Indústria mundial de carros muda centro de gravidade

The Wall Street Journal – A indústria automobilística mundial está mudando seu centro de gravidade de locais tradicionais para novos e emergentes mercados, como a China.

Na semana passada, a Ford anunciou que vai encerrar sua produção na Austrália em outubro de 2016, após 90 anos, e com isso eliminar 1.200 empregos. A medida acontece ao mesmo tempo em que a montadora americana fecha fábricas em países como a Bélgica e o Reino Unido, na Europa, outra região que se tornou pouco atraente devido a seus custos altos e economias estagnadas.
"O negócio simplesmente deixou de ser viável", disse o diretor-presidente da Ford para a Austrália, Bob Graziano. "Nossos custos [na Austrália] são o dobro que os da Europa e quase quatro vezes maiores que os da Ford na Ásia."

Enquanto isso, a Ford e outras montadoras estão correndo para abrir mais fábricas em mercados onde as vendas de automóveis estão crescendo rapidamente e os custos da mão de obra são baixos. A companhia vai gastar US$ 5 bilhões para construir quatro novas fábricas na China com uma sócia local nos próximos anos.

A Ford também está se expandindo na Índia, na Tailândia e na Rússia.

Muitas outras montadoras estão seguindo o mesmo caminho. A General Motors Co. e a Volkswagen AG vêm investindo bilhões de dólares em novas fábricas na China. Por outro lado, a GM está fechando sua fábrica na Alemanha para reduzir sua produção na Europa.

Essas iniciativas são parte de uma reorganização mais abrangente da indústria automobilística iniciada dez anos atrás. Durante um século, a grande maioria dos carros do mundo era fabricada nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão. A Austrália era um polo secundário onde a Ford e a GM se estabeleceram para suprir o mercado doméstico. Alguns carros feitos na Austrália eram também exportados para países menos desenvolvidos da Ásia.

Mas o surgimento de novos mercados emergentes como China, Rússia e Brasil deu às montadoras a oportunidade de ter um crescimento rápido e sustentável – e deflagrou uma mudança. Enquanto surgem novos centros de produção de automóveis nesses mercados emergentes, regiões menos competitivas, como Europa e Japão, vêm declinando lentamente.

A China ultrapassou os EUA como o maior mercado do mundo em vendas de carros. O país asiático produziu 19 milhões de veículos em 2012, 9 milhões a mais que os EUA e mais que o dobro da produção combinada da Alemanha, França e Reino Unido.

O Japão já foi no passado o maior fabricante de automóveis do mundo, mas suas montadoras vêm reduzindo a produção doméstica porque a valorização do iene diminuiu os lucros com a exportação de carros japoneses. O envelhecimento e declínio populacional também têm contribuído para a queda nas vendas de automóveis observada nos últimos anos.

Ao contrário da Europa e do Japão, os EUA continuaram competitivos nessa reorganização do mercado global, em parte por causa da redução nos custos de mão de obra em reestruturações que acompanharam a recessão de 2008 e 2009. Desde então, as japonesas Toyota Motor Corp. e Honda Motor Co. vêm aumentando sua produção nos EUA para exportar veículos para os mercados da Ásia, Europa e Oriente Médio.

No ano passado, a Ford fechou uma fábrica nas Filipinas que vinha produzindo o utilitário esportivo Escape. Ao mesmo tempo, a montadora produz o Focus, o Ranger e o Fiesta na Tailândia e abriu uma segunda planta no país em 2012.

O anúncio do fechamento das fábricas da Ford na Austrália foi um revés para um país que investiu pesadamente para impulsionar sua indústria automobilística. A Ford afirmou que seus prejuízos na Austrália durante os últimos cinco anos totalizaram 600 milhões de dólares australianos (US$ 581,1 milhões). Ela produziu 37.000 veículos no país no ano passado.

A unidade da GM na Austrália anunciou no mês deabril que vai cortar 500 vagas – cerca de 12% da sua força de trabalho -, citando a pressão da valorizada moeda local.

De fato, a força do dólar australiano, que nos últimos anos vem sendo cotado acima do dólar americano, tem afetado todo o setor de manufatura da Austrália ao tornar as exportações menos competitivas e aumentar os custos das empresas estrangeiras.
A queda na manufatura representa um desafio para o governo australiano, que está tentando tornar a economia menos dependente do setor de recursos naturais, o principal motor do crescimento do país nos últimos dez anos.

O setor industrial da Austrália emprega cerca de 1 milhão de pessoas, 50.000 das quais no setor automotivo, de acordo com o governo. Em torno de um milhão de novos veículos são vendidos anualmente no país, onde 65 marcas com 365 modelos competem pelos consumidores.