Preço sobe e pode conter reação do consumo de etanol

Depois de ficar indiferente entre junho e setembro à vantagem econômica de usar etanol hidratado em vez de gasolina, os motoristas de carros flex deverão ser responsável pelo segundo mês consecutivo de alta no consumo do biocombustível no país. Assim como outubro, novembro deve registrar uma demanda um pouco mais aquecida, segundo estimativa preliminares do mercado. No entanto, essa recuperação, em parte ajudada por uma grande campanha publicitária patrocinada pelas usinas produtoras, pode ser estancada antes mesmo de deslanchar. Isso porque os preços do produto voltaram subir e esse efeito já respinga no consumidor.
 
Desde o início de novembro, o valor do litro na usina subiu 13%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq). Ao consumidor final, parte desse aumento já chegou, segundo explica o presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Mendes Vaz. E, segundo ele, é possível que já nesta semana alcance em sua totalidade o consumidor. "Por isso, há uma expectativa de que a demanda poderá arrefecer", diz.
 
Em mercados como São Paulo e Goiás – que juntos representam 67% do consumo do biocombustível no país – o ritmo da guinada nos postos de combustíveis está mais intenso do que em outros Estados. Em São Paulo, o preço ao consumidor final registra alta pela segunda semana consecutiva. Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o litro do biocombustível foi vendido, em média, a R$ 1,793 em São Paulo na semana encerrada em 1º de dezembro, alta de 1,45% em relação à semana anterior.
 
No mesmo Estado, a relação do preço do etanol com a gasolina ainda está abaixo da referência de 70%, acima da qual não compensa ao motorista usar o biocombustível em detrimento da gasolina. No entanto, desde junho em 66%, essa relação subiu para 67% ao fim da primeira quinzena de novembro e atingiu na semana encerrada em 1º de dezembro o patamar de 68%.
 
O presidente da SCA Trading, Martinho Seiiti Ono, afirma que houve na usina aumento de preço do hidratado suficiente para que a relação ao consumidor final atinja o limite de 70%. Isso deverá ocorrer, segundo ele, nas próximas semanas. Assim, para que o biocombustível continue viável ao motorista do carros flex é preciso que o preço na indústria pare de subir.
 
Esse repique dos preços na indústria ocorreu por uma série de fatores, explica o executivo da SCA, uma das maiores comercializadoras de etanol do país. Entre eles, está a estratégia das usinas de maximizar o uso da cana para produção de açúcar, em detrimento do hidratado, o que enxugou a previsão de 'sobra' do biocombustível ao fim deste ciclo, em março do ano que vem. "O mercado agora trabalha com a percepção de oferta mais ajustada com demanda", diz Ono.
 
Além disso, segundo especialistas de mercado, as usinas descapitalizadas já queimaram seus estoques de etanol e a oferta está agora nos tanques dos grandes grupos produtores, mais saudáveis financeiramente a ponto de poder conter vendas em momentos de preços depreciados. As exportações também estão mais aquecidas, com embarques previstos para 2,8 bilhões de litros, 300 milhões de litros superiores às estimativas anteriores.
 
Levantamento preliminar do Sindicom indica que no mês de novembro o consumo de etanol superou em 2% o de outubro. No entanto, considerando a média diária pode ter havido crescimento do apetite do consumidor de até 5% em novembro, mês com mais dias úteis do que o anterior. Entre janeiro e outubro, o consumo acumulado de etanol hidratado foi de 8 bilhões de litros, ante 9,2 bilhões de litros do mesmo intervalo do ano de 2011, conforme dados da ANP.