País perde 13% do PIB com logística deficiente

O PIB brasileiro em 2013 foi de R$ 4,8 trilhões. Deste total, 19,23%, ou R$ 923 bilhões, representam o que se gasta com logística no Brasil. Para o bem ou para o mal. Embutido nesse valor, está também o desperdício, ocasionado pelas rodovias mal conservadas; pela baixa integração e insuficiência de modais mais baratos, como ferrovias e hidrovias; por portos e terminais de carga com capacidade aquém da demanda atual; por aeroportos insuficientes e superlotados, além de deficiência de armazenagem. Nestes números, apresentados pela consultoria gaúcha Intelog, especializada em cálculos logísticos, está tanto o dinheiro "bem gasto" quanto o dinheiro "mal gasto", explica o diretor-presidente da Intelog, Paulo Manzel, acrescentando que, dadas as deficiências acima citadas, o dinheiro do desperdício supera em 13,03% os recursos que efetivamente deveriam ser investidos em transporte e logística para tudo o que se produz no País. "Ou seja, o custo logístico ideal do Brasil deveria ser de 6,2% do PIB", diz Manzel, acrescentando que, nos Estados Unidos, este custo é de apenas 8,5% do PIB.
 
Safra de verão.
E é o agronegócio, responsável há anos pelo superávit da Balança Comercial Brasileira e por quase um terço do PIB do País, um dos setores que mais sofrem com as deficiências logísticas para escoar sua produção, principalmente entre fevereiro e abril, período em que a safra de verão é colhida e tem de ser distribuída pelo País ou escoada para os portos, para exportação. Ainda segundo Menzel, o impacto da logística no agronegócio é de 8% do Valor Bruto de Produção (VPB), que é tudo o que o setor produz em um ano. O VPB de 2013 ficou em R$ 421,5 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
 
"Este ano o escoamento da safra só não tem sido tão caótico quanto foi no ano passado porque a safra norte-americana de milho foi normalizada – reduzindo as necessidades de exportação do cereal pelo Brasil", diz o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, que continua: "Ou seja, não houve coincidência de grandes volumes de milho e soja nos portos de exportação", diz. "Além disso, este ano não tem chovido no período de embarque dos grãos no porto. Quando chove – e no ano passado choveu muito – toda a operação de carregamento dos navios tem de ser paralisada."
 
O que se conclui, então, é que a relativa "normalização" do escoamento da safra brasileira de grãos, que deve alcançar 190 milhões de toneladas em 2013/2014, um recorde, deu-se mais por questões climáticas do que por efetivas melhorias de infraestrutura e logística, diz Mendes.
 
"O que estamos vendo ao longo dos anos por parte do governo federal são só medidas paliativas para tentar minimizar os gargalos de escoamento das safras", declara o presidente da Seção de Cargas da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Flávio Benatti. A CNT elaborou, em 2011, um extenso plano de transporte e logística – que está sendo atualizado este ano, informa Benatti – no qual, segundo a entidade, seriam necessários cerca de R$ 700 bilhões para implementar obras integradas, desde a origem até o destino das cargas, para resolver o problema dos transportes no País, não só do agronegócio. "Para ver como os investimentos no setor têm sido tímidos, basta dizer que o governo previa gastar, em todos os modais de transporte, no orçamento do ano passado, R$ 15,33 bilhões e, ainda assim, só R$ 13,4 bilhões foram efetivamente empenhados", informa o representante da CNT.
 
Plano de armazenagem. Entre as providências mais comentadas pelo setor agro, tomadas pelo governo federal para tentar minimizar o caos logístico no País, estão um plano de financiamento para armazéns e sistemas de armazenagem, com recursos de R$ 25 bilhões em cinco anos (de 2013 para cá); a concessão à iniciativa privada da nevrálgica BR-163, no Mato Grosso, cuja concessionária, a Odebrecht, que assumiu a rodovia no dia 10 de abril, deverá duplicar a estrada em cinco anos, e o sistema de agendamento de caminhões no Porto de Santos, no litoral paulista, para evitar a formação de extensas filas e congestionamento nas rodovias próximas.
 
Segundo o Ministério dos Transportes, a concessão da BR 163, num total de 850,9 quilômetros que vão de Sinop (MT) até a divisa com Mato Grosso do Sul, vai gerar em 30 anos investimentos de R$ 4,6 bilhões. "O principal objetivo ao melhorar o trecho de Mato Grosso é aliviar o atual movimento de cargas nas estradas do Sul em direção aos Portos de Santos e Paranaguá (PR)", informa o Ministério, acrescentando que nada menos que 20 milhões de toneladas de soja passam por ali.
 
"A BR 163 está com 500% de ocupação, ou seja, suporta cinco vezes mais a sua capacidade em Mato Grosso", diz o especialista em infraestrutura e logística Edeon Vaz Ferreira, que também é consultor da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT) e diretor-executivo do Movimento Pró-Logística de MT. Conforme explica Ferreira, escoar grãos colhidos em Mato Grosso pelo chamado "Arco Norte", que compreende os terminais portuários do Norte e Nordeste do País, é, efetivamente, muito mais compensador. "Tomemos como exemplo o município de Sorriso, o maior produtor de soja do Brasil", explica Ferreira. "De Sorriso a Santos são 2.250 quilômetros; de Sorriso a Paranaguá, 2.350 quilômetros; de Sorriso até Vila do Conde, no Pará, são 2.000 quilômetros, sendo, porém, 1.090 quilômetros de rodovia e o restante por hidrovia, o que torna o transporte bem mais barato", diz Ferreira, acrescentando que, por estar baseado principalmente no modal rodoviário, o preço do frete em Mato Grosso "é o mais caro do mundo".
12/4/2014