Ganhos de eficiência

Reduzir custos, otimizar rotas, gerenciar o fluxo de recebimento das matérias-primas, distribuir o produto até a porta do consumidor final, operar com mais eficiência. De olho nessas demandas, indústrias têm contratado cada vez mais operadores de logística para se aproximar de seus clientes, ampliar a velocidade da entrega e gerenciar melhor os estoques. Nesse cenário, as operadoras crescem a taxas de dois dígitos anuais. O bom desempenho deverá persistir. No Brasil, o custo logístico chega a 10,6% do PIB, quase 50% mais do que os 7,7% nos EUA. As maiores empresas brasileiras gastam cerca de 8,5% da receita líquida com logística, dos quais metade é gasta com transporte.
 
"As perspectivas são promissoras para o segmento, que já vem crescendo em média 20% ao ano nos últimos dez anos", afirma Paulo Fleury, diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos).
 
As 142 maiores empresas do setor faturaram R$ 48 bilhões em 2011, 20% acima de 2010. "A expansão tem se dado pela terceirização de operações a empresas especializadas na área. Como esse é um conceito ainda novo no Brasil e bem avaliado por quem contrata esses serviços, há espaço para ampliar mercado, já que as deficiências da malha de transporte pesam no bolso do setor produtivo", diz Fleury.
 
Pesquisa do Ilos aponta que, em 2008, 37% das empresas cuidavam da própria logística, enquanto 63% contratavam prestadores de serviços. Três anos depois, 69% das consultadas contratavam serviços de terceiros. Na América do Norte, esse percentual está em 47%.
 
Há uma grande pulverização de operadoras logísticas no Brasil. No setor rodoviário, estima-se que haja mais de 200 mil transportadoras, das quais 75% possuem até cinco caminhões. A idade média da frota estava em 17,6 anos em 2011. Diante de clientes cada vez mais exigentes, ganhar mercado pressupõe ter serviços diferenciados e maior profissionalização da gestão. "Temos contratos customizados em 16 setores da economia, o que também proporciona resiliência ao negócio", diz Fernando Simões, presidente da JSL (antiga Julio Simões), cuja frota de caminhões tem idade média de dois anos.
 
No primeiro semestre, a empresa obteve R$ 1,3 bilhão em novos contratos, dos quais 79% se referem a serviços dedicados (que cobrem das etapas iniciais do processo, como a gestão do fluxo de insumos, até a ponta do consumo, chegando à logística reversa), 18% à gestão de terceirização de máquinas e 3% à gestão de veículos leves. Em 2010, a JSL abriu seu capital na Bolsa de São Paulo, o que aumentou o grau de profissionalismo de sua gestão.
 
"Criamos uma nova maneira de perpetuar o negócio e outros meios de financiar sua expansão", diz Simões. Ele destaca que, ao ingressar no Novo Mercado da BMF&Bovespa, a empresa ganhou com a nova estrutura de governança corporativa. "Passamos a trabalhar com mais indicadores, e o conselho de administração passou a ser uma esfera importante, por propiciar autocrítica à gestão da empresa", afirma.
 
O setor também passou a ser alvo de interesse de grandes empresas internacionais. Exemplo recente foi a aquisição da Rapidão Cometa pela gigante americana FedEx. "O Brasil é a sexta maior economia do mundo e sua emergente classe média apresenta imensas oportunidades para a FedEx Express", disse Michael L.Ducker, chefe de operações internacionais da FedEx Express, no anúncio da aquisição. Com 45 filiais espalhadas pelo país, a Rapidão Cometa aumentou sua capilaridade nos dois últimos anos, com a abertura de escritórios na região Sul, ampliando sua presença nacional.
 
"Historicamente, o setor trabalha com cobertura nacional, que passou a ser essencial", diz Ricardo Araújo, diretor comercial da Rapidão Cometa, que opera com carga seca fracionada, atendendo os setores de eletroeletrônicos, telecomunicações, cosméticos, calçados, têxteis, medicamentos. "Além do rodoviário, temos oferecido muitos serviços de alto valor agregado com o modal aéreo", diz Araújo. A operadora realiza alguns transportes por navegação de cabotagem, mas a baixa frequência de navios reduz a eficiência. Com a aquisição da FedEx, investimentos em Tecnologia da Informação (TI) passam a ganhar ainda mais espaço na agenda da Rapidão. "Esse ponto tem sido prioridade na integração entre as empresas, e as operações no Brasil vão passar a usar uma ferramenta de rastreabilidade de último nível", afirma Araújo.
 
Serviço de logística integrada dos Correios, a Correios Log responde por cerca de 3% da receita de vendas da estatal. Há três anos, representava 2,54%. "Foi um crescimento de 16,5% de participação na receita, mas as oportunidades ainda são muito grandes", diz Leônidas Moreira Hollanda Junior, chefe do departamento de logística integrada. A meta é ambiciosa: em cinco anos, prevê-se que o braço de logística possa chegar a 5% da receita do Correios. "É desafiador, porque a receita dos Correios também irá crescer nesse período."
 
Hoje o maior cliente da estatal é o governo, que responde por cerca de 70% dos negócios. Um dos principais contratos é a distribuição de livros didáticos para escolas públicas. Mas o foco inclui ampliar a presença junto aos clientes da iniciativa privada. Investimentos em TI também têm contribuído para a captação de clientes e oferta de melhores serviços. Em 2010, a empresa iniciou a atualização de sua gestão informatizada de armazéns, modernizando o software que tinha sido instalado em 2006. Agora o sistema novo traz benefícios. "O procedimento nos armazéns ficou muito mais ágil, com controle melhor dos processos e, assim, temos uma informação mais rápida", destaca Hollanda Junior.
 
Investimentos em TI são igualmente importantes na estratégia da Santos Brasil. Em muitos casos, segundo Ângelo Dias, diretor de logística, a empresa passa a ser integrante do processo industrial de clientes. O controle de sistemas eletrônicos permite que o cliente tenha em mãos uma longa lista de dados, do recebimento de cargas a informações de estocagem de produtos, qualidade das embalagens e produtividade. "Assim ele tem condições de desenhar curvas de estocagem de produtos ou ter alguma informação que ajude na logística reversa", afirma Dias.
 
Em serviços logísticos, a empresa tem dois centros de distribuição, em São Paulo e em São Bernardo do Campo. "Até 2014 queremos consolidar essas duas operações; a de São Bernardo está com capacidade máxima tomada e a de São Paulo, com 55%."
 
O setor também tem assistido a uma mudança operacional nos últimos anos: no lugar de caminhões enormes, vans e veículos mais leves. Em Belo Horizonte e São Paulo há restrições à circulação de veículos pesados em horários de pico, o que exige maior flexibilidade da frota. "Tivemos de nos adaptar a essa realidade", diz Simões, da JSL.
 
Os investimentos na cadeia do petróleo e gás e as perspectivas com a exploração da camada pré-sal abrem oportunidades de crescimento para as operadoras. A camada de pré-sal está distante 300 quilômetros da costa brasileira, mais de três vezes a distância da Bacia de Campos, que hoje concentra mais de 60% do óleo extraído no país. Se o petróleo é extraído a dois mil metros de profundidade de Campos, no pré-sal a profundidade pode chegar entre 5 mil a 7 mil metros em relação à superfície do mar. O que exigirá um outro modelo de exploração.