Obra no Sul tenta reduzir os períodos de espera

Dentro de 60 dias serão iniciadas as obras para a modernização de 1.125 metros do cais do Porto Novo, em Rio Grande, no extremo Sul do país. É a segunda etapa de melhorias no cais inaugurado em 1916. A primeira foi feita em 2004, em um trecho de 450 metros. A nova estrutura possibilitará que operadores portuários utilizem equipamentos maiores e modernos para movimentação de cargas. O investimento de R$ 97,1 milhões conta com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A conclusão está prevista para o segundo semestre de 2015. Somada à dragagem, já realizada, os investimentos perfazem um total de R$ 400 milhões nos últimos três anos no porto gaúcho e isso tem animado a diretoria da Superintendência do Porto de Rio Grande (SUPRG) na medida em que fortalece o avanço da sua zona de influência e motiva a atração de cargas do norte do Uruguai e da Argentina, além do Sul do Brasil.

Por causa do assoreamento, as operações no Porto Novo utilizam atualmente quatro dos sete berços existentes. Sobram queixas. "Já houve dragagem, mas a falta de manutenção limitou o calado para embarcações. A Tergasa já informou que vai diminuir o calado", revelou uma fonte da Sul Trade Transportes Integrados, que pediu sigilo de seu nome. O superintendente do porto gaúcho, Dirceu Lopes, adianta que há em curso um novo projeto para a dragagem, sinalização e homologação do canal, inserido na segunda etapa do Programa Nacional de Dragagem, o PND II, prevendo correções ao longo do canal de acesso e baia de evolução (local de manobra para o navio mudar de direção) e alocação de cinco boias de atracação e espera. O edital do PND II está previsto para janeiro de 2014. "No fim de dezembro também devemos concluir outro projeto que prevê modernização do sistema de monitoramento e segurança de navegação em tempo real, conhecido como VTMS (sigla inglesa para Vessel Traffic Management Information System). Acredito que deva ser licitado logo em seguida", prevê Lopes. "Por causa das intempéries nós acumulamos 24 dias desperdiçados por ano na entrada da barra de Rio Grande. Esse equipamento reduzirá o tempo para menos da metade", assegura.

Como haverá avanço na direção do canal e do aprofundamento para 14 metros, Lopes adota um discurso otimista de aproveitamento futuro de todos os berços. "Em termos de eficiência, vamos diminuir o tempo de espera de navios", ressalta. "Hoje recebemos 375 mil toneladas de celulose. A partir do próximo ano devemos movimentar 1,5 milhão de toneladas devido a expansão da unidade industrial da Celulose Riograndense, de Guaíba (região metropolitana de Porto Alegre)", diz. As melhorias, segundo ele, servirão para atender cargas já geradas, como é o caso de 2 mil pás eólicas previstas para chegar nos próximos três anos, de equipamentos para as empresas do polo naval, bem como o aumento na importação de fertilizantes devido à expansão da atividade agrícola e aos volumes recordes nas últimas safras.

Em setembro, a presidenta Dilma Rousseff assinou contrato para a construção de duas plataformas Floating Production Storage and Offloading (FPSOs) a P-75 e a 77 no Polo Naval de Rio Grande. As plataformas tipo FPSOs produzem, armazenam e transferem petróleo. Depois de prontas, elas serão instaladas no pré-sal da Bacia de Santos. "O Rio Grande do Sul hoje tem um polo naval e ele não é só a visão dessas plataformas, mas sim a visão integrada de políticas que no período de 18 meses devem gerar 18 mil empregos, equivalendo a recursos econômicos e financeiros de US$ 6 bilhões", disse a presidenta. Atrás dessa notícia se esconde uma inquietude: um trecho de via simples de quase 20 km que liga o trevo da BR-392 (rodovia em fase final de duplicação no trecho de 84,7 km de Pelotas a Rio Grande) e o porto. "Não vi nada sobre esse trecho. Na época da safra ele fica fechado, o fluxo de caminhão tranca tudo", diz o coordenador do escritório da Neutral em Rio Grande, Leandro Ferreira Coutinho.

Rio Grande prepara-se para fechar 2013 com o maior volume nominal de movimentação de cargas da sua história, com 33 milhões de toneladas, após registrar 30 milhões em 2011 e 27 milhões de toneladas em 2012. "Mas com o aumento da produção agrícola, a possibilidade de implementação do acesso da Lagoa Mirim, por onde se pretende trazer do Uruguai 5 milhões de toneladas de grãos, minérios e madeira, em função do acordo binacional, e a possibilidade da Ferrovia Norte Sul chegar até o porto de Rio Grande, desde Panorama (SP), que poderá agregar quase 2 milhões de grãos do Mato Grosso, nós poderemos atingir a nossa capacidade máxima, atual, de 50 milhões de toneladas em 2030", prevê Lopes.

A administração gaúcha trabalha com a visão de um porto sistêmico, bem diferente de como foi visto até hoje. Por definição, Lopes conceitua o modal portuário como um elo da cadeia logística, portanto, é causa e consequência. "Daí esse olhar sistêmico", explica. "O gestor portuário precisa estar atento à questão de mercado, ao crescimento da agricultura e da indústria. Hoje estamos discutindo com aqueles que alimentam os portos, que são os modais rodoviário e ferroviário e aeroportuário", assinala, gabando-se pelo reconhecimento que recebeu de um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, que aponta o porto como o mais eficiente na operacionalização de grãos do país. "No primeiro semestre de 2014 vamos aferir itens como qualidade, rapidez e eficiência a partir da visão dos nossos usuários", diz Lopes.