Ritmo de venda de carro deve se desacelerar

 
Depois de crescer a taxas próximas de dois dígitos entre 1991 e 2010, o ritmo de expansão do licenciamento de veículos tende a sofrer uma desaceleração considerável nas duas próximas décadas, mostra um estudo da LCA Consultores sobre as perspectivas para o setor automotivo brasileiro.
 
Se o Brasil seguir o parâmetro dos Estados Unidos para a taxa de veículos por habitante, o avanço médio deverá ficar em 3,5% ao ano entre 2013 e 2031, dadas as projeções para o crescimento da população, da renda per capita e da frota brasileira de automóveis, considerando os veículos que entram no mercado a cada ano e os que deixam de circular, por causa da depreciação. Se o parâmetro for a Itália, que tem a maior taxa de veículos por habitante quando se analisa o Produto Interno Bruto (PIB) per capita por paridade do poder de compra, a taxa de crescimento máxima seria de 5,7%, aponta a LCA.
 
Elaborado pelos economistas Francisco Pessoa e Douglas Uemura, o estudo tem como objetivo analisar o grau de saturação do mercado automobilístico brasileiro. O setor tem patinado neste ano, num cenário de maior endividamento das famílias e de aumento da inadimplência e, para alguns analistas, por causa de uma possível saturação do segmento. Os dois primeiros fatores têm caráter conjuntural, podendo ser revertidos mais rapidamente. O outro, mais estrutural, merece uma avaliação mais detalhada, para definir o potencial de crescimento das vendas de veículos no longo prazo, diz Uemura. Para isso, foi feita uma comparação com o que se passa em outros países com maior taxa de veículos por habitante.
 
Com base em dados de 2009, a maior taxa de veículos por habitantes – chamado de "grau de motorização" no estudo – é dos EUA, de 0,83. No Brasil, o número estava em 0,15. Segundo Uemura, um motivo simples ajuda a entender a diferença – o nível de renda dos consumidores. Desse modo, o cálculo foi feito levando em conta o PIB per capita por paridade do poder de compra (que leva em conta a capacidade de compra de cada moeda nacional). Por esse critério, o país mais motorizado é a Itália, com uma taxa de veículos por habitante 25% superior à americana.
 
Para estimar o potencial de expansão da frota de veículos brasileiros, a LCA estimou então uma trajetória para o PIB brasileiro per capita por paridade do poder de compra nas duas próximas décadas, levando em conta que o país atingisse o mesmo "grau de motorização" dos EUA e da Itália. São feitas então várias simulações para o ritmo de expansão da frota, que apontam para uma taxa média de 3,5% ano entre 2013 e 2031 se o Brasil atingir o mesmo nível dos EUA e de 5,7%, se chegar aos números italianos. Nas duas hipóteses, taxas bem inferiores aos 9,4% observados entre 1991 e 2010.
 
"Por esse motivo, torna-se ainda mais importante que se analisem estratégias que possam aumentar a competitividade da indústria automotiva, a fim de elevar a participação de veículos nacionais no total de licenciamentos, sem o uso de medidas protecionistas que possam causar problemas com nossos parceiros de comércio, e possibilitar que uma parte maior de nossa produção seja exportada", conclui o trabalho da LCA.