Montadoras focam na nacionalização

Planos de nacionalização de carros atualmente importados e investimentos em inovação ganharam força ontem na abertura à imprensa do Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, que começa para o público amanhã. Mesmo que algumas montadoras tentem dissociar esses projetos às iniciativas do governo para estimular a fabricação de carros no país, não é uma coincidência que eles sejam colocados em destaque apenas três semanas após o anúncio das novas regras do regime automotivo, cujo objetivo, em sua essência, é induzir o uso de conteúdo local e abrir um novo ciclo tecnológico na indústria automobilística.
 
Junto com os lançamentos da mostra, a Honda, sexta marca do mercado, está investindo R$ 100 milhões na ampliação de seu centro de pesquisa e desenvolvimento em Sumaré (SP).
 
Além de triplicar o número de engenheiros, a iniciativa dará autonomia para a filial brasileira desenvolver produtos adaptados às preferências do consumidor no Brasil – onde está o quinto maior mercado de automóveis do grupo japonês, atrás de Estados Unidos, Japão, China e Canadá. O novo centro tecnológico tem inauguração prevista para outubro de 2013.
 
Takanobu Ito, presidente mundial da Honda, diz que a decisão de ampliar os investimentos em inovação não estão ligados ao novo regime automotivo, mas reconheceu que a iniciativa vai ao encontro de metas estabelecidas pelo governo para aproximar a qualidade dos carros brasileiros aos padrões de mercados desenvolvidos.
 
"Nosso maior projeto, neste momento, é fortalecer a pesquisa e desenvolvimento para melhorar a eficiência de nossos carros", disse o executivo, que acredita na possibilidade de o país se tornar rapidamente um dos dois maiores mercados da montadora no mundo.
 
O novo regime automotivo estabelece investimentos mínimos em engenharia industrial e inovação e concede descontos extras no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para as montadoras que conseguirem superar essas metas. Paralelamente, as empresas terão de se comprometer a melhorar em pelo menos 12% a eficiência energética dos carros. O programa atrela benefícios tributários à compra de peças do Mercosul.
 
Em geral, as montadoras já instaladas no país dizem estar preparadas para as novas regras, mas são comuns exemplos de empresas que buscam melhorar ainda mais seus índices de nacionalização.
 
A Mitsubishi, por exemplo, aperta o passo no desenvolvimento da cadeia de fornecedores no entorno da fábrica em Catalão (GO), ao mesmo tempo em que tenta antecipar a nacionalização de modelos como o ASX, cujo início de produção é previsto para junho, e o Lancer, esperado para outubro de 2013 ou fevereiro de 2014.
 
No ano que vem, a montadora, representada no país pelo grupo brasileiro MMC, pretende instalar oito fornecedores dentro do parque industrial de Catalão. A Mitsubishi também investe cerca de R$ 450 milhões em uma nova linha de pinturas, com o objetivo de resolver seu principal gargalo no sistema de produção. O setor de pintura deve começar no segundo semestre de 2013, junto com a nova linha de motores – atualmente importados.
 
Dentro de um programa de investimentos de R$ 1,1 bilhão, a capacidade de produção da Mitsubishi deverá dobrar para cerca de 100 mil carros até 2015 e o índice de nacionalização chegar a 80%.
 
A movimentação da Mitsubishi se soma a estudos da Nissan para produzir motores em Resende (RJ) e a investimentos de R$ 742,8 milhões da Volkswagen na linha de pintura em Taubaté e na fábrica de motores em São Carlos.
 
Pelas declarações dos "chefões" globais de montadoras que participaram dos eventos reservados à imprensa no salão, o Brasil voltou a ser candidato para receber fábricas de marcas premium. A BMW confirmou investimento em Araquari (SC) de € 200 milhões em sua primeira fábrica no país.
 
Em entrevista a um seleto grupo de jornalistas, o presidente mundial da Volkswagen, Martin Winterkorn, disse que, se o mercado brasileiro seguir em evolução, a montadora terá que avaliar investimentos em novas fábricas para manter sua participação. Essa expansão, cogitou, pode se dar com a retomada da produção dos carros da Audi em São José dos Pinhais (PR). "Não excluímos a hipótese."
 
No âmbito do acordo de cooperação entre as montadoras, a Mercedes-Benz reiterou estudos no sentido de usar estruturas da Renault e da Nissan para fabricar carros de sua nova geração de compactos no Brasil. Por outro lado, as cotas de importação previstas no regime automotivo abriram espaço para que as montadoras introduzam novas marcas ao país. Depois de Dan Akerson, presidente da GM, dizer que existe espaço para trazer carros da Cadillac para a América do Sul, a direção da Honda informou que, em 2015, vai lançar no país sua marca no segmento premium, a Acura