Petrobras vai reajustar combustíveis até dezembro

Apesar do esforço da presidente da Petrobras, Graça Foster, para aumentar a eficiência operacional, o resultado do terceiro trimestre (lucro de R$ 5,567 bilhões, abaixo da expectativa do mercado), mostra que a estatal ainda enfrenta desequilíbrio. E novo reajuste de combustível deve ocorrer até o fim do ano.
 
As razões da queda acentuada da produção e os aumentos das despesas da Petrobras ainda são foco das preocupações de especialistas e, agora, a expectativa é de um novo aumento de preços dos combustíveis. Como resumiu a analista Paula Kovarsky em relatório para clientes do Itaú BBA, é esperado um fraco desempenho operacional que influencie as ações da Petrobras. Passadas as eleições, a analista acredita em um potencial aumento nos preços dos combustíveis que pode acontecer a partir desta semana.
 
Analistas do banco Credit Suisse afirmam que "não há muito para gostar ou dizer" sobre o balanço, avaliando que ainda vai demorar para os gestores da Petrobras corrigirem o curso da empresa e que "os investidores estão pagando caro por isso".
 
Os efeitos positivos dos aumentos de preço da gasolina e do diesel foram praticamente anulados pelo incremento dos custos de refino e de extração de petróleo, entre outros, tudo isso associado a uma queda acentuada da produção de 4% em setembro – foram produzidos apenas 1,844 milhão de barris por dia, o pior resultado desde 2008 – e de 3% no trimestre.
 
Com menos petróleo produzido, o custo de extração do óleo, antes do pagamento dos royalties e da Participação Especial, subiu 15% em dólares, de US$ 13,40 por barril no segundo trimestre para US$ 15,42, no terceiro. Apesar de explicado por manutenções em alguns campos gigantes da Bacia de Campos previstas no programa de aumento da eficiência operacional (Proef), essa alta foi ajudada pelo aumento salarial.
 
No terceiro trimestre, a receita de vendas foi de R$ 73,79 bilhões, mas com os preços dos combustíveis defasados, a estatal tem perdas com o crescimento das vendas, contrassenso provocado pelo governo ao evitar reajustes.
 
O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, lembrou que a companhia prevê aumento de 15% no diesel e na gasolina em 2012 para bancar os investimentos previstos de US$ 208,7 bilhões a US$ 236,5 bilhões. E os aumentos de junho e julho, de 10% no diesel e 8% gasolina estão abaixo disso. "O nosso Plano de Negócios previa reajustes maiores do que ocorreram até agora para este ano, portanto, ainda existe espaço para uma expectativa [de aumento] no período".
 
Não por acaso, a área de Abastecimento registrou mais uma vez resultado negativo, de R$ 5,652 bilhões no terceiro trimestre. O prejuízo é de R$ 17,28 bilhões no acumulado do ano até setembro. As perdas só diminuirão, segundo analistas, quando o governo acabar com o subsídio. O diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, explicou que parte da alta de custos do refino foi causada pela entrada de unidades mais modernas nas refinarias Repar (PR) e Revap (SP).
 
Outros custos até setembro chamam a atenção, entre eles a despesa de R$ 875 milhões do acordo coletivo de trabalho (ante os R$ 596 milhões do ano passado) e os gastos de R$ 1,012 bilhão com publicidade e propaganda, patrocínios culturais, esportivos, ambientais e sociais e despesas administrativas. O valor está próximo ao R$ 1,178 bilhão gasto com paradas não programadas de plataformas e gastos pré-operacionais.
 
O Credit Suisse considera o aumento de preços da gasolina e diesel e uma taxa de utilização de 98% da capacidade de refino da Petrobras como os únicos pontos positivos no balanço da companhia. Mas, segundo a instituição, não foram suficientes para alavancar o balanço do trimestre, repleto de dados negativos. Em relatório intitulado "A soma de todos os medos", os analistas Emerson Leite e Andre Sobreira citam uma longa lista de desapontamentos, incluindo queda da produção e taxa de declínio natural dos reservatórios de 11%.
 
Aumento de produção melhoraria resultado – Entre os pontos que estão sob domínio da Petrobras – o que não inclui reajuste de preços de derivados – o crescimento da produção de petróleo no Brasil poderia ao menos amenizar o impacto negativo trazido pela importação de combustível, que é vendido abaixo do preço de custo no país.
 
Com volume maior de óleo produzido, diminuiria a necessidade de compras no exterior, bem como haveria a possibilidade de se exportar mais óleo bruto, aproveitando os preços mais altos no mercado externo. Infe- lizmente, por inúmeros fatores, incluindo alguns alheios ao controle da companhia, as notícias não são boas nessa área.
 
O diretor de exploração e produção da Petrobras, José Formigli, disse ontem que em outubro a produção deve ficar em torno de 1,94 milhão de barris/dia, se recuperando do tombo de 4,4% registrado em setembro, quando somou 1,84 milhão de barris diários, retomando níveis de 2008. Afirmou também que o ritmo deve melhorar até o fim do ano, com a entrada de novos poços conectados à plataforma Cidade de Anchieta, no campo Baleia Azul.
 
Formigli atribuiu a performance de setembro a paradas programadas das plataformas P-52 (no campo de Roncador) e P-19 (em Marlim), e a problemas operacionais na P-57 (Jubarte) e no sistema de bombeio centrífugo submerso da P-53 (Marlim Leste).
 
De janeiro a outubro a produção média diária ficou em 1,97 milhão, o que significa uma queda de 2,6% ante o resultado do ano passado. A meta é manter a produção de 2011, com possível oscilação de 2% para mais ou para menos.
 
Mais importante do que questões circunstanciais que podem afetar a produção em um mês ou outro, é evitar a tendência de declínio da produção em poços maduros na bacia de Campos, que ainda concentra a maior parte de sua produção do Brasil.
 
De olho nisso, a companhia está, corretamente, investindo pesadamente no Proef, para corrigir a queda de produção na região que não está relacionada à depleção natural, que é queda da produção por esvaziamento do reservatório que tem depósitos de petróleo que são finitos. O índice de depleção natural da Petrobras é de 11% ano, mas na bacia de Campos em alguns campos gigantes como Marlim e Albacora a produção está caindo fortemente. Em Roncador, a produção caiu de 260 mil barris/dia em agosto para 174 mil barris/dia em setembro.
 
O Credit Suisse, que primeiro chamou a atenção para o rápido declínio da produção da Petrobras na bacia de Campos acima da média história da companhia (que é de 7% a 10% ao ano), observou em recente relatório, que a Agência Internacional de Energia (AIE) estimou recentemente em 12% a queda anual da produção em 700 poços analisados pelo organismo no primeiro semestre de 2012. Segundo o banco, a queda estimada pela AIE é inferior à verificada entre 2009 e 2011, quando o declínio médio na região foi de 20%. Mas o banco ressalta que o dado da pesquisa mostra grande variação, com alguns poços apresentando queda de 30% e outros de menos de 8%. O Credit Suisse também observa que a AIE achou surpreendente o fato de a Petrobras estar produzindo atualmente 60% mais água do que petróleo em Campos, o que é um indicador de futuras taxas de declínio. O banco estimava um índice de 40%.
 
Graça defende venda de ativo com baixa rentabilidade – A Petrobras prosseguirá com seu plano de desinvestimentos, vendendo ativos com rentabilidade insatisfatória, neste e no próximo ano, reforçou ontem a presidente da companhia, Graça Foster. A medida é para que a empresa evite recorrer ao mercado financeiro, aumentando sua dívida. No Plano de Negócios 2012-2016, a Petrobras anunciou que pretende vender um total de US$ 14,8 bilhões em ativos, a maior parte ainda este ano e o restante em 2013.
 
"Estamos trabalhando para tirar da nossa carteira investimentos que não dão o mesmo retorno [financeiro de antes]", afirmou a executiva, que participou ontem de evento promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
Na palestra ela disse que a Petrobras, que não está "acostumada à prática de vender ativos", precisa trabalhar sobre um modelo de redução de custos operacionais. O último balanço da estatal, referente ao terceiro trimestre, divulgado na sexta-feira, indicou que a alavancagem da empresa, medida pelo índice de dívida líquida/Ebitda, está em 2,42 vezes. Na avaliação de Graça, o indicador poderá chegar a 2,5 vezes, patamar considerado "seguro" para o porte da empresa.
 
"A companhia precisa ter um nível de endividamento na faixa dos 2,5 [vezes] para que possamos trabalhar com muita segurança", afirmou a executiva. "Quando falamos em corte de custos, nos referimos a custos operacionais. Não vamos mexer em pessoal. Os concursos continuarão a ser feitos", frisou.
 
Graça também disse que possíveis perdas com a defasagem de preços dos combustíveis poderão ser recuperadas no futuro. Essa defasagem permanece com relação ao mercado externo mesmo depois dos reajustes de junho (7,83% para a gasolina e 3,94% para o diesel) e julho – mais 6% para o diesel.
 
"Somos uma empresa de investimentos de médio prazo. Hoje, existe defasagem entre os preços da gasolina e do diesel vendidos [ em comparação com] mercado externo. Mas no médio prazo vamos ganhar em volume e em preços e recuperar o que perdemos agora", afirmou Graça.
 
A executiva disse ainda que é "grande" a expectativa com a 11ª Rodada de Licitação de Blocos Exploratórios da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), prevista para maio de 2013. "Precisamos renovar poços e ativos. Está mais do que na hora de ter um leilão. Recebemos a notícia com satisfação e alívio", afirmou, acrescentando que a empresa vai participar da rodada. "Entraremos no leilão possivelmente com parceiros. É importante ter um parceiro para dividir riscos e prêmios", avaliou.
 
Graça estava no debate no mesmo momento em que era realizada a entrevista coletiva de apresentação dos resultados do trimestre na estatal. Não é hábito o presidente da empresa participar da entrevista. Ela estava na relativa ao segundo trimestre para acalmar o mercado, pois o prejuízo anunciado foi terceiro em 59 anos da história da Petrobras