Produção recorde em 2013 mantém mercado aquecido

O recorde de vendas de caminhões no país em 2013 -154,5 mil unidades entre nacionais e importados – representou um aumento de 43,1% em relação ao ano anterior e teve como trampolim as obras de infraestrutura, o crescimento do agronegócio e as taxas atrativas de financiamento do PSI/Finame operado através das linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Mas houve um quarto fator a impulsionar o segmento: a adaptação dos fabricantes à nova tecnologia Proconve P-7 [Euro 5] – menos poluente -, que havia derrubado os negócios em 2012", diz Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
 
Moan esclarece que dois anos atrás houve uma base fraca de venda de caminhões porque o preço dos veículos que já vieram com a nova tecnologia europeia embarcada – ao que se aliou uma grande dificuldade com o abastecimento do óleo diesel adequado – provocou forte impacto no mercado. Em 2013 houve a recuperação, tanto pela disponibilidade satisfatória do novo combustível, como porque os fabricantes se adaptaram às novas regras. "Na verdade, todo mundo aprendeu que o caminhão com a tecnologia Euro 5 traz significativa economia operacional e, além de poluir menos, reduz bastante o consumo do diesel, que é o principal componente de custo".
 
O presidente da Anfavea confirma, no entanto, que nos primeiros quatro meses de 2014 houve uma redução de vendas. Mas assegura que isso ocorreu mais em função de um atraso na operacionalização do financiamento PSI/Finame no primeiro mês do ano do que por qualquer outra coisa. "Como é sabido, mais de 95% da comercialização de caminhões é feita por meio de crédito", diz, acrescentando que apenas no dia 27 de janeiro passado essa linha do BNDES foi oficializada. "Com esse atraso os fabricantes perderam praticamente um mês de vendas".
 
"Por enquanto não dá para fazer uma previsão mais concreta sobre as vendas até o final de 2014, até porque só no dia 2 de maio passado foram publicadas as últimas regras do BNDES para o financiamento, como a autorização para o caminhoneiro dar uma entrada menor no ato do financiamento para compra do veículo", diz, antecipando que os investimentos das montadoras devem continuar e até mesmo serem incrementados este ano. "Isso porque o mercado brasileiro mantém um alto potencial de vendas de caminhões, não só de leves como de pesados".
 
Segundo Eronildo Santos, diretor de vendas de veículos da Scania no Brasil, o ano de 2013 foi histórico para a montadora. "A empresa bateu seu recorde de emplacamentos de caminhões desde que chegou ao país em 1957, com 18 mil unidades de pesados emplacados, share de 32,2% e alta de 80,9% de vendas sobre 2012", diz, acrescentando que com o agronegócio aquecido, o modelo pesado R-440 foi o caminhão preferido do mercado para o transporte de grãos e insumos. "Do total de emplacamentos, 44% das unidades do modelo foram para o agro".
 
Sobre as dificuldades iniciais de 2014, Roberto Cortes, presidente da MAN Latin America, informa que no primeiro quadrimestre deste ano as vendas de caminhões da montadora caíram 14%. Ele acha que mesmo que haja uma retomada de maio para frente, vai ser difícil compensar o que já caiu até abril. "Nossa projeção é de uma queda de aproximadamente 10% em 2014".
 
Mas Cortes alimenta otimismo quanto ao futuro próximo. "O país deve crescer a uns 4% ao ano, se não a partir de 2015, nos anos seguintes", aposta. Além disso, o país precisa investir muito na infraestrutura de transportes, que favorece fortemente a indústria de caminhões. "Até agora o Brasil não tem feito tudo o que é necessário nessa área, mas mais cedo ou mais tarde terá que fazer", diz, antecipando que as inovações futuras planejadas pela MAN estão focadas em combustíveis alternativos menos dispendiosos.
 
O executivo Gilson Mansur, diretor de vendas e marketing de caminhões da Mercedes-Benz, diz que no ano passado foram emplacados 36,8 mil caminhões Mercedes no país, volume 9% maior que o de 2012, quando foram emplacados 33,8 mil unidades no mercado interno. "Em 2013 tivemos um cenário consolidado quanto à introdução do Euro 5", diz, observando que agora os transportadores já conhecem e se beneficiam das vantagens da tecnologia. "São 6% de economia de óleo e maiores intervalos de manutenção".
 
Mansur conta que a Mercedes-Benz está investindo R$ 2,5 bilhões de 2010 a 2015, recursos destinados à pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, nacionalização da linha de caminhões extrapesados Actros, otimização de processos e modernização de áreas de produção. "A Mercedes vai buscar uma participação de 26% do mercado total de caminhões no mercado interno e os setores que deverão ter mais peso nas vendas deste ano são o agronegócio, construção civil e bebidas".
 
Segundo Guy Rodrigues, diretor de operações para América do Sul da Ford Caminhões, no ano passado a montadora destacou-se no segmento de leves, que representa 20% do mercado nacional de caminhões, com 10,1 mil unidades emplacadas, um crescimento de 4,5% em relação a 2012. "Nos demais segmentos, 2013 foi um ano de reestruturação da linha Cargo, especialmente com a entrada da marca no segmento de caminhões extrapesados."
 
Para este ano, a Ford Caminhões pretende enfrentar os desafios trazidos pelos contratempos com a linha de crédito PSI, lançando novos modelos, entre eles a nova Série F, que acontecerá no segundo semestre. "Além dessa série, formada pelos modelos F-4000 e F-350 para aplicações urbana e rural, vamos incrementar a produtividade dos nossos veículos com a oferta de tecnologias acessíveis e motores cada vez mais eficientes", diz, dando como exemplo os motores da linha Cargo que já estão preparados para receber 20% de biodiesel, o que reduz o nível de emissões de poluentes.
 
Pelos lados da Iveco, em que pese o planejamento da montadora ter anteriormente vislumbrado um início de 2014 com vendas fortes, o atraso na apresentação das regras do PSI fez com que muitas transportadoras segurassem seus investimentos, o que retraiu a montadora em 10% no primeiro trimestre. "Mesmo com um cenário nem sempre positivo, destacamos que o mês de abril já trouxe uma retomada nos negócios da Iveco", diz Alcides Cavalcanti, diretor comercial da montadora, para quem a expectativa agora é de manter essa trajetória ascendente no restante do ano, recuperando o nível tradicional dos seus negócios.