Racionado, crédito atende só a 38% das vendas de veículos

Grande vilão do resultado dos bancos neste ano, o crédito de veículos vem reduzindo sua contribuição à venda de automóveis e motos. Embora os incentivos do governo para venda de veículos tenham ajudado a impulsionar o crédito na modalidade desde abril, há uma queda nítida da parcela de carros que foi comprada com algum tipo de financiamento de um ano para cá, sinal de que persistem os critérios mais rígidos dos bancos para essa modalidade.
 
No terceiro trimestre de 2012, as vendas financiadas de veículos (que incluem carros, motos e veículos pesados) responderam por 38% do total comercializado, ante uma parcela de 45% no mesmo período do ano passado. Só no mês de setembro, a fatia financiada das vendas caiu de 43,2% em 2011 para 34,9% em 2012, o menor percentual desde 2007.
 
Os dados são da unidade de financiamentos da Cetip, que registra as operações de crédito de veículos dos bancos nos departamentos estaduais de trânsito. O restante das vendas está dividido em pagamento à vista, consórcio e leasing, mas a Cetip não divulga a fatia de cada modalidade.
 
Considerando apenas carros e motos, a queda é menos acentuada, mas segue a mesma tendência. No acumulado de 2011 até setembro, 44,5% das vendas de carros e de motocicletas foram financiadas, percentual que caiu para 39,6% em igual período deste ano.
 
"Aumentou um pouco quem faz consórcio, mas o que cresceu mesmo foi o cliente que não financia", afirma Marcelo Jallas, da concessionária Amazon, que revende Fiat e Volkswagen. Na loja, 58% das vendas de carro zero quilômetro são financiadas, ante um padrão histórico de 70%. "Não vejo sinais de que isso vá mudar tão cedo."
 
A menor fatia de vendas financiadas reflete a maior seletividade das instituições financeiras em conceder crédito para veículos. A inadimplência, contrariando o que esperavam alguns bancos, vem resistindo a cair. A taxa de atrasos superiores a 90 dias no crédito de veículos da pessoa física estava em 6% em setembro, dado mais recente do Banco Central. Esse nível, o mais alto da série histórica, vem se mantendo desde abril.
 
"Hoje, quem tem "ficha" de crédito fraca já nem sai de casa para comprar carro. As pessoas cansaram de receber não quando pedem crédito para carro", conta Evandro Garms, da concessionária Germânica, que revende Volkswagen. "Acho que alguns clientes viram que a poupança estava rendendo menos e aproveitaram o IPI reduzido para comprar à vista."
 
Há quem espere, porém, que a parcela financiada das vendas volte a crescer nos próximos meses. "Acho que a queda é uma questão de momento e as vendas financiadas devem voltar a aumentar", afirma Décio Carbonari de Almeida, presidente do Banco Volkswagen e da Anef, associação que reúne bancos de montadora. Ele defende que há espaço para que o percentual de vendas de veículos financiadas no Brasil chegue próximo ao do mercado americano, em que 90% das vendas usam crédito.
 
Com base nas informações de seus associados, a Anef divulga um indicador de vendas à vista de veículos que mostra um avanço bem mais discreto que o da Cetip. No acumulado do ano até setembro, 39% das vendas foram à vista, ante 38% em 2011 todo. Os carros entregues por consórcio foram 8% do total neste ano, ante 7% em 2011.
 
"Não foi só a penetração de financiamentos que caiu. Os prazos e o tíquete médio das parcelas também encolheram neste ano", afirma Roberto Dagnoni, vice-presidente da unidade de financiamentos da Cetip. Ele sinaliza, porém, uma recuperação do crédito de veículos em outubro. Após queda de 8% no número de financiamentos registrados pela empresa entre agosto e setembro, outubro trouxe crescimento de 8,3% também na comparação mensal.
 
Procurados, Itaú Unibanco, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa não quiseram se manifestar.