Leilões de obras viárias podem ficar desertos

Leilões de ferrovias correm o risco de ser um "deserto" e não devem acontecer neste ano

O sucesso de parcela significativa dos leilões de obras de infraestrutura está ameaçado. Essas concessões são a grande aposta do governo para alavancar o crescimento da economia.
Segundo a Folha apurou, os leilões de ferrovias correm o risco de ser um "deserto" e não devem acontecer neste ano. Alguns trechos das rodovias também podem não ter interessados. O contraponto é o leilão de aeroportos, que atrai a atenção.

Vários motivos contribuem para o desânimo: o pessimismo com o Brasil, a insegurança gerada pelos protestos e, principalmente, questões técnicas que podem comprometer a rentabilidade. Os investidores só falaram na condição de anonimato.

Até os fundos de pensão estão preocupados que as deficiências técnicas "forcem a barra" nos projetos, comprometendo o lucro dos investidores institucionais.

O fracasso da licitação de uma nova linha do metrô de São Paulo, um Estado governado por um partido considerado mais "pró-mercado", foi visto com um termômetro do pessimismo.
Áreas do governo já reconhecem, reservadamente, que as dez concessões de ferrovias estão atrasadas e dificilmente ocorrerão neste ano.

Apenas uma pode ocorrer em 2013: Açailândia (MA) a Vila Conde (PA), com 480 quilômetros. O pacote de ferrovias previa a construção de 10 mil quilômetros, com R$ 91 bilhões de investimentos.
A percepção dos empresários sobre o pacote de ferrovias é a pior possível. Eles apontam que os estudos são insuficientes para calcular os custos. O Ferroanel de São Paulo nem sequer tem estudos divulgados.

RODOVIAS
Ao todo, o programa de concessões de rodovias e ferrovias lançado há quase um ano previa a realização de 21 leilões até junho de 2013. Todos atrasaram. Apenas dois têm perspectiva de estarem concluídos no mês que vem: as rodovias BR-050 e BR 262.

As concessionárias de rodovias precisam de novos contratos para substituir os que estão vencendo, o que joga a favor do leilão.

A percepção, porém, é que o governo "errou feio" nas projeções de tráfego de alguns trechos e deixou de considerar dificuldades topográficas que encarecem a obra.

Após o ajuste das projeções, a taxa de retorno cai abaixo dos 7,2% previstos, que já é considerado no limite. Se o cálculo ficar como está, alguns trechos podem não ter interessados.
Outra preocupação é o mau humor com o país. A participação dos estrangeiros nos leilões é importante devido aos altos investimentos. O setor privado estima que terá que aplicar R$ 8 bilhões nas rodovias em capital próprio (mesmo com o BNDES bancando 70% do total).

Para o governo, os leilões de rodovias e aeroportos devem andar no ritmo previsto.

Os investidores demonstram apetite pelos aeroportos de Confins (MG) e Galeão (RJ). Há uma demanda reprimida, e as experiências dos concessionários com Viracopos e Guarulhos têm sido positivas.

O governo desistiu de impedir que os vencedores de licitações anteriores participem agora, mas impôs um limite de 15% no negócio, que ainda preocupa.