Produção das montadoras tem pior nível em três anos

Com marcas históricas nos emplacamentos – como reflexo de uma série de medidas do governo para turbinar o consumo -, mas ainda sem poder de fogo para competir no mercado internacional, a indústria automobilística divulgou ontem indicadores antagônicos sobre seu desempenho no ano passado.
 
Na contramão do avanço de 4,6% das vendas de veículos, tanto a produção quanto as exportações das montadoras terminaram 2012 no nível mais baixo em três anos. No caso da produção, a queda – de 1,9% – foi a primeira em dez anos. Já nas exportações, o recuo foi mais expressivo: 20,1% abaixo de 2011, o que interrompeu a recuperação das vendas externas dos dois anos anteriores.
 
No terreno doméstico, as montadoras instaladas no Brasil conseguiram recuperar parte do espaço perdido para a concorrência estrangeira em 2011. De um ano para outro, a participação dos importados no mercado automotivo brasileiro – o quarto maior do mundo – caiu de 23,6% para 20,9%, num desempenho explicado pela sobretaxa de 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros vindos do exterior, com exceção de Mercosul e México.
 
Contudo, se os incentivos anunciados em Brasília foram eficazes ao evitar um ano negativo para as vendas internas, o setor segue sem encontrar o caminho da competitividade no exterior. Tal situação ganha contornos mais críticos diante da crise na Europa e das tensões – com restrições de ambos os lados – nas relações comerciais com a Argentina, o principal parceiro da indústria automotiva brasileira.
 
O especialista Luiz Carlos Mello, que presidiu a Ford entre 1987 e 1992, lembra que, além da recessão, um dos obstáculos para as montadoras brasileiras na Europa tem sido a competição agressiva dos carros da Coreia do Sul, de marcas como Kia e Hyundai. Enquanto os coreanos chegam ao mercado europeu com design moderno, estilo agradável e preços competitivos, os automóveis brasileiros pouco agregam ao que já é produzido na região, tanto em preço como em tecnologia. Assim, estrategicamente, não faz sentido para uma montadora da Europa importar do Brasil carros que ela já monta na região, diz Mello.
 
As projeções traçadas para este ano pela Anfavea – a entidade que abriga as montadoras instaladas no Brasil – apontam para uma recuperação da produção e novo recorde de vendas. Mas a associação ainda mostra pessimismo quando trata das exportações, ao prever um recuo de 4,6% nos volumes embarcados. Segundo Luiz Moan, vice-presidente da Anfavea, a expectativa se justifica pela continuidade – embora em menor intensidade do que em 2012 – da "crise global", com reflexos na demanda em mercados da Europa, América Latina e África.
 
Mas não foi apenas o desempenho no comércio exterior que comprometeu a produção automobilística brasileira no ano passado. Somam-se à queda nas exportações os ajustes de estoques no primeiro semestre, junto com o péssimo resultado da indústria de caminhões, na qual a produção cedeu 40,5% em meio à transição de linhas que resultou em veículos menos poluentes, porém até 15% mais caros.
 
Ontem, ao apresentar os resultados de 2012, Moan destacou que o socorro do governo às montadoras – com cortes nas alíquotas do IPI a partir de maio – reverteu a tendência de queda no mercado automotivo e representou vendas adicionais de 400 mil veículos no ano passado. No total, 3,8 milhões de veículos foram vendidos no Brasil em 2012, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. No período, a produção somou 3,34 milhões de unidades.
 
O governo já começou a retirar gradualmente os descontos no IPI. Segundo Moan, o retorno gradual do imposto também libera as montadoras a retirar parte dos descontos que vinham praticando por conta própria – em torno de 2,5%. O executivo, contudo, disse que o setor manterá o nível de emprego, que alcançou quase 150 mil pessoas em dezembro, uma alta de 3,7% em um ano.