dos portos", afirma o assessor especial da Secretaria Especial de Portos (SE), José Newton Barbosa Gama.

Dentro do projeto de modernização dos portos, o governo federal está trabalhando também para criar 17 Áreas de Apoio Logístico Portuário, que serão construídas próximas dos portos públicos e terão como objetivo servir de estacionamento para os caminhões que esperam chegar aos terminais. Assim poderia se evitar filas nas vias de acesso que interconectam portos e as cidades em que estão inseridos. "Essa é uma novidade que não estava presente no Brasil, mas que está presente em outros países, como a Espanha", diz Barbosa Gama.