Seca em São Paulo já causa perdas à indústria do estado

Os prejuízos da maior seca em São Paulo nos últimos 80 anos já começam a chegar ao caixa das empresas do estado. No agronegócio, o transporte de soja por rodovia, após a paralisação da Hidrovia Tietê/Paraná, custou R$ 30 milhões a mais aos produtores. A cidade de Tambaú, polo da indústria cerâmica, amarga prejuízo de R$ 4 milhões com a queda da produção pela escassez de água.
 
Grandes empresas, como a JBS, localizada em Barretos, a 440 km da capital, anteciparam as férias coletivas e paralisaram a produção após a prefeitura decretar o racionamento. Em Guarulhos, na Grande São Paulo, a fabricante de motores Cummins compra todos os dias seis carros-pipa para evitar que a produção pare. Cada um custa cerca de R$ 1 mil.
 
— A crise hídrica está muito severa em São Paulo, portanto há impacto na indústria. Muitas empresas, em diferentes áreas do estado, estão administrando e racionando o uso da água para evitar paralisações — afirma Nelson Pereira dos Reis, diretor de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
 
 
‘Se piorar, serão dez carros-pipa por dia
 
Ao menos 54 municípios paulistas já decretaram racionamento. Ainda assim, a Fiesp não consegue estimar de quanto será o prejuízo da crise para o Produto Interno Bruto (PIB) paulista, atualmente em R$ 1,2 trilhão. Reis detalha que as indústrias já vinham produzindo em ritmo mais lento com a economia fraca, o que acaba reduzindo os possíveis efeitos da crise hídrica na atividade. Ele também salientou que as indústrias têm alternativas ao fornecimento regular de água, com a utilização de técnicas de reúso, captação de rios e perfuração de poços artesianos.
 
As perdas começam a surgir. O presidente do Conselho de Logística e Infraestrutura da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Renato Pavan, explica que o transporte da soja pela Hidrovia Tietê/Paraná custa R$ 86 por tonelada. Com o rio seco em alguns trechos, a alternativa foi levar por rodovia cerca de 2 milhões de toneladas de São Simão até Pederneiras, a um custo de R$ 101 a tonelada. Depois, a soja vai por ferrovia até o Porto de Santos.
 
— Até agora, já foram R$ 30 milhões de gastos a mais, e agora começa a safra do milho. A capacidade de transporte da hidrovia é de 6 milhões de toneladas/ano — diz Pavan.
 
Calcula-se que na região da hidrovia entre Araçatuba e Barra Bonita, que compreende 42 municípios, mais de três mil trabalhadores já perderam o emprego.
 
Outro setor fortemente impactado pela estiagem é o têxtil. Metade das produtoras têxteis do país está em São Paulo. A água é usada, por exemplo, no processo de coloração dos tecidos. Embora não divulgue o nome de empresas com problemas, procurada pelo GLOBO, a Associação Brasileiras da Indústria Têxtil (Abit) reconhece que muitas associadas passam por dificuldades.
 
Em Barretos, a unidade do frigorífico JBS antecipou do dia 4 de novembro para a última segunda-feira o início das férias coletivas dos cerca de mil funcionários por causa do racionamento de água na cidade, decretado no último dia 20. Os empregados ficarão parados por 20 dias, e a empresa informa que as férias já estavam programadas. Todos os abates estão paralisados e a demanda deverá ser suprida por outras unidades da empresa.
 
Em Guarulhos, a fabricante de motores e geradores de energia Cummins, está comprando seis carros-pipa de água por dia para não paralisar a produção, depois que a vazão das torneiras foi reduzida. A cidade está em racionamento. A água comprada pela empresa está sendo utilizada nos processos de fabricação, no restaurante e até nos banheiros, informa Cintia Rignani, supervisora de segurança e meio ambiente.
— Desde maio, comprávamos dois carros-pipa por dia. Há dois meses, começamos a comprar quatro e, desde a semana passada, são seis. Ainda recebemos água da rede pública, mas se a situação piorar serão necessários dez carros-pipa por dia para evitar a paralisação da unidade, que tem 1.500 funcionários — diz ela.
 
 
Parte da semana a portas fechadas
 
Na cidade de Tambaú, a 298 km da capital, as 70 indústrias do ramo ceramista têm dificuldade em manter o quadro de funcionários. Em razão da falta d’água, são obrigadas a fechar as portas em alguns dias da semana.
 
— A situação está muito difícil. A seca dos últimos meses vai afetar o resultado de toda nossa indústria — diz Luiz Caetano de Castro, diretor executivo da Associação Industrial de Tambaú.
 
A Rhodia foi a primeira a acender a luz amarela na produção. Até a semana passada, a empresa havia instituído um sistema de rodízio em quatro das suas 22 unidades localizadas em Paulínia, interior de São Paulo. A empresa do grupo belga Solvay informou que houve um “aumento considerável da disponibilidade de água que a empresa capta do Rio Atibaia” e, por isso, “reiniciou a produção nas quatro unidades”. Segundo a empresa, a situação foi mais complicada em fevereiro, quando houve paralisação total de uma destas mesmas unidades, por duas semanas.