Precariedade do sistema onera custos em até 30%

A precariedade da infraestrutura e os problemas com segurança chegam a representar quase um terço dos custos operacionais no setor de logística. Esse é o cálculo feito por algumas empresas do setor ao enfrentar a questão no dia a dia. E é um custo que tende a crescer na medida em que a falta de investimentos e de soluções provoca o aparecimento de novos gargalos. "Investimos de R$ 7 milhões a R$ 8 milhões por ano na manutenção e R$ 10 milhões na renovação da frota por ano", diz Ronan Hudson, diretor da JadLog. "Poderia ser pelo menos 30% menos se não fosse a precariedade da infraestrutura."
 
Para compensar as deficiências, a JadLog teve de desenvolver "um jeito próprio" de fazer seu trabalho, diz Hudson. Isso inclui uma frota de 31 aviões Caravan, de 1,5 tonelada. A empresa também passou a operar em um número maior de aeroportos. Para atender a região metropolitana de São Paulo, por exemplo, a companhia está operando prioritariamente – e no horário noturno – no aeroporto de Jundiaí, a 60 km da capital paulista. "Isso nos dá uma boa margem de manobra", conta o executivo. A JadLog atua também em Guarulhos, Congonhas e Viracopos (Campinas), mas enfrenta problemas. Os terminais de carga de Guarulhos, por exemplo, têm cobertura de lona e não oferecem plataforma para embarque e desembarque em nível.
 
Quem também decidiu descentralizar a operação aeroportuária foi a DHL. Com forte atuação internacional, a companhia estendeu sua atuação, antes limitada a Guarulhos, para Galeão, no Rio, em outubro de 2012. O próximo passo, programado para breve, será operar em Viracopos, revela Mirele Mautschke, diretora de operações. A executiva diz ainda que, para não depender exclusivamente de voos comerciais, a empresa passará a transportar parte das encomendas em cargueiros aéreos.
 
A necessidade de ampliar as instalações para não depender da infraestrutura também encarece a operação. "A distância entre São Paulo e Curitiba é de apenas 400 km, mas preciso ter um centro de distribuição em Curitiba porque a ligação rodoviária é precária", comenta Clovis Travassos, diretor-geral da TGestiona, operadora logística do grupo Telefónica. "Tanto pode levar seis horas de viagem como pode levar 12."
 
Segurança é o principal custo da TGestiona. "Como trabalhamos com produtos de alto valor agregado, temos que fortalecer o rastreamento, monitoramento, a escolta, a detecção de fraudes etc." O executivo explica que para carregamentos de aparelhos de telefone celular, por exemplo, a seguradora impõe um limite de valor – que ele não revela – por veículo. Acima disso, ou a carga segue com serviço de escolta – contratada à parte – ou tem de dividir a carga em mais carros, para não perder a cobertura.
 
Os serviços são terceirizados e os pacotes renovados a cada três anos. "Sempre aumenta, por conta do encarecimento do custo de segurança." Nos períodos de renovação de seguro, a empresa se vê na contingência de fazer os cálculos e optar entre pagar mais pela apólice ou gastar com as exigências da seguradora, contratando serviços e equipamentos de segurança. Segundo Travassos, a empresa tem custo de manutenção da frota na faixa de R$ 2 milhões por ano.
 
Os investimentos em segurança e para contornar os problemas infraestruturais da Ativa Logística, especializada no transporte de medicamentos e cosméticos, são de R$ 5 milhões por ano, revela Clovis Gil, presidente da empresa. Desde que entraram em vigor as novas normas para o trabalho de motoristas de caminhão – a chamada "lei do descanso" – em março, a empresa teve de ampliar seu efetivo de condutores em 30%, com impactos sobre os custos de operação. Ainda assim, reclama Gil, os motoristas não conseguem parar a cada quatro horas para se refazer das viagens. Faltam postos com ponto de parada.
 
O custo com a gestão da frota também tem aumentado, principalmente devido às restrições de circulação nos centros urbanos. Iniciada em São Paulo em 2008, as zonas de restrição de circulação rapidamente foram adotadas por prefeituras de grandes cidades, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e agora estão chegando também às de porte médio, como Araraquara (220 mil habitantes) e Ribeirão Preto (650 mil habitantes), no interior paulista.
 
As restrições urbanas ajudaram a JadLog a ampliar sua atuação no mercado, diz Hudson. Por trabalhar com carga fracionada, a empresa já dispunha de uma frota mais leve. "Só em São Paulo, temos de 350 a 400 vans que entram em qualquer parte da cidade", revela. "Acabamos ganhando clientes."
 
Quem também aproveita os rigores da lei e as mazelas da infraestrutura é a DHL. Uma das preocupações da empresa é fazer com que cada investimento feito para solucionar um problema ajude a agregar valor e produtividade aos serviços, conta Mirele. A empresa não revela seus custos, mas a executiva assegura que o impacto sempre é minimizado ou compensado por ganhos de mercado.
 
Um exemplo foi a expansão da oferta de serviços para aproveitar o aumento da capacidade gerada pelo crescimento da frota, diz. Por conta do rodízio de veículos de São Paulo, em vigor desde 1997, a empresa mantém na cidade uma frota 20% maior que a necessária, para cobrir os períodos de restrição. O rodízio paulistano prevê que a cada dia da semana, de segunda a sexta, 20% dos veículos de passeio e comerciais leves deixem de circular entre 7h e 10h e das 17h às 20h. Além disso, a DHL conta com uma frota reserva de 10%. O back up é acionado em emergências e ajuda a empresa a cumprir as entregas.
 
Veículos menores também são o forte da Total Express. Cerca de 70% da frota de 900 veículos são VUCs (veículos urbanos de carga, pequenos caminhões de até 6,3 metros) e comerciais leves, diz Ives Uliana, diretor de operações.
 
A expansão dos custos atingem os Correios, que reservam, por ano, R$ 24 milhões para manutenção de caminhões da frota, diz Maria da Glória Guimarães dos Santos, vice-presidente de clientes e operações. Segundo ela, no caso da ECT, o incremento dos custos de encaminhamento está mais associado ao