Produção de carros voltará ao nível de 2007

A indústria automobilística brasileira deverá fechar o ano com o mesmo patamar de produção de 2007. O setor terá sua atividade reduzida em 10%, na comparação com os números de fabricação em 2014, de acordo com novas projeções da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) divulgadas ontem. A estimativa divulgada em janeiro era de crescimento de 4,1%, mas o cenário de incertezas e falta de confiança de empresários e consumidores nos rumos da economia, que dificultam as vendas, fizeram a entidade rever suas expectativas.
 
A associação prevê agora que saiam das linhas de montagem do setor no País apenas 2,8 milhões de unidades (de carros, picapes, caminhões e ônibus), o que aprofundará o fosso em que a indústria já estava em 2014, quando as montadoras produziram 15% menos que em 2013. Também houve a revisão dos licenciamentos no mercado interno. A projeção inicial era empatar com o resultado do ano passado, que representou queda de 7% ante 2013. Agora, espera-se retração de 13,2%, para o total de 3,04 milhões de emplacamentos, menor nível dos últimos oito anos.
 
As perspectivas tomam como base um primeiro trimestre considerado como o pior desde 2007 para a produção de veículos, com 660 mil unidades fabricadas, queda de 16% ante 2014. As vendas também apresentaram recuo de 17% ante os três primeiros meses do ano passado, com 674 mil unidades. “Já esperávamos ter um resultado extremamente ruim”, diz o presidente da Anfavea, Luiz Moan.
 
Ele destaca que a situação é particularmente complicada na área de veículos pesados (caminhões e ônibus), em que a comercialização encolheu 36% nos primeiros três meses do ano. Nesse segmento específico, a entidade estima queda forte no ano todo: de 22,5% na produção e 31,5% nas vendas na comparação com o desempenho de 2014.
 
A única expectativa favorável vem das exportações, que devem ganhar impulso por causa do dólar mais valorizado. A associação avalia que será possível ter ampliação de 1,1% nas encomendas ao Exterior, mesma previsão feita em janeiro. Moan assinala ainda que há esforço para o fechamento de acordos comerciais com países da América Latina. “Acabamos de concluir negociações com o México, estamos em conversas com a Argentina e vamos fazer uma última reunião com o setor privado colombiano”, afirma.
 
EMPREGOS – Com vendas fracas, as montadoras têm adotado estratégias como lay-offs (suspensão de contratos por tempo determinado), licenças remuneradas e folgas, para ajustar a produção à demanda. No entanto, os estoques seguem elevados. Correspondem hoje a 46 dias, um pouco menos que os 50 de fevereiro (levando em conta o ritmo de vendas desse mês).
 
Por causa disso, o segmento segue demitindo. Na área de veículos, houve cortes de 11 mil postos nos últimos 12 meses. O setor atualmente emprega 123 mil pessoas, mesmo patamar de maio de 2011.
 
E a abertura de PDVs (Programas de Demissão Voluntária), como o realizado na Mercedes-Benz, em São Bernardo, e encerrado na semana passada, e o da Volkswagen, na mesma cidade, que já registrou a adesão de 760 trabalhadores e segue aberto até o dia 10, devem fazer o enxugamento de vagas prosseguir no setor.