Só quatro setores industriais crescem

As recentes medidas de estímulo do governo foram insuficientes para beneficiar toda a indústria. De 27 setores analisados, somente 4 apresentaram tendência de melhora no primeiro semestre, segundo um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
 
Os dados do levantamento do Iedi vão até junho e mostram que a recuperação da indústria foi isolada. Na terça-feira, a pesquisa de produção industrial do IBGE referente ao mês de julho será divulgada. Há expectativa de que a indústria melhore no segundo semestre, mas o histórico observado na primeira metade do ano indica que uma recuperação consistente é um desafio. "Olhando para as tendências setoriais da indústria há poucos sinais de uma recuperação robusta", diz o professor da Unicamp e consultor do Iedi, Julio Gomes de Almeida.
 
Além dos setores com tendência de melhora, o estudo do Iedi classificou os setores com desempenho ruim, os que tiveram melhora mas após grandes quedas – ou seja, com uma base de comparação baixa – e os com oscilação.
 
Os setores com tendência de melhora no primeiro semestre foram bebidas; máquinas, aparelhos e materiais elétricos; veículos automotores e outros equipamentos de transporte. "Um bom desempenho do consumo deve ter colaborado para a trajetória de alta do setor de bebidas", diz o consultor do Iedi. "Máquinas, aparelhos e materiais elétricos é um setor na área de bem de capital. Teve uma melhora tímida, mas tem uma tendência de alta. É o único indicador do ponto de vista setorial que mostra que o investimento pode estar melhorando em alguma dimensão."
 
O crescimento do setor de veículos automotores está galgado no incentivo fiscal concedido pelo governo, enquanto a melhora de outros equipamentos de transporte é considerada pontual pelo Iedi. "Dessa forma, somente dois setores estão com uma tendência segura de melhora. É muito pouco. O crescimento da indústria deve acontecer, mas ele ainda precisa ser construído", afirma o pesquisador.
 
A expectativa do Iedi é que as ações já adotadas de estímulo vão surtir efeito em algum momento. A taxa básica de juros, por exemplo, cai há um ano. Na quarta-feira, o Banco Central reduziu a Selic para 7,50% ao ano, nível mais baixo da história. Além disso, a disposição do governo em ter a iniciativa privada como parceira para determinadas áreas da infraestrutura colabora para um otimismo do setor industrial.
 
"O processo de concessão de ferrovias e rodovias mexe com a expectativa empresarial e sinaliza que o governo está fazendo alguma coisa. Nesse caso, o efeito concreto deverá ser visto de um a dois anos, mas há uma sinalização de expectativa importante", afirma o consultor do Iedi.
 
Dificuldade. Os motivos apontados pelo setor industrial para as dificuldades que impendem um crescimento robusto são antigos: vão do chamado custo Brasil até a invasão de importados, sobretudo da China.
 
O problema é que a indústria tem ficado cada vez mais para trás, evidenciando o descompasso com o restante da economia.
 
No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria recuou 2,5% ante os três primeiros meses do ano. Na mesma base de comparação, a agricultura cresceu 4,9% e o setor de serviços avançou 0,7%.
 
No setor têxtil e de confecção, por exemplo, enquanto o varejo teve alta de 4,2% entre janeiro e julho, a produção têxtil caiu 6,7% e a de vestuário desabou 13,1%. "O mercado interno do Brasil tem um potencial de crescimento, mas os novos consumidores estão simplesmente sendo abastecidos por produtos de fora do País", afirma Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
 
A importação chinesa é a grande responsável pelos resultados ruim do setor têxtil e de vestuário – entre janeiro e julho, aumentaram 46%. No mês passado, por causa dessa alta expressiva a Abit protocolou um pedido de salvaguarda no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior contra os confeccionados importados.
 
"A China tem subsídios de todas as formas, absolutamente agressivos. Um estudo da Abit revelou que, ao todo, são 27", diz o presidente da entidade. O setor têxtil emprega 1,7 milhão e é o segundo maior criador de emprego na industria de transformação, depois dos setores de alimentos e bebidas juntos.
 
O descompasso entre mercado interno em alta e produção em queda também é enfrentado pelos empresários do setor de equipamentos de instrumentação médico-hospitalar. Em junho, a queda foi de 10,5%.
 
"O mercado interno cresce porque as pessoas com mais baixa renda passaram a ter um atendimento mínimo na área da saúde e também houve um aumento da força de trabalho, o que faz com que novos funcionários passem a pertencer as empresas de saúde", afirma Paulo Fraccaro, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos (Abimo).
 
Este ano as importações de equipamentos devem somar US$ 3,3 bilhões, enquanto as exportações vão chegar a US$ 850 milhões, crescendo para US$ 1 bilhão em 2013. Entre os grandes compradores de importados, estão os hospitais filantrópicos que têm isenção. Dessa forma, o mercado fica muito restrito já que o investimento do setor público na saúde é baixo. "O único mercado que sobra são os hospitais privados", afirma Fraccaro.
 
O alívio para o setor de equipamentos hospitalares pode ser a instalação de uma fábrica de aceleradores lineares para o tratamento de câncer.