Multas por radar em SP aumentam quase o dobro durante a madrugada

A madrugada foi o período com maior aumento de multas por radar em 2015 em São Paulo. O acréscimo chega a 96% entre as 2h e as 3h, segundo levantamento feito pelo G1 com base em dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) sobre a fiscalização eletrônica. Foram cerca de 142 mil multas no ano passado contra 72 mil no mesmo horário em 2014.

Outros horários da madrugada também estão no topo desse ranking. Entre 1h e 2h, o aumento foi de 91%, bem maior do que a média total do dia, que foi de 50%.

O crescimento das multas durante a madrugada coincide com mudanças na fiscalização implantadas pela gestão Fernando Haddad. Em 2014, a Prefeitura começou a instalar radares que enviam as imagens em tempo real para uma central, onde as imagens com as placas dos carros são digitalizadas.

Dos 925 pontos de fiscalização, 169 já possuem essa tecnologia. Antes, máquinas fotográficas faziam os registros e era preciso revelar as fotos, o que diminuía a qualidade da prova e consequentemente o número de multas.
O período do dia com mais autuações em números absolutos, porém, ocorre durante a tarde, e vai das 17h às 18h. Foram 834.843 multas por radares neste horário em 2015. Exatamente às 17h passa a valer o rodízio do período da tarde, e motoristas que trafegam no Centro expandido nesse horário são multados.

O levantamento do G1 considera os dados entre janeiro e novembro, que são os disponíveis no site Painel Mobilidade Segura, lançado recentemente pela CET.

Radares
Entre os radares que mais multam de madrugada está um na Avenida Marechal Tito, na Zona Leste de São Paulo, na altura da Rua Engenheiro Manuel Osório. Ele flagrou em um único dia, entre as 2h e as 3h, 68 motoristas em velocidade superior à permitida em até 20% – mais de um por minuto.

O aumento das multas de madrugada está diretamente ligado também à disparada das multas por avanço do sinal vermelho. É o tipo de autuação que mais subiu na cidade em 2015 – 798%. O aumento é ainda maior entre as 2h e as 3h da manhã, de 805% em 2015.

Na Avenida Paes de Barros, perto da Rua da Mooca, um radar flagrou 24 motoristas passando no vermelho por hora nesse horário. Na Rua Joaquim Floriano com a Rua Renato Paes de Barros, no Itaim Bibi, outro radar chegou a registrar 16 multas entre as 2h e as 3h. São dois aparelhos, um em cada lado da rua, sendo um instalado atrás de uma árvore e o outro atrás de um poste.

Recurso
A multa por avançar semáforo vermelho na madrugada provoca queixas por parte dos motoristas. Segundo o advogado Henrique Serafim Gomes, especialista em direito de trânsito do escritório Gomes de Lima Advocacia, alegar o risco de assalto para tentar se livrar da multa não é um argumento válido juridicamente. Ele diz que o motorista precisaria comprovar que não cometeu a infração, e que como o radar faz registro fotográfico, a chance de um cancelamento ocorrer é mínima.

Ele afirma que a adoção do semáforo amarelo piscante durante a madrugada e a realização de campanhas educativas pela Prefeitura seriam uma boa maneira de a gestão municipal contribuir para o engajamento dos motoristas no cumprimento da legislação e ainda mostrar que não está interessada em transformar a arrecadação com multas em uma espécie de imposto disfarçado. O especialista diz não ser contrário às multas e cobra também uma maior preocupação por parte dos motoristas em seguir as regras. "Os nossos motoristas, de forma geral, são não observadores da legislação", afirma.

Radares e acidentes
O número de radares dobrou na gestão Fernando Haddad (PT). Os atuais 925 pontos de fiscalização representam um aumento de 98% em relação aos 467 dos existentes no início do mandato, segundo números da prefeitura.
Com isso, a arrecadação também sobe. Em 2015, as multas renderam R$ 988 milhões, cerca de 10% mais que os R$ 899 de 2014. A Prefeitura afirma que usa o dinheiro conforme prevê a legislação, ou seja, em ação de sinalização, engenharia e fiscalização do tráfego, além de educação de motoristas. O Ministério Público, porém, questiona isso.

A administração municipal aponta que a fiscalização e outras medidas, como a redução da velocidade máxima nas avenidas e a construção de ciclovias, contribuem para resultados positivos na redução de acidentes e mortes na capital paulista.
Entre janeiro e novembro do ano passado, a CET contabilizou 904 mortes no trânsito na capital paulista, uma redução de 21,4% no que foi registrado nos 11 primeiros meses de 2014 (1.150 mortes).