Rodízio perde característica inicial

Criado em 1997 com o objetivo de ajudar a controlar a poluição, o rodízio perdeu sua característica principal e passou a ser usado para controlar o trânsito da cidade de São Paulo. Mas, com o tempo, deixou de ser eficiente. Depois de 16 anos, os órgãos públicos pensam em alternativas para fazer São Paulo andar. Governo e população defendem a necessidade de novas medidas acopladas ao rodízio para reduzir o congestionamento e, consequentemente, a poluição do ar.
 
A CET e a SPTrans estão trabalhando juntos nesta questão. Segundo o diretor de Planejamento da CET, Tadeu Leite Duarte, o órgão está investindo em tecnologia para que se possa visualizar os semáforos em tempo real. Já a SPTrans está ampliando o uso e os horários das faixas exclusivas para ônibus e instalando novos corredores para o coletivo. "No fim do ano já será possível vislumbrar alguma melhora no transporte público e na tecnologia para monitoramento", diz.
 
O consultor e especialista em Trânsito, Horácio Augusto Figueira, diz que "o governo subestimou a inteligência do consumidor, que foi criando alternativas ao rodízio, como a compra de um segundo automóvel e até mesmo de motos", afirma. Ele acredita que as medidas que estão sendo tomadas para incentivar o uso de coletivos são positivas, mas ressalta que a cidade ainda está muito atrasada nesta questão.
 
"Estamos 40 anos atrás de Curitiba. Lá o privilégio no trânsito é dado ao ônibus. Lá o congestionamento de automóveis não atrapalha o ônibus", afirma. Figueira também defende o fim das restrições para ônibus fretados. "É um mercado que precisa ser liberado".
 
A CET fez um estudo recentemente que mostra que é possível aumentar a velocidade dos automóveis no horário de pico mantendo a restrição de dois finais de placas por dia e ampliando o número de vias em cerca de 22, as chamadas artérias. Duarte explica que este novo modelo não tem data para entrar em funcionamento e vai depender da melhora de velocidade dos ônibus, que deve acontecer após o aumento no número de faixas e corredores de ônibus.

A medida não agrada o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo e Região (Setcesp), Manoel Sousa Lima Júnior, que diz que o setor já sofre com o rodízio e a restrição aos caminhões no centro expandido. "Antes era possível fazer 40 entregas num dia. Hoje só 10". Ele diz que o setor apresentou uma proposta para que as entregas em grandes supermercados e shoppings sejam feitas à noite.
 
Preocupado com a questão ambiental, o consultor e ex-secretário de Transportes de São Paulo, Fábio Feldman, destaca a necessidade de transporte sustentável. "É preciso uma política estadual de transporte sustentável e proteção do meio ambiente". Feldman lembra que hoje a taxa de ocupação dos carros é de 1,7 passageiro por veículos. "Tem que haver um incentivo à carona solidária. Estipular que em determinados horário os carros só circulem com três ou mais pessoas", diz. Para Feldman, o aumento da frota de carros em todo o país vai fazer com que o rodízio seja adotado em outras cidades.