Indústria automotiva procura alternativas para crise

Com estoques cheios e concessionárias vazias, as montadoras têm buscado alternativas para reverter o fraco desempenho do setor, refletido na diminuição da produção e na adoção de medidas como férias coletivas, suspensão de contratos e demissões.

Entre as estratégias pensadas pelo setor está um plano de varejo mais agressivo em cidades brasileiras de menor porte, que puxaram as vendas de carros nos últimos anos, além de acordos automotivos com países da América Latina e África.

Assim, a indústria compensaria as perdas com a Argentina, que recebe em média 80% das exportações de montadoras brasileiras, mas que tem reduzido mês a mês as compras em função da crise econômica.

Se em 2012 os brasileiros compraram carros como nunca (3,8 milhões de unidades), impulsionados pela desoneração de impostos, neste ano o setor prevê queda de 5,4% no licenciamento de veículos.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta ainda quedas de 10% na produção e de 29% nas exportações deste ano, ante 2013.

Para Antônio Jorge Mar­tins, da FGV, a indústria automobilística brasileira chega ao fim de um ciclo de expansão. “O mercado automobilístico passa por dificuldades, de ordem estrutural e econômica, fruto do esgotamento da capacidade de endividamento das famílias.”

Para impulsionar as vendas no país, a indústria tem planos de priorizar cidades menores, especialmente no Norte e no Nordeste, um grande mercado inexplorado. No Brasil, há 5,4 habitantes por carro. Mas no Norte, essa relação é de 13,7 pessoas por carro, e, no Nordeste, de 12,1. Na cidade de São Paulo, por exemplo, há três habitantes para cada carro.

Exportações

O setor espera ainda ampliar as vendas para outros países. O presidente da Anfavea, Luiz Moan, tem viajado para Colômbia, Uruguai e Paraguai para costurar propostas que destravem as vendas, reduzindo a dependência do mercado argentino.

As exportações de carros para a Argentina caíram 42,3% de janeiro a setembro, ante igual período de 2013, segundo o Ministério do Desenvolvimento (MDIC). A África também está na mira. Em agosto, foram vendidos 320 tratores para o governo do Zimbábue, uma operação de US$ 10 milhões. A Anfavea espera aumentar as vendas para o continente.

Para ajudar o setor, o governo agiu em várias frentes para ajudar a cadeia que representa 23% do parque industrial nacional. “Ela move a economia”, diz Guido Mantega, ministro da Fazenda. Em agosto, o governo liberou o uso de parte do dinheiro retido no Banco Central (compulsório) como crédito para veículos. Antes disso, a Fazenda prorrogou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados. Para Mantega, essas políticas foram bem sucedidas. “Fez com que a produção deles crescesse.”